As boas maneiras lhe haviam sido impostas pelas gentis repreensões maternas e pela disciplina mais severa de sua babá negra, Mammy;1 os olhos, entretanto, lhe pertenciam.

De cada lado dela, os gêmeos se reclinavam confortavelmente em suas cadeiras, olhos apertados sob a luz do sol, segurando copos altos decorados com folhas de hortelã, enquanto riam e conversavam; as longas pernas, com botas até os joelhos, cruzavam-se com negligência, revelando os músculos construídos em cima da sela. Dezenove anos, 1,85m, ossos longos e robustos, rostos bronzeados e cabelos castanho-avermelhados. Os olhos eram alegres e arrogantes, e eles vestiam-se com idênticos casacos azuis e culotes cor de mostarda. Eram tão iguais quanto dois caroços de algodão.

Lá fora, o sol do fim de tarde se inclinava sobre o pátio, iluminando os botões brancos dos alfeneiros contra a relva nova. Os cavalos dos gêmeos estavam amarrados no caminho de entrada, animais grandes, castanho-avermelhados como os cabelos de seus donos; e, em torno de suas patas, altercava-se a matilha de esbeltos e nervosos cães de caça que sempre acompanhava Stuart e Brent. Um pouco distanciado, como convém a um aristocrata, estava um dálmata, focinho descansando sobre as patas, pacientemente esperando que os rapazes fossem para casa jantar.

Entre os cães, os cavalos e os gêmeos, havia uma afinidade mais profunda do que a que os rapazes dedicavam a suas companhias constantes. Eram todos animais saudáveis, irrefletidos, jovens. Os rapazes eram afáveis, elegantes, fogosos, tão bravos quanto os cavalos que montavam. Bravos e perigosos, mas também dóceis com aqueles que soubessem lidar com eles.

Embora nascidos com as facilidades da vida de fazendeiros, atendidos em todas as necessidades desde a infância, a fisionomia dos três na varanda não era relapsa nem meiga. Tinham o vigor e a prontidão da gente do campo, que passa a vida inteira ao ar livre, sem se preocupar com as tolices dos livros. A vida no condado de Clayton, na Geórgia, ainda era nova e, de acordo com os padrões de Augusta, Savannah e Charleston, um pouco rústica. As regiões mais sossegadas e antigas do sul menosprezavam os georgianos do norte, mas lá a falta dos refinamentos da educação clássica não implicava vergonha, contanto que um homem tivesse tino para o que importava. E cultivar um bom algodão, montar bem, acertar o alvo, dançar com leveza, acompanhar as damas com elegância e saber beber como um cavalheiro era o que importava.

Nesses quesitos os gêmeos se sobressaíam, assim como eram notórios em sua igualmente extraordinária incapacidade de assimilar qualquer coisa contida entre as capas dos livros. Embora sua família possuísse mais dinheiro, mais cavalos e mais escravos do que qualquer outra no condado, os rapazes sabiam menos gramática que a maioria de seus pobres vizinhos caipiras.

Era precisamente por esse motivo que Stuart e Brent passavam o tempo na varanda de Tara naquela tarde de abril. Tinham acabado de ser expulsos da Universidade da Geórgia, a quarta que lhes dava um pontapé em dois anos; e seus irmãos mais velhos, Tom e Boyd, tinham voltado para casa com eles, pois se recusavam a permanecer em uma instituição onde os gêmeos não fossem bem-vindos. Stuart e Brent consideravam aquela última expulsão uma piada, e Scarlett, que por vontade própria não abrira um livro desde que deixara a Academia Feminina de Fayetteville no ano anterior, achava aquilo tão divertido quanto eles.

— Eu bem sei que vocês dois não se importam com a expulsão, tampouco Tom — disse ela. — Mas e Boyd? Ele parece disposto a se formar, e vocês o arrancaram das universidades da Virgínia, do Alabama e da Carolina do Sul, e agora da Geórgia. Neste ritmo ele nunca vai conseguir.

— Ah, ele pode ler sobre Direito no escritório do juiz Parmalee, em Fayetteville — respondeu Brent, indiferente. — Além do mais, isso não importa muito. De qualquer jeito, teríamos de voltar para casa antes que o semestre acabasse.

— Por quê?

— A guerra, boba! A guerra vai começar a qualquer momento. E você não acha que algum de nós continuaria na faculdade durante uma guerra, não é?

— Vocês sabem que não vai haver guerra alguma — disse Scarlett, entediada. — É tudo conversa. Porque Ashley Wilkes e o pai disseram a papai na semana passada que nossos representantes em Washington chegariam a... a... um acordo amigável com o Sr. Lincoln sobre a Confederação. E, de qualquer jeito, os ianques morrem de medo de lutar contra nós. Não vai haver guerra alguma e estou farta de ouvir falar nisso.

— Não vai haver guerra alguma?! — protestaram os gêmeos, indignados, como se tivessem sido feitos de bobos.

— Ora, doçura, é claro que vai haver uma guerra — disse Stuart. — Os ianques podem estar com medo de nós, mas, depois do jeito como o general Beauregard os expulsou do forte Sumter anteontem, eles vão ter de lutar ou ficar com fama de covardes diante do mundo todo. Sim, porque a Confederação...

Scarlett fez um muxoxo de impaciência.

— Se vocês falarem “guerra” mais uma vez, eu entro em casa e fecho a porta.