Dez metros de falésia vertical é algo que não assusta diabos do calibre de Lupin.

Encerrou-os ali, levou as chaves e disse ao barão:

– E agora, ao nosso posto.

Ele havia escolhido, para passar a noite, uma pequena peça embutida na espessura da muralha, entre as duas portas principais, e que outrora fora o refúgio do vigia. Um postigo se abria para a ponte, outro para o pátio. Num canto se via como que o orifício de um poço.

– Pelo que me disse, sr. barão, esse poço era a única entrada subterrânea e há muito tempo foi fechado.

– Sim.

– Então, a menos que haja outra entrada que todos ignoram exceto Arsène Lupin, o que parece pouco provável, estamos tranquilos.

Alinhou três cadeiras, estendeu-se confortavelmente sobre elas, acendeu o cachimbo e suspirou:

– Na verdade, sr. barão, aceitei uma tarefa tão elementar como esta porque estou querendo muito acrescentar um andar à casinha onde devo terminar meus dias. Contarei a história ao amigo Lupin, ele vai morrer de rir.

Mas o barão não riu. Com o ouvido atento, ele interrogava o silêncio com uma inquietação crescente. De tempo em tempo se inclinava sobre o poço e mergulhava na abertura um olhar ansioso.

Soaram onze horas, meia-noite, uma da madrugada.

De repente, ele pegou o braço de Ganimard, que despertou num sobressalto:

– O senhor ouviu?

– Sim.

– O que foi isso?

– Era eu que estava roncando!

– Não! Escute...

– É, de fato, parece a buzina de um automóvel.

– E então?

– Bem, é pouco provável que Lupin se sirva de um automóvel como um aríete para demolir seu castelo. Portanto, sr. barão, volte a seu lugar... estou querendo dormir de novo. Boa noite.

Foi o único sinal. Ganimard pôde retomar o sono interrompido, e o barão não ouviu mais que seu ronco sonoro e regular.

Ao raiar do dia, eles saíram do abrigo. Uma grande paz serena, a paz da manhã junto à água do rio, envolvia o castelo. Cahorn, radiante de alegria, e Ganimard, sempre tranquilo, subiram a escada. Nenhum ruído. Nada suspeito.

– O que eu lhe disse, sr. barão? No fundo, eu não devia ter aceito... Sinto-me envergonhado...

Pegou as chaves e entrou na galeria.

Nas duas cadeiras, curvados, de braços caídos, os dois agentes dormiam.

– Seus filhos de um cão! – grunhiu o inspetor.

No mesmo momento o barão deu um grito:

– Os quadros!... O aparador!...

Ele balbuciava, quase sem ar, com a mão estendida para os lugares vazios, para as paredes nuas onde se viam os pregos, onde pendiam inúteis cordões. O Watteau, desaparecido! Os Rubens, retirados! As tapeçarias, despregadas! As vitrines, esvaziadas de suas joias.

– E meus candelabros Luís XV!... e o castiçal do Regente!... e minha Virgem do século XII!...

Ele corria de um lado para outro, atônito, desesperado. Lembrava os preços de aquisição, somava as perdas sofridas, acumulava números, tudo isso desordenadamente, em palavras indistintas, em frases inacabadas. E tremia, numa convulsão de raiva e de dor. Parecia um homem arruinado a quem só resta estourar os miolos.

Se algo pudesse tê-lo consolado, teria sido ver o estupor de Ganimard. Ao contrário do barão, o inspetor não se mexia. Parecia petrificado, examinando as coisas com olhos vagos. As janelas? Fechadas. As fechaduras das portas? Intactas.