Em resposta ao que ela falara, ele lhe fez uma pergunta que a surpreendeu.

— Como as pessoas que se casam, na Inglaterra, chegam a conhecer-se antes do casamento? Não têm oportunidade.

— Francamente, não sei. Nunca me casei — confessou Lady Barbarina.

— Em meu país é diferente. Lá, o rapaz pode avistar-se com a moça; pode visitá-la, pode estar constantemente a sós com ela. Desejaria que isso fosse permitido aqui.

Lady Barbarina pôs-se, subitamente, a examinar o lado menos ornamentado do leque, como se fosse a primeira vez que o fazia.

— Os Estados Unidos devem ser um país bastante singular — murmurou finalmente.

— Bem, penso que nisso estamos certos; aqui, é um salto no escuro.

— Francamente, não sei — disse a jovem, fechando o leque. Estendeu o braço automaticamente e apanhou um raminho de azáleas.

— Creio que, afinal de contas, isso não tem importância. Dizem que o amor, em sua melhor feição, é cego — observou Jackson Lemon. Seu rosto jovem inclinara-se para ela; tinha os polegares enfiados nos bolsos das calças; sorriu um pouco, pondo à mostra seus belos dentes. Ela não disse uma palavra; apenas desfolhou as azáleas. Era geralmente tão quieta que esse pequeno movimento pareceu sinal de inquietação. Esta, pelo menos, é a primeira vez em que a vejo sem estar rodeada de gente — prosseguiu o jovem.

— Sim, e é coisa que me aborrece — disse ela.

— Estou farto disso; não desejava vir aqui hoje. Ela não o fitava nos olhos, embora soubesse que eles procuravam os seus. Olhou-o depois de um momento. Não o achava desagradável, e, nesse sentido, não tinha de vencer qualquer repugnância. Gostava de que o homem fosse alto e bonito, o que não se dava com Jackson Lemon; mas, quando tinha dezesseis anos e já era tão alta quanto seria aos vinte, estivera apaixonada (durante três semanas) por um de seus primos, homem de baixa estatura, do regimento dos hussardos, mais baixo que o americano, e portanto mais baixo que ela. Isso demonstrava que a distinção podia ser independente da altura; não que ela raciocinasse a respeito disso. O rosto um tanto magro de Jackson Lemon e seus olhos pequeninos e brilhantes, que pareciam estar sempre medindo as coisas, pareciam-lhe originais; achava os olhos muito penetrantes, o que ficava muito bem num esposo. Ao fazer essa reflexão, não lhe ocorreu, naturalmente, que ela mesma poderia ser ferida por aquele olhar; não era um cordeiro para ser sacrificada. Percebera que os traços dele expressavam vontade, vontade que seria um tanto eficiente. Jamais o teria tomado como médico; de fato, quando tudo foi dito, aquilo foi muito negativo e não justificava a maneira pela qual ele se impunha.

— Por que veio, então? — indagou, em resposta à última frase dele.

— Porque me parece, afinal de contas, que é melhor vê-la desta maneira que não a ver; desejo conhecê-la melhor.

— Não creio que eu devesse permanecer aqui — observou Lady Barbarina, olhando em volta.

— Não se retire até eu lhe dizer que a amo — murmurou o jovem.

A moça não soltou exclamação alguma, nem sequer estremeceu; ele nem mesmo pôde perceber qualquer alteração em sua fisionomia. Lady Barbarina acolheu essa confissão com nobre simplicidade, a cabeça ereta e os olhos baixos.

— Não creio que tenha o direito de dizer-me isso.

— Por que não? — perguntou Jackson Lemon. — Desejo ter esse direito. Desejo que você mo dê.

— Não posso. Não o conheço. Você mesmo disse.

— Não pode confiar um pouco? Isso ajudará a nos conhecermos melhor. É horrível essa falta de oportunidade; mesmo em Pasterns quase não podia passear com você. Mas tenho a maior confiança em você. Sei que a amo e que não poderei deixar de amá-la depois desses seis meses. Amo sua beleza, amo-a da cabeça aos pés. Não se mova; por favor, não se mova.

Ele baixara o tom da voz; tudo ia diretamente ao ouvido dela, e é de crer que havia naquele tom certa eloquência. Quanto a ele, depois de ouvir a si próprio pronunciar aquelas palavras, sentiu uma vibração que lhe percorria o ser.