Era alto, forte, sorridente e tinha um rosto feio e sem barba, porém inteligen-te, tal como o descrevera o cavaleiro. Pouco após a minha chegado, um dos fregueses no outro lado do saia levan-tou-se de repente, correu à porto e saiu. Logo reconheci nele o Cão Negro e gritei que o detivessem. Ouvindo o meu grito, John Silver veio até junto de mim; contei-lhe a história do Cão Negro, do cego, do pobre Capitão, e ele , sem demora, mandou dois homens atrás do fugitivo.
Fiquei no taberna a conversar com os marinheiros até noite avançado. Depois, John Silver acompanhou-me ao hotel onde o cavaleiro e o Dr. Livesey, que regressara de Londres, me esperavam. 0 cavaleiro comunicou então aos presentes que, às quatro horas da manhã do dia seguinte, a
Espanhola levantaria âncora em direção à Ilha do Tesouro e que ele mesmo comandaria a expedição.
Fomos todos para bordo cedinho.
Pouco antes de partir, o capitão Smollett, comandante do,
Espanhola, conversou longo e animadamente com cavaleiro. Os dois homens falaram sobre o navio, a equipagem e a expedição, manifestando opiniões no maioria divergen-tes. Por fim, o capitão ordenou que levassem as armas e munições de bordo para a popa, próximo do u camarote.
Os homens do equipagem obedeceram sem discutir. En-tão, a Espanhola fez-se ao largo.
A expedição parecia ter nascido sob boa estrela. 0 avio era 11
bom, a tripulação e o comandante eram verdadeiros homens do mar, e o cavaleiro e o médico, sobretudo este último, se mostravam sempre cordialíssimos amigo.
Os primeiros dias passaram depressa e, excetuando queda no mar do nosso imediato, um homem sempre embriaga-do e cambaleante, nada perturbou a viagem. Ao por do sol, após o meu turno de guarda, ia freqüentemente à co-zinha ter com o velho John, que falava das venturas do capitão Flint e me mostrava, encantado, as proezas do seu papagaio, animal - dizia ele - com cerca de duzentos anos de idade.
No último dia de viagem, após terminar o meu serviço, resolvi ir tomar mel no porão. Enfiei-me no barrica que o continha e encontrei-a quase vazia; cansado, acomodei-me no fundo e estava para adormecer, quando um homem se sentou pesadamente em cima dela. Já me dispunha a sair da barrica, quando ele começou a falar. Era a voz de Silver.
Falou demoradamente. Contou, pela centésima vez, as aventuras do terrível capitão Flint, seu antigo comandante, comunicou aos marinheiros que eles em breve seriam bem recompensados, lamentou-se de haver dissipado em pouco tempo um grande patrimônio e continuou seu tenebro-so discurso com palavras de lisonja a todos os marinheiros da Espanhola. Depois, em voz baixa, expôs o seu plano.
Ele, John Silver, deixaria o cavaleiro e o capitão atingirem a ilha e descobrirem o tesouro, e os ajudaria a embarcá-lo.
Mas, na viagem de regresso, o navio e o tesouro passari-am, pela força, às suas meios e às dos marinheiros seus amigos. E o capitão e o cavaleiro nunca mais reveriam Bristol.
Os marinheiros que o rodeavam, e que eu não podia ver, 12
fizeram-lhe ainda algumas perguntas, depois do que, exultantes, concordaram com a sinistra proposta. Por fim, apanharam algumas garrafas de uísque numa barrico e brin-daram à boa sorte do empreendimento.
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