Alice no País das Maravilhas

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

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LEWIS CARROLL

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ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

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Tradução

ISABEL DE LORENZO

2.ª edição, revista, São Paulo 2000

Título Original: Alice’s Adventures in Wonderland

ÍNDICE

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ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Capítulo 1

Na Toca Do Coelho

Capítulo 2

O Mar De Lágrimas

Capítulo 3

Uma Corrida Eleitoral E O Longo Rabo De Uma História

Capítulo 4

O Coelho Dá Um Encargo A Bill

Capítulo 5

Conselhos De Uma Lagarta

Capítulo 6

Porco E Pimenta

Capítulo 7

Um Chá De Loucos

Capítulo 8

O Campo De Croquet Da Rainha

Capítulo 9

A História Da Falsa Tartaruga

Capítulo 10

A Quadrilha Da Lagosta

Capítulo 11

Quem Roubou As Tortas?

Capítulo 12

O Depoimento De Alice

CAPÍTULO 1

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NA TOCA DO COELHO

Alice estava começando a se cansar de ficar ali sentada ao lado da irmã no barranco e não ter nada que fazer: uma ou duas vezes espiara o livro que sua irmã estava lendo, mas não tinha figuras nem diálogos.

“E para que serve um livro”, pensou Alice, “sem figuras nem diálogos?” Assim, meditava com seus botões (tanto quanto podia, porque o calor aquele dia era tal que ela se sentia sonolenta e entorpecida) se o prazer de fazer uma guirlanda de margaridas valeria o esforço de levantar-se e colher as margaridas, quando de repente um coelho branco com olhos rosados passou correndo perto dela.

Não havia nada de tão notável nisso; nem Alice achou tão estranho ouvir o Coelho murmurar para si mesmo, “Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Estou muito atrasado!” (quando pensou nisso, bem mais tarde, ocorreu-lhe que deveria ter estranhado; porém, naquele momento, tudo lhe pareceu perfeitamente natural).

Mas quando o Coelho tirou um relógio do bolso do colete, deu uma olhada nele e acelerou o passo, Alice ergueu-se, porque lhe passou pela cabeça que nunca em sua vida tinha visto um coelho de colete e muito menos com relógio dentro do bolso.

Então, ardendo de curiosidade, ela correu atrás dele campo afora, chegando justamente a tempo de vê-lo sumir numa grande toca sob a cerca.

No instante seguinte, Alice entrou na toca atrás dele, sem ao menos pensar em como é que iria sair dali depois.

A toca do coelho, no começo, alongava-se como um túnel, mas de repente abria-se como um poço, tão de repente que Alice não teve um segundo sequer para pensar em parar, antes de se ver caindo no que parecia ser um buraco muito fundo.

Ou o poço era profundo demais, ou ela caía muito devagar, pois teve tempo de sobra durante a queda para olhar em volta e perguntar-se o que iria acontecer em seguida.

Primeiro, tentou olhar para baixo, para ver onde estava indo, mas estava escuro demais para ver qualquer coisa: então, olhou para as paredes do poço e notou que estavam cheias de armários e prateleiras: aqui e ali viu mapas e quadros pendurados.

Enquanto passava, pegou de uma das prateleiras um pote: tinha o rótulo

“GELÉIA DE LARANJA”, mas para seu desapontamento estava vazio: não quis jogar fora o pote, com medo de acertar mortalmente alguém lá embaixo, então, esforçou-se por colocá-lo de volta em uma das prateleiras enquanto passava.

“Bom” pensou Alice, “depois de um tombo desses, não vou achar nada demais cair de uma escada! Todos lá em casa vão pensar que fiquei muito corajosa! Não lhes vou contar nada, mesmo se cair do telhado!” (O que era bem possível que acontecesse).

Caindo, caindo, caindo.

Esta queda não acabaria nunca? “Queria saber quantos quilômetros já desci nesse tempo todo!”, disse em voz alta. “Devo estar chegando perto do centro da terra.

Deixe-me ver... devem ser uns seis mil quilômetros, por aí...” (porque, como se vê, Alice aprendera muitas coisas desse tipo na escola, e embora essa não fosse uma oportunidade lá muito boa para mostrar seus conhecimentos, uma vez que não havia ninguém para escutá-

la, contudo era sempre bom praticar um pouco) “... sim, a distância é mais ou menos essa... mas queria saber qual a Latitude e a Longitude em que estou!” (Alice não tinha a menor idéia do que fosse Latitude, muito menos Longitude, mas achou que eram belas palavras, formidáveis de dizer.) E logo recomeçou. “Queria saber se vou passar direto, através da Terra! Seria engraçado se eu saísse no meio das pessoas que andam de cabeça para baixo! Os Antipáticos, eu acho...” (estava muito feliz que dessa vez não havia ninguém escutando, porque aquela não lhe pareceu a palavra correta) “... mas eu vou ter de perguntar qual o nome do país, é claro. Por favor, minha senhora, aqui é a Nova Zelândia ou é a Austrália?” (e tentou fazer uma mesura enquanto falava — imaginem, fazer uma mesura enquanto se está caindo! Vocês conseguiriam?) “E que menina ignorante ela vai pensar que eu sou, por perguntar isso! Não, melhor não perguntar nada: quem sabe eu veja escrito em algum lugar.” Caindo, caindo, caindo.

Não havia nada a fazer, e então Alice começou a falar outra vez. “Acho que Diná vai sentir muito a minha falta esta noite!” (Diná era sua gata.) “Espero que se lembrem do seu pires de leite na hora do lanche. Diná, querida! Queria que você estivesse aqui caindo comigo! Não tem nenhum rato no ar, infelizmente, mas você bem que poderia pegar um morcego... é quase igual a um rato, você sabe. Será que gatos comem morcegos?” E aqui Alice começou a ficar com sono, e continuou dizendo consigo mesma, numa espécie de devaneio: “Gatos comem morcegos? Gatos comem morcegos?” e, às vezes: “Morcegos comem gatos?”, pois, como ela não conseguia responder à pergunta, não importava muito a ordem em que era colocada. Sentiu que estava adormecendo e começou a sonhar que passeava de mãos dadas com Diná, dizendo-lhe, muito séria: “Agora, Diná, diga-me a verdade: você já comeu algum morcego?”, quando subitamente — catapimba! — caiu em cima de um monte de gravetos e folhas secas. A queda tinha acabado. Alice não estava nem um pouco machucada, por isso levantou-se num instante: olhou para cima, mas estava tudo escuro.

Diante dela havia outro longo corredor, e o Coelho Branco ainda estava à vista, correndo apressado.