— Acho que ele é um tremendo almofadinha.

— Além disso, não é o noivado dele que será anunciado — disse Stuart, triunfante. — É o de Ashley com a irmã de Charlie, a Srta. Melanie!

O rosto de Scarlett não mudou, mas seus lábios ficaram lívidos como os de uma pessoa que tivesse recebido um soco estonteante sem aviso e que, nos primeiros momentos do choque, não se desse conta do acontecido. Sua fisionomia estava tão imóvel enquanto encarava Stuart que ele, nada perspicaz, supôs que ela estivesse meramente surpresa e interessada.

— A Srta. Pitty nos contou que eles não pretendiam fazer o anúncio até o ano que vem, porque a Srta. Melanie não tem passado muito bem; mas, com todos esses rumores de guerra por aí, as duas famílias acharam que seria melhor que eles se casassem logo. Então será anunciado amanhã à noite, no intervalo do jantar. Agora, Scarlett, nós contamos o segredo, então você tem de prometer que vai jantar conosco.

— É claro que vou — disse Scarlett automaticamente.

— E todas as valsas?

— Todas.

— Você é um amor! Aposto que os outros rapazes vão pular de raiva.

— Pois que fiquem com raiva — disse Brent. — Nós dois damos conta deles. Scarlett, sente-se conosco no churrasco ao meio-dia.

— Como?

Stuart repetiu o pedido.

— Claro.

Os gêmeos se entreolharam, radiantes, mas um tanto surpresos. Embora se considerassem os admiradores favoritos de Scarlett, nunca tinham recebido provas desse favorecimento com tanta facilidade. Ela geralmente os fazia implorar e protestar enquanto dava desculpas, recusando-se a dizer sim ou não, rindo se ficassem aborrecidos, mantendo-se distante se eles se zangassem. E ali ela lhes prometera praticamente todo o dia seguinte: sentar-se com eles no churrasco, todas as valsas (e eles providenciariam para que todas as danças fossem valsas!) e o intervalo do jantar. Isso fazia valer a pena terem sido expulsos da universidade.

Cheios de um entusiasmo renovado pelo sucesso, foram ficando, falando sobre o churrasco e o baile, sobre Ashley Wilkes e Melanie Hamilton, interrompendo um ao outro, contando piadas e rindo delas, visivelmente forçando o convite para jantar. Passara-se algum tempo quando perceberam que Scarlett estava calada. A atmosfera tinha mudado um pouco. Os gêmeos só não sabiam bem de que modo, mas o ardor sumira da tarde. Scarlett parecia prestar pouca atenção ao que diziam, embora desse as respostas certas. Sentindo algo que não conseguiam entender, desconcertados e aborrecidos, os gêmeos se esforçaram por algum tempo até se levantarem com relutância, olhando para seus relógios.

O sol estava baixo sobre os campos recém-arados, e as matas altas do outro lado do rio já formavam um vulto de silhueta preta. As andorinhas atravessavam o pátio velozmente, e as galinhas, patos e perus gingavam, pavoneando-se, dispersamente chegando dos campos.

— Jeems! — gritou Stuart.

Logo um negro jovem e alto da idade deles corria sem fôlego em volta da casa rumo aos cavalos amarrados. Jeems era o pajem dos gêmeos e, como os cães, estava sempre com eles. Ele os acompanhara nas brincadeiras da infância e lhes fora dado como presente pelo décimo aniversário. Vendo-o, os cães de caça dos Tarleton se ergueram do pó vermelho e ficaram esperando pelos donos. Os rapazes fizeram uma mesura, apertaram a mão de Scarlett e disseram que estariam nos Wilkes de manhã cedo, esperando por ela. Depois tomaram o caminho, montaram em seus cavalos e, seguidos por Jeems, seguiram pela alameda de cedros a galope, abanando os chapéus e gritando suas despedidas.

Ao fazer a curva da estrada poeirenta que os ocultava de Tara, Brent puxou as rédeas do cavalo a fim de parar sob um arvoredo de alfeneiros. Stuart também parou, e o rapaz negro ficou a alguns passos atrás. Os cavalos, sentindo as rédeas frouxas, esticaram o pescoço para ceifar a tenra grama primaveril, e os pacientes cães deitaram-se de novo na macia poeira vermelha, voltando o olhar cobiçoso para as andorinhas que voavam em círculos na penumbra que se formava. O rosto de Brent, largo e ingênuo, estava intrigado e levemente indignado.

— Ei — disse ele —, você não acha que ela deveria ter nos convidado para jantar?

— Achei que ela iria — disse Stuart. — Fiquei esperando que ela convidasse, mas nada. O que acha disso?

— Não acho nada.