Ao voltar, Jones caiu dormindo no sofá da sala com o News of the World sobre o rosto; portanto, ao cair da tarde, os animais ainda não haviam comido. Aquilo já era demais. Uma das vacas rebentou a chifradas a porta do celeiro, e os bichos avançaram sobre as tulhas. Nesse momento, Jones acordou. Num átimo, ele e seus quatro peões estavam no celeiro com os chicotes na mão, batendo a torto e a direito. Isso ultrapassou tudo quanto os animais famintos podiam suportar. De comum acordo, muito embora nada fosse planejado, lançaram-se sobre seus verdugos. Jones e os homens viram-se de repente marrados e escoiceados de todo lado. A situação fugira ao controle. Nunca tinham visto os animais daquele jeito, e a súbita revolta de criaturas que eles estavam acostumados a surrar e maltratar à vontade os encheu de pavor. Em poucos instantes largaram de defender-se e deram o fora. Um minuto depois, os cinco voavam pela trilha rumo à estrada, com os bichos no encalço, triunfantes.

A mulher de Jones olhou pela janela do quarto, viu o que ocorria, juntou às pressas alguns haveres numa bolsa de pano e escapuliu da granja por outro caminho. Moisés levantou voo do poleiro e bateu asas atrás dela, grasnando. A essa altura, os animais haviam posto Jones e os peões para fora da granja, fechando atrás deles a porteira das cinco barras. E assim, antes de se darem conta, a Rebelião vencera. Jones fora expulso, e a Granja do Solar era deles.

Durante os primeiros minutos, os bichos mal puderam acreditar na sorte. Seu primeiro ato foi galopar pelos limites da granja, como a ver se nenhum ser humano ficara escondido; depois, correram de volta às casas da granja, para varrer os últimos vestígios do odiado império de Jones. O galpão dos arreios, no fundo dos estábulos, foi arrombado; freios, argolas de nariz, correntes de cachorro, as cruéis facas com que Jones castrava os porcos e os cordeiros, foi tudo atirado no fundo do poço. As rédeas, os cabrestos, os antolhos e os degradantes bornais foram jogados na fogueira que ardia no pátio. O mesmo destino tiveram os relhos. Os bichos saltaram de alegria quando viram os chicotes em chamas. Bola-de-Neve jogou também ao fogo as fitas que enfeitavam as crinas e caudas dos cavalos em dias de feira.

“Fitas”, disse ele, “devem ser consideradas roupas, que são a marca do ser humano. Todos os animais têm de andar nus.”

Ao ouvir isso, Sansão foi buscar o chapeuzinho de palha que usava no verão para proteger suas orelhas das moscas, e o atirou também no fogo.

Em pouco tempo, os bichos destruíram tudo o que lhes recordava Jones. Napoleão conduziu-os de volta ao celeiro e serviu uma ração dupla de milho para todo mundo, dois biscoitos para cada cachorro. Cantaram, então, “Bichos da Inglaterra” do começo ao fim sete vezes, depois deitaram-se e dormiram como nunca.

Porém, como sempre, acordaram de madrugada, e ao lembrar-se do glorioso evento da véspera, correram para a pastagem. A pequena distância, havia um morrete donde se via quase toda a fazenda. Os animais subiram e olharam em volta, à luz clara da manhã. Sim, era deles — tudo o que enxergavam era deles! No êxtase dessa percepção, deram cambalhotas e saltos de contentamento. Rolaram no orvalho, comeram a deliciosa grama do verão, arrancaram torrões de terra e aspiraram aquele rico aroma. Depois fizeram um circuito de inspeção em toda a granja, vistoriando, com muda admiração, a lavoura, o campo de feno, o pomar, a lagoa, o arvoredo.