Parei na entrada, observando-o por um momento, enquanto algo dentro de mim me censurava.
Tornei a entrar, com a mão no bolso… e… o coração na boca.
“Adeus, Bartleby! estou indo embora… adeus, e que Deus o abençoe; pegue isto”, pus algo na sua mão. Mas ele deixou cair. E depois, por mais estranho que possa parecer, chorei por aquele de quem tanto queria me livrar.
Instalado em meu novo escritório, mantive a porta trancada por poucos dias, e me sobressaltava a cada passo que ouvia no corredor. Quando, após uma pequena ausência, voltava ao meu local de trabalho, eu parava na soleira por um instante, escutando com atenção, antes de enfiar a chave na fechadura. Mas eram receios infundados. Bartleby nunca apareceu.
Tudo ia bem, pensei, quando fui visitado por um desconhecido de aparência perturbada, perguntando se eu era a pessoa que recentemente havia ocupado o escritório na Wall Street, no. ***.
Respondi que sim, pressentindo alguma coisa.
“Então, meu caro”, disse o desconhecido, que era advogado, “o senhor é responsável pelo homem que deixou lá. Ele se recusa a fazer cópias; ele se recusa a fazer qualquer coisa; diz que acha melhor não; ele se recusa a sair de lá”.
“Lamento muito, senhor”, eu disse, com uma falsa tranquilidade, tremendo por dentro, “mas, na verdade, o homem a quem o senhor se refere não é nada meu… não é meu parente e nem um aprendiz, não pode me atribuir responsabilidade por ele”.
“Pelo amor de Deus, quem é ele?”
“Não posso dizer com certeza. Nada sei sobre ele. Contratei-o outrora como copista, mas há muito tempo não trabalha mais para mim.”
“Cuidarei dele, então. Bom dia, senhor.”
Passaram-se vários dias, e eu não soube mais nada. Sentia por vezes o impulso caridoso de ir até lá e visitar o pobre Bartleby, mas um certo melindre, não sei bem do quê, me detinha.
Quando mais de uma semana transcorreu sem notícias, pensei que tudo tinha se acabado para ele. Mas, ao chegar na minha sala no dia seguinte, encontrei várias pessoas esperando à minha porta, em estado de grande agitação.
“É esse o homem… lá vem ele”, gritou o que estava na frente, a quem eu reconheci como sendo o advogado que me visitara antes sozinho.
“O senhor precisa levá-lo, imediatamente”, bradou uma pessoa imponente, avançando para mim. Era o proprietário do no. *** da Wall Street. “Estes senhores, meus inquilinos, não aguentam mais.”
Apontando para o advogado, acrescentou: “O sr. B *** mandou-o embora, mas ele insiste em rondar o edifício, sentando-se no corrimão da escada durante o dia e dormindo na entrada de noite. Todos estão preocupados; os clientes estão abandonando os escritórios; há receios de um motim; o senhor tem que fazer alguma coisa, sem demora”.
Aterrorizado por esta avalanche, recuei, ansioso por entrar nas minhas novas instalações. Em vão insisti que Bartleby nada tinha a ver comigo – não mais do que com qualquer outra pessoa. Em vão: eu era a última pessoa relacionada a ele e teria que prestar contas. Receoso de que me acusassem nos jornais (como um dos presentes chegou a ameaçar), pensei no caso e, por fim, declarei que se o advogado me permitisse uma entrevista confidencial com o escrivão no seu escritório, faria o possível naquela tarde para livrá-los do incômodo do qual se queixavam.
Subindo as escadas do meu antigo local de trabalho, lá estava Bartleby sentado, em silêncio, no corrimão do patamar.
“O que você está fazendo aqui, Bartleby?”, eu disse.
“Estou sentado no corrimão”, respondeu, calmo.
Levei-o para o escritório do advogado, que nos deixou a sós.
“Bartleby”, eu disse, “você sabe que está me causando muitos problemas ao insistir em ocupar a entrada, depois de ter sido mandado embora do escritório?”.
Nenhuma resposta.
“Ora, das duas uma. Ou você faz alguma coisa, ou alguma coisa tem que ser feita a você. Que tipo de trabalho você gostaria de fazer? Gostaria de voltar a fazer cópias para alguém?”
“Não. Acho melhor não mudar nada.”
“Gostaria de um emprego numa mercearia?”
“Fica-se muito enclausurado num lugar desses. Não, não gostaria de tal emprego. Mas não sou exigente.”
“Muito enclausurado!”, exclamei, “logo você que fica enclausurado o tempo todo!”.
“Acho melhor não ter esse emprego”, replicou, como se quisesse encerrar o assunto.
“Que lhe parece um emprego em um bar? Não precisaria forçar a vista.”
“Não gostaria de jeito nenhum. Mas, como disse antes, não sou exigente.”
A sua loquacidade inesperada me inspirou. Voltei à carga.
“Pois bem, gostaria de viajar pelo país, coletando faturas para negociantes? Isso seria bom para sua saúde.”
“Não, acho melhor fazer outra coisa.”
“Que tal ir para a Europa como acompanhante, para distrair algum jovem com a sua conversa… não lhe serviria?”
“De modo algum. Parece-me que não há nada de concreto nisso. Gosto de estabilidade.
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