Se, por outra parte, nós considerarmos os Tipos persistentes do ponto de vista da hipótese de as espécies, em cada época, serem o resultado da modificação gradual das espécies preexistentes, hipótese que, posto que não provada, e tristemente XVI

comprometida por alguns dos seus aderentes, é ainda a única a que a fisiologia presta um apoio favorável, a existência destes tipos persistentes pareceria demonstrar que a extensão das modificações que os seres vivos devem ter durante os tempos geológicos é fraca relativamente à série total de transformações pelas quais têm passado». Em Dezembro de 1859, o Dr. Hooker publicou a sua Introduction to the Australian Flora; na primeira parte desta magnífica obra, admite a verdade da descendência e das modificações das espécies, e apoia esta doutrina com grande número de observações originais.

A primeira edição inglesa da presente obra foi publicada a

24 de Novembro de 1859, e a segunda a 7 de Janeiro de 1860. INTRODUÇÃO

As relações geológicas que existem entre a fauna actual e a fauna extinta da América meridional, assim como certos factos relativos à distribuição dos seres organizados que povoam este continente, impressionaram-me profundamente quando da minha viagem a bordo do navio Beagle,1 na qualidade de naturalista. Estes factos, como se verá nos capítulos subsequentes deste volume, parecem lançar alguma luz sobre a origem das espécies-mistério dos mistérios-para empregar a expressão de um dos maiores filósofos. Na minha volta a Inglaterra, em

1837, julguei eu que acumulando pacientemente todos os factos relativos a este assunto, e examinando-os sob todos os pontos de vista, poderia talvez chegar a elucidar esta questão. Depois de cinco anos de um trabalho pertinaz, redigi algumas notas; em seguida, em 1844, resumi estas notas em forma de memória, onde indicava os resultados que me pareciam oferecer algum grau de probabilidade; depois desta época, tenho constantemente trabalhado para o mesmo fim. Escusar-me-á o leitor, assim o espero, de entrar nestas minúcias pessoais; e se o faço, é para provar que não tomei decisão alguma menos pensada. A minha obra está actualmente (1859) quase completa. Ser-me-ão, contudo, necessários alguns anos ainda para a terminar, e, como a minha saúde está longe de ser boa, os meus amigos têm-me aconselhado a publicar o resumo que faz o objecto deste volume. Uma outra razão me tem decidido por

1 A relação da viagem de M. Darwin foi recentemente publicada em francês com o titulo de: «Viagem de um naturalista à volta da Terra», 1 vol. in-8.º, Paris, Reinwald. 2

completo: M. Wallace, que estuda actualmente a história natural no arquipélago malaio, chegou a conclusões quase idênticas às minhas sobre a origem das espécies. Em 1858, este sábio naturalista enviou-me uma memória a este respeito, pedindo-me para a comunicar a sir Charles Lyell, que a enviou à Sociedade Lineana; a memória de M. Wallace apareceu no iii volume do jornal desta sociedade. Sir Charles Lyell e o Dr. Hooker, que estão ao corrente dos meus trabalhos - o Dr. Hooker leu o

extracto do meu manuscrito feito em 1844-aconselharam-me a publicar, ao mesmo tempo que a memória de M. Wallace, alguns extractos das minhas notas manuscritas. A memória que faz o objecto do presente volume é necessariamente imperfeita. Ser-me-á

impossível referir-me a todas as autoridades a quem atribuo certos factos, mas espero que o leitor confiará na minha exactidão. Alguns erros poderão passar, sem dúvida, no meu trabalho, posto que eu tenha tido o máximo cuidado em apoiar-me somente em trabalhos de primeira ordem. Demais, eu deveria limitar-me a indicar as conclusões gerais a que cheguei, citando apenas alguns exemplos, que, julgo eu, bastariam na maior parte dos casos. Ninguém, melhor do que eu, compreende a necessidade de publicar mais tarde minuciosamente todos os factos que servem de base às minhas conclusões; será este o objecto de uma outra obra. Isto é tanto mais necessário quanto, sobre quase todos os pontos, podem invocar-se factos, que, à primeira vista, parecem tender para conclusões absolutamente contrárias àquelas que defendo. Ora, não se pode chegar a um resultado satisfatório a não ser pelo exame dos dois lados da questão e pela discussão dos factos e dos argumentos; é isto coisa impossível nesta obra.

Lamento muito que a falta de espaço me impeça de reconhecer o auxílio generoso que me prestaram muitos naturalistas, dos quais alguns me são pessoalmente desconhecidos.