E eu deliro... De repente pauso no que penso... Fito-te

E o teu silêncio é uma cegueira minha... Fito-te e sonho...

Há coisas rubras e cobras no modo como medito-te,

E a tua ideia sabe à lembrança de um sabor de medonho...

 

Para que não ter por ti desprezo? Porque não perdê-lo?...

Ah, deixa que eu te ignore... O teu silêncio é um leque —

Um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo,

Mas mais belo é não o abrir, para que a Hora não peque...

 

Gelaram todas as mãos cruzadas sobre todos os peitos...

Murcharam mais flores do que as que havia no jardim...

O meu amar-te é uma catedral de silêncios eleitos,

E os meus sonhos uma escada sem princípio mas com fim...

 

Alguém vai entrar pela porta... Sente-se o ar sorrir...

Tecedeiras viúvas gozam as mortalhas de virgens que tecem...

Ah, o teu tédio é uma estátua de uma mulher que há de vir,

O perfume que os crisântemos teriam, se o tivessem...

 

É preciso destruir o propósito de todas as pontes,

Vestir de alheamento as paisagens de todas as terras,

Endireitar à força a curva dos horizontes,

E gemer por ter de viver, como um ruído brusco de serras...

 

Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!...

Saber que continuará a haver o mesmo mundo amanhã — como nos desalegra!...

Que o meu ouvir o teu silêncio não seja nuvens que atristem

O teu sorriso, anjo exilado, e o teu tédio, auréola negra...

 

Suave. como ter mãe e irmãs, a tarde rica desce...

Não chove já, e o vasto céu é um grande sorriso imperfeito...

A minha consciência de ter consciência de ti é uma prece,

E o meu saber-te a sorrir uma flor murcha a meu peito...

 

Ah, se fôssemos duas figuras num longínquo vitral!...

Ah, se fôssemos as duas cores de uma bandeira de glória!...

Estátua acéfala posta a um canto, poeirenta pia baptismal,

Pendão de vencidos tendo escrito ao centro este lema — Vitória!

 

O que é que me tortura?... Se até a tua face calma

Só me enche de tédios e de ópios de ócios medonhos...

Não sei... Eu sou um doido que estranha a sua própria alma...

Eu fui amado em efígie num país para além dos sonhos...

 

1913

 

 

[Dobre]

 

Peguei no meu coração

E pu-lo na minha mão,

 

Olhei-o como quem olha

Grãos de areia ou uma folha.

 

Olhei-o pávido e absorto

Como quem sabe estar morto;

 

Com a alma só comovida

Do sonho e pouco da vida.

 

1913

 

 

[Além-Deus]

 

I – Abismo

 

Olho o Tejo, e de tal arte

Que me esquece olhar olhando,

E súbito isto me bate

De encontro ao devaneando —

O que é ser-rio, e correr?

O que é está-lo eu a ver?

 

Sinto de repente pouco,

Vácuo, o momento, o lugar. Tudo de repente é oco —

Mesmo o meu estar a pensar.

Tudo — eu e o mundo em redor —

Fica mais que exterior.

 

Perde tudo o ser, ficar,

E do pensar se me some.

Fico sem poder ligar

Ser, ideia, alma de nome

A mim, à terra e aos céus...

 

E súbito encontro Deus.

 

 

II – Passou

 

Passou, fora de Quando,

De Porquê, e de Passando...,

 

Turbilhão de Ignorado,

Sem ter turbilhonado...,

 

Vasto por fora do Vasto

Sem ser, que a si se assombra...,

 

O universo é o seu rasto...

Deus é a sua sombra.

 

 

III – A voz de Deus

 

Brilha uma voz na noite...

De dentro de Fora ouvi-a...

Oh Universo, eu sou-te...

Oh, o horror da alegria

Deste pavor, do archote

Se apagar, que me guia!

 

Cinzas de ideia e de nome

Em mim, e a voz: Oh mundo,

Sermente em ti eu sou-me...

Mero eco de mim, me inundo

De ondas de negro lume

Em que para Deus me afundo.

 

 

IV – A queda

 

Da minha ideia do mundo

Caí...

Vácuo além de profundo,

Sem ter Eu nem Ali...

 

Vácuo sem si-próprio, caos

De ser pensado como ser...

Escada absoluta sem degraus...

Visão que se não pode ver

 

Além-Deus! Além-Deus! Negra calma...

Clarão de Desconhecido...

Tudo tem outro sentido, ó alma,

Mesmo o ter-um-sentido...

 

 

V – Braço sem corpo brandindo um gládio

 

Entre a árvore e o vê-la

Onde está o sonho?

Que arco da ponte mais vela

Deus?... E eu fico tristonho

Por não saber se a curva da ponte

É a curva do horizonte...

 

Entre o que vive e a vida

Para que lado corre o rio?

Árvore de folhas vestida —

Entre isso e Árvore há fio?

Pombas voando — o pombal

Está-lhes sempre à direita, ou é real?

 

Deus é um grande Intervalo,

Mas entre quê e quê?...

Entre o que digo e o que calo

Existo? Quem é que me vê?

Erro-me... E o pombal elevado

Está em torno na pomba, ou de lado?

 

1913 (?)

 

 

[Chuva oblíqua]

 

I

 

Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito

E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios

Que largam do cais arrastando nas águas por sombra

Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...

 

O porto que sonho é sombrio e pálido

E esta paisagem é cheia de sol deste lado...

Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio

E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...

 

Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...

O vulto do cais é a estrada nítida e calma

Que se levanta e se ergue como um muro,

E os navios passam por dentro dos troncos das árvores

Com uma horizontalidade vertical,

E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...

 

Não sei quem me sonho...

Súbito toda a água do mar do porto é transparente

E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,

Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,

E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa

Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem

E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,

E passa para o outro lado da minha alma...

 

 

II

 

Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,

E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...

 

Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,

E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro...

 

O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes

Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...

 

Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça

E sente-se chiar a água no facto de haver coro...

 

A missa é um automóvel que passa

Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...

Súbito vento sacode em esplendor maior

A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo

Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe

Com o som de rodas de automóvel...

 

E apagam-se as luzes da igreja

Na chuva que cessa...

 

 

III

 

A Grande Esfinge do Egito sonha por este papel dentro...

Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente

E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...

 

Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena

Ser o perfil do rei Queóps...

De repente paro...

Escureceu tudo... Caio por um abismo feito de tempo...

 

Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste candeeiro

E todo o Egito me esmaga de alto através dos traços que faço com a pena...

 

Ouço a Esfinge rir por dentro

O som da minha pena a correr no papel...

Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,

Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,

E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve

Jaz o cadáver do rei Queóps, olhando-me com olhos muito abertos,

E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo

E uma alegria de barcos embandeirados erra

Numa diagonal difusa

Entre mim e o que eu penso...

 

Funerais do rei Queóps em ouro velho e Mim!...

 

 

IV

 

Que pandeiretas o silêncio deste quarto!...

As paredes estão na Andaluzia...

Há danças sensuais no brilho fixo da luz...

 

De repente todo o espaço para....

Para, escorrega, desembrulha-se...,

E num canto do teto, muito mais longe do que ele está,

Abrem mãos brancas janelas secretas

E há ramos de violetas caindo

De haver uma noite de Primavera lá fora

Sobre o eu estar de olhos fechados...

 

 

V

 

Lá fora vai um redemoinho de sol os cavalos do carrossel...

Árvores, pedras, montes, bailam parados dentro de mim...

Noite absoluta na feira iluminada, luar no dia de sol lá fora,

E as luzes todas da feira fazem ruído dos muros do quintal...

Ranchos de raparigas de bilha à cabeça

Que passam lá fora, cheias de estar sob o sol,

Cruzam-se com grandes grupos peganhentos de gente que anda na feira,

Gente toda misturada com as luzes das barracas com a noite e com o luar,

E os dois grupos encontram-se e penetram-se

Até formarem só um que é os dois...

A feira e as luzes da feira e a gente que anda na feira,

 

E a noite que pega na feira e a levanta ao ar,

Andam por cima das copas das árvores cheias de sol,

Andam visivelmente por baixo dos penedos que luzem ao sol,

Aparecem do outro lado das bilhas que as raparigas levam à cabeça,

 

E toda esta paisagem de Primavera é a lua sobre a feira,

E toda a feira com ruídos e luzes é o chão deste dia de sol...

 

De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira

E, misturado, o pó das duas realidades cai

Sobre as minhas mãos cheias de desenhos de portos

Com grandes naus que se vão e não pensam em voltar...

Pó de oiro branco e negro sobre os meus dedos...

As minhas mãos são os passos daquela rapariga que abandona a feira,

Sozinha e contente como o dia de hoje...

 

 

VI

 

O maestro sacode a batuta,

E lânguida e triste a música rompe...

 

Lembra-me a minha infância, aquele dia

Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal

 

Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado

O deslizar dum cão verde, e do outro lado

Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo,

 

Prossegue a música, e eis na minha infância

De repente entre mim e o maestro, muro branco,

Vai e vem a bola, ora um cão verde,

Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...

 

Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância

Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,

Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal

Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo...

(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)

 

Atiro-a de encontro à minha infância e ela

Atravessa o teatro todo que está aos meus pés

A brincar com um jockey amarelo e um cão verde

E um cavalo azul que aparece por cima do muro

Do meu quintal... E a música atira com bolas

À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos

De batuta e rotações confusas de cães verdes

E cavalos azuis e jockeys amarelos...,

Todo o teatro é um muro branco de música

Por onde um cão verde corre atrás da minha saudade

Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...

 

E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,

Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa

Com orquestras a tocar música,

Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei

E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...

 

E a música cessa como um muro que desaba,

A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,

E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,

Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,

E curva-se sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,

Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...

 

1914 (?)

 

 

[As tuas mãos terminam em segredo]

 

As tuas mãos terminam em segredo.

Os teus olhos são negros e macios

Cristo na cruz os teus seios (?) esguios

E o teu perfil princesas no degredo...

 

Entre buxos e ao pé de bancos frios

Nas entrevistas alamedas, quedo

O vento põe seu arrastado medo

Saudoso a longes velas de navios.

 

Mas quando o mar subir na praia e for

Arrasar os castelos que na areia

As crianças deixaram, meu amor,

 

Será o haver cais num mar distante...

Pobre do rei pai das princesas feias

No seu castelo à rosa do Levante!

 

1914

 

 

[Canção]

 

Elfos ou gnomos tocam?...

Roçam nos pinheirais

Sombras e bafos leves

De ritmos musicais...

 

Ondulam como em voltas

De estradas não sei onde,

Ou como alguém que entre árvores

Ora se mostra ou esconde...

 

Forma longínqua e incerta

Do que eu nunca terei...

Mal ouço e quase choro...

Porque choro não sei...

 

Tão ténue melodia

Que mal sei se ela existe

Ou se é só o crepúsculo,

Os pinhais e eu estar triste...

 

Mas cessa, como uma brisa,

Esquece a forma aos seus ais,

E agora não há mais música

Do que a dos pinheirais...

 

1914

 

 

[Serena voz imperfeita]

 

Serena voz imperfeita, eleita

Para falar aos deuses mortos —

A janela que falta ao teu palácio deita

Para o Porto todos os portos.

 

Faísca da ideia de uma voz soando

Lírios nas mãos das princesas sonhadas

Eu sou a maré de pensar-te, orlando

A Enseada todas as enseadas.

 

Brumas marinhas esquinas de sonho...

Janelas dando para Tédio os charcos

E eu fito o meu Fim que me olha, tristonho,

Do convés do Barco todos os barcos...

 

1914

 

 

[Uns versos quaisquer]

 

Vive o momento com saudade dele

Já ao vivê-lo...

Barcas vazias, sempre nos impele

Como a um solto cabelo

Um vento para longe, e não sabemos,

Ao viver, que sentimos ou queremos...

 

Demo-nos pois a consciência disto

Como de um lago

Posto em paisagens de torpor mortiço

Sob um céu ermo e vago,

Que a nossa consciência de nós seja

Uma coisa que nada já deseja...

 

Assim idênticos à hora toda

Em seu pleno labor,

Nossa vida será nossa anteboda:

Não nós, mas uma cor,

Um perfume, um meneio de arvoredo,

E a morte não virá nem tarde ou cedo...

 

Porque o que importa é que já nada importe...

Nada nos vale

Que se debruce sobre nós a Sorte,

Ou, tênue e longe, cale

Seus gestos... Tudo é o mesmo... Eis o momento...

Sejamo-lo... Pra que o pensamento?...

 

1914

 

 

[Como a noite é longa!]

 

Como a noite é longa!

Toda a noite é assim...

Senta-te, ama, perto

Do leito onde esperto.

Vem pra o pé de mim...

 

Amei tanta coisa...

Hoje nada existe.

Aqui ao pé da cama

Canta-me, minha ama,

Uma canção triste.

 

Era uma princesa

Que amou... Já não sei...

Como estou esquecido!

Canta-me ao ouvido

E adormecerei...

 

Que é feito de tudo?

Que fiz eu de mim?

Deixa-me dormir,

Dormir a sorrir

E seja isto o fim.

 

1914

 

 

[Bate a luz no cimo]

 

Bate a luz no cimo

Da montanha, vê...

Sem querer, eu cismo

Mas não sei em quê...

 

Não sei que perdi

Ou que não achei...

Vida que vivi,

Que mal eu a amei!...

 

Hoje quero tanto

Que o não posso ter.

De manhã há o pranto

E ao anoitecer.

 

Tomara eu ter jeito

Para ser feliz...

Como o mundo é estreito,

E o pouco que eu quis!

 

Vai morrendo a luz

No alto da montanha...

Como um rio a flux

A minha alma banha.

 

Mas não me acarinha,

Não me acalma nada...

Pobre criancinha

Perdida na estrada!...

 

1914

 

 

[Saber? Que sei eu?]

 

Saber? Que sei eu?

Pensar é descrer.

— Leve e azul é o céu —

Tudo é tão difícil

De compreender!...

 

A ciência, uma fada

Num conto de louco...

— A luz é lavada —

Como o que nós vemos

É nítido e pouco!

 

Que sei eu que abrande

Meu anseio fundo?

Ó céu real e grande,

Não saber o modo

De pensar o mundo!

 

1914

 

 

[Vai redonda e alta a lua]

 

Vai redonda e alta

A lua. Que dor

É em mim um amor?...

Não sei que me falta...

 

Não sei o que quero.

Nem posso sonhá-lo...

Como o luar é ralo

No chão vago e austero!...

 

Ponho-me a sorrir

Pra a ideia de mim...

E tão triste, assim

Como quem está a ouvir

 

Uma voz que o chama

Mas não sabe donde

(Voz que em si se esconde)

E Só a ela ama...

 

E tudo isto é o luar

E a minha dor

Tornado exterior

Ao meu meditar...

 

Que desassossego!

Que inquieta ilusão!

E esta sensação

Oca, de ser cego

 

No meu pensamento,

Na rainha vontade...

Ah, a suavidade

Do luar sem tormento

 

Batendo na alma

De quem só sentisse

O luar, e existisse

Só pra a sua calma.

 

1914

 

 

[Sopra demais o vento]

 

Sopra demais o vento

Para eu poder descansar...

Há no meu pensamento

Qualquer coisa que vai parar...

 

Talvez essa coisa da alma

Que acha real a vida...

Talvez esta coisa calma

Que me faz a alma vivida...

 

Sopra um vento excessivo...

Tenho medo de pensar...

O meu mistério eu avivo

Se me perco a meditar.

 

Vento que passa e esquece,

Poeira que se ergue e cai...

Ai de mim se eu pudesse

Saber o que em mim vai!

 

1914

 

 

[Nenhuma chuva cai...]

 

Chove?... Nenhuma chuva cai...

Então onde é que eu sinto um dia

Em que o ruído da chuva atrai

A minha inútil agonia?

 

Onde é que chove, que eu o ouço?

Onde é que é triste, ó claro céu?

Eu quero sorrir-te, e não posso,

Ó céu azul, chamar-te meu...

 

E o escuro ruído da chuva

É constante em meu pensamento.

Meu ser é a invisível curva

Traçada pelo som do vento...

 

E eis que ante o sol e o azul do dia,

Como se a hora me estorvasse,

Eu sofro... E a luz e a sua alegria

Cai aos meus pés como um disfarce.

 

Ah, na minha alma sempre chove.

Há sempre escuro dentro em mim.

Se escuto, alguém dentro em mim ouve

A chuva, como a voz de um fim...

 

Quando é que eu serei da tua cor,

Do teu plácido e azul encanto,

Ó claro dia exterior,

Ó céu mais útil que o meu pranto?

 

1914

 

 

[Ameaçou chuva]

 

Ameaçou chuva. E a negra

Nuvem passou sem mais...

Todo o meu ser se alegra

Em alegrias iguais.

 

Nuvem que passa...