Há vinte e quatro horas não eram ordenhadas, e tinham os úberes quase estourando. Depois de alguma reflexão, os porcos pediram baldes e ordenharam as vacas razoavelmente bem, pois seus cascos adaptavam-se à tarefa. Tiraram cinco baldes de um leite espumante e cremoso, que muitos dos animais olharam com considerável interesse.

“Que vamos fazer com esse leite?”, perguntou alguém.

“Jones, às vezes, misturava um pouco ao nosso farelo”, disse uma galinha.

“Não vos ocupeis do leite, camaradas!”, exclamou Napoleão, postando-se à frente dos baldes. “Nós trataremos desse assunto. A colheita é mais importante. O camarada Bola-de-Neve vos conduzirá. Eu irei dentro de alguns minutos. Avante, camaradas! O feno espera.”

Os animais rumaram ao campo de feno para o início da colheita, e quando voltaram, à noitinha, perceberam que o leite havia desaparecido.

*

3.

Como trabalharam para juntar aquele feno! Mas valeu o esforço, pois a colheita deu resultado bem melhor do que esperavam.

Por vezes, a tarefa foi dura; os implementos destinavam-se ao uso de humanos, e foi de enorme desvantagem o fato de nenhum bicho poder utilizar ferramentas que exigissem a posição em pé sobre as patas traseiras. Mas os porcos eram tão imaginosos que conseguiam contornar todas as dificuldades. Os cavalos conheciam cada palmo do terreno, e na realidade sabiam ceifar e raspar muito melhor do que Jones e os empregados. Os porcos não trabalhavam, propriamente, mas dirigiam e supervisionavam o trabalho dos outros. Donos de um conhecimento maior, era natural que assumissem a liderança. Sansão e Quitéria atrelavam-se à ceifadeira ou à grade (é claro que não havia mais necessidade de freios nem de rédeas) e andavam pelo campo para lá e para cá, com um porco atrás gritando “Eia, camarada” ou “A volta, agora, camarada”, conforme o caso. E cada animal, até o mais modesto, labutou para colher e juntar o feno. Até os patos e as galinhas ciscavam o dia inteiro sob o sol, carregando no bico pequeninos feixes de feno. Enfim, terminaram a colheita dois dias antes do tempo que Jones e os peões normalmente levavam. Mas, além disso, foi a maior colheita que jamais se realizara ali. Não houve o mínimo desperdício; as galinhas e os patos, com sua vista penetrante, juntaram até o menor talinho. E nenhum animal na granja furtou sequer uma bocada.

Por todo aquele verão o trabalho da granja andou como um relógio. Os bichos, felizes como nunca. Cada bocado de comida constituía um extremo prazer, agora que a comida era realmente deles, produzida por eles e para eles, em vez de ser distribuída em pequenas quantidades por um dono cheio de má vontade. Ausentes os inúteis parasitas humanos, mais sobrava para cada um. Houve também mais lazer, muito embora os animais fossem inexperientes nisso. Encontraram muitas dificuldades — por exemplo, no fim do ano, quando colheram os cereais, foram obrigados a pisá-los, à moda antiga, e a soprar as cascas, pois a granja não possuía uma debulhadeira —, mas os porcos, com a inteligência, e Sansão, com seus músculos fantásticos, sobrepujavam-nas. Sansão era a admiração de todos. Já era trabalhador no tempo de Jones; agora, como que valia por três. Dias houve em que todo o trabalho da granja parecia cair em seu lombo. Da manhã à noite, lá estava ele, puxando e empurrando, sempre no lugar onde o trabalho era mais pesado. Fizera um trato com um dos galos para ser chamado todas as manhãs meia hora mais cedo que os demais, e aproveitava esse tempo em trabalho voluntário no que parecesse mais necessário. Sua solução para cada problema, para cada contratempo, era “Trabalharei mais ainda”, frase que adotara como seu lema particular.

Cada qual trabalhava de acordo com sua capacidade.