Gritei, corri para o mastro grande, empunhei uma pistola e, enquanto Hands se precipitava de novo contra mim, apertei o gatilho. Infelizmente, a arma não detonou, porque a água do mar umedecera a carga. Irritado, apoiei for-temente a palma das mãos contra o mastro grande e fiquei no expectativa, com os nervos tensos. Israel veio até junto de mim; consegui fugir-lhe urna, duas, três vezes; mas um balanço do Espanhola nos fez cambalear e rolar no chão. Fui o primeiro a levantar-me e, rápido como um.
relâmpago, trepei à barra dos velas, onde pude finalmente tomar fôlego.
A minha rapidez salvou-me, pois, enquanto eu subia pelo cabo das velas, o punhal de Hands fendia o ar a poucos centímetros abaixo de mim; o pirata ficou boquiaberto, com o rosto voltado para cima, pasmado de assombro e de-cepção.
Aproveitando aquela trégua, apressei-me em carregar outra vez as duas pistolas e Hands, que seguia estupefato os meus menores movimentos, começou a compreender que a sorte se virara contra ele ; hesitante, pôs-se todavia a subir lento e penosamente pelos cabos acima, com o punhal entre os dentes.
Então, com uma pistola em cada mão, intimei-o a deter-se. Israel Hands parou e disse-me que se rendia.
Escutava eu sorridente as suas palavras, quando, inopina-damente, urna coisa qualquer cortou os ares: senti uma dor agudo e vi que estava ferido. A surpresa e a dor fizeram com que, involuntária e inconscientemente, eu dispa-rasse as duas pistolas e as deixasse escapar dos mãos.
Mas não caíram sós, pois, com um grito abafado, o con-22
tramestre se precipitou no mar de cabeça para baixo. Livre de Hands, consegui desencravar de mim o punhal e fui ter rápido à coberta da goleta. Estava só e a maré começava a mudar. Debruçando-me da amurada, vi que ali o mar era pouco profundo. Deixei-me então escorregar vagarosamen-te até à água, que mal me chegava à cintura, e alcancei a praia são e salvo.
Caminhando velozmente, cheguei sem demora ao lugar onde encontrara Ben Gunn. Era quase noite e, quando alcancei o morro, divisei o fortim e uma certa claridade. Con-fiante, fui ao encontro do luz, que me parecia de um ver-melho vivo e que de vez em quando diminuía de intensida-de corno o tição de um braseiro prestes a se apagar.
Cheguei à entrada do fortim sem encontrar ninguém e já me preparava para deitar-me, quando um dos meus pés esbarrou no perna de alguém que dormia e que se virou, mas continuou a dormir.
Então de repente, ouvi uma voz na escuridão. Era o papagaio verde do capitão Silver. Não tive nem tempo de pen-sar. Ao grito agudo do papagaio, os homens que ali estavam acordaram e puseram-se de pé, enquanto Silver ber-rava: Quem está aí? Eu caíra no ratoeira.
Em volta de mim estavam John Long Silver, o papagaio verde e seis piratas. Dos meus amigos, nem sinal.
0 velho John foi o primeiro a falar. Mandou colar os seus homens, falou-me do cólera do capitão Smollett pela minha segundo fuga e propôs-me, sem muitos rodeios, que passasse para o seu lado e ficasse com ele . Antes de lhe dor uma resposta categórica, pedi-lhe que me contasse o que acontecera durante a minha ausência.
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