O padre deixou-lhe no coração um perfume balsâmico e o eco salutar das palavras religiosas. Depois ela experimentou aquela espécie de satisfação que alegra o prisioneiro quando, tendo reconhecido a profundeza de sua solidão e o peso de suas cadeias, encontra um vizinho de cela que bate à parede transmitindo-lhe um som pelo qual se exprimem pensamentos comuns. Tinha agora um confidente inesperado. Mas logo recaiu em suas amargas contemplações e disse a si mesma, como o prisioneiro, que um companheiro de dor não aliviaria nem suas penas nem seu futuro. O cura não quisera inquietar demais, numa primeira visita, uma dor tão egoísta; mas esperava, graças à sua arte, poder fazer avançar a religião numa segunda conversa. Dois dias depois, com efeito, retornou e a acolhida da marquesa provou-lhe que sua visita era desejada.

– E então, senhora marquesa, disse o velho, refletiu um pouco sobre a massa de sofrimentos humanos? Elevou os olhos para o céu? Viu nele a imensidade de mundos que, ao diminuírem nossa importância, ao esmagarem nossas vaidades, tornam pequenas nossas dores?...

– Não, senhor, disse ela. As leis sociais pesam-me demais no coração e dilaceram-me muito fortemente para que eu possa elevar-me ao céu. Mas as leis talvez não sejam tão cruéis quanto os costumes da sociedade. Oh! a sociedade!

– Senhora, devemos obedecer a ambos: a lei é a palavra, e os costumes são as ações da sociedade.

– Obedecer à sociedade?... retomou a marquesa deixando escapar um gesto de horror. Nossos males vêm todos daí, meu senhor! Deus não fez nenhuma lei de infelicidade; mas os homens, ao reunirem-se, falsearam sua obra. Nós, mulheres, somos mais maltratadas pela civilização do que o seríamos pela natureza. A natureza nos impõe sofrimentos físicos que os homens não suavizaram, e a civilização desenvolveu sentimentos que eles atraiçoam incessantemente. A natureza elimina os seres fracos, os homens os condenam a viver para entregá-los a uma constante infelicidade. O casamento, instituição sobre a qual se apoia hoje a sociedade, impõe seu peso somente a nós, mulheres: para o homem a liberdade, para nós os deveres. Dedicamos a eles toda a nossa vida, eles dedicam a nós apenas raros instantes. Enfim, o homem faz uma escolha enquanto submetemo-nos cegamente. Oh! para o senhor posso dizer tudo. Pois bem, o casamento, tal como é praticado hoje, parece-me uma prostituição legal. Daí nasceram meus sofrimentos. Mas, entre as criaturas infelizes tão fatalmente casadas, só eu devo guardar o silêncio. Só eu sou a autora do mal, eu quis meu casamento!

Ela parou, derramou lágrimas amargas e ficou silenciosa.

– Nessa profunda miséria, em meio a esse oceano de dor, prosseguiu, eu havia encontrado um banco de areia onde pôr os pés, onde podia sofrer em paz; um furacão arrastou tudo. Eis-me sozinha, sem apoio, fraca demais contra as tempestades.

– Jamais somos fracos quando Deus está conosco, disse o padre. Aliás, se a senhora não tem afetos a satisfazer neste mundo, não terá deveres a cumprir?

– Sempre os deveres!, ela exclamou com certa impaciência. Mas onde estão para mim os sentimentos que nos dão a força de cumpri-los? Senhor, nada sai do nada ou nada se faz por nada é uma das leis mais justas da natureza tanto moral quanto física. Acaso as árvores produziriam folhas sem a seiva que as faz nascer? A alma também tem sua seiva! Em mim, a seiva secou na fonte.

– Não lhe falarei dos sentimentos religiosos que engendram a resignação, disse o cura; mas a maternidade, senhora, será que ela não é...?

– Um momento!, disse a marquesa. Com o senhor serei verdadeira. Oh! não posso sê-lo agora com ninguém, estou condenada à falsidade; a sociedade exige contínuas dissimulações e nos ordena, sob pena de opróbrio, a obedecer a suas convenções. Existem duas maternidades, senhor. Eu ignorava no passado essas distinções; hoje sei que existem.