Foi muito bom que o fizessem, a julgar pelos fragmentos de conversa que Margaret ouvia por acaso:
– Eu mesma sofri muito, não que não fosse extremamente feliz com o coitadinho do General, mas a diferença de idade sempre é uma desvantagem, e resolvi que Edith não passaria por isso. Sem nenhuma parcialidade de mãe, é claro, previ que a minha querida menina provavelmente se casaria cedo. Na verdade, disse muitas vezes que estava certa de que ela se casaria antes dos dezenove. Tive um pressentimento quando o Capitão Lennox... – e aqui a voz baixou para um sussurro, mas Margaret podia completar as lacunas facilmente.
A trajetória do amor verdadeiro, no caso de Edith, percorreu caminhos consideravelmente suaves[1]. Mrs. Shaw cedeu ao pressentimento, como dissera, e até insistira no casamento, embora estivesse abaixo das expectativas que muitos dos amigos de Edith tinham para ela, como jovem e bela herdeira. Mas Mrs. Shaw declarou que a sua única filha devia casar-se por amor – e suspirou de modo enfático, como se o amor não houvesse sido a causa do seu casamento com o General. Mrs. Shaw apreciou o romance desse noivado bem mais do que a filha. Não que Edith estivesse total e propriamente apaixonada: provavelmente teria preferido uma boa casa em Belgravia Square a todo o caráter pitoresco da vida em Corfu, descrita pelo Capitão Lennox. Margaret sentia-se animada ao ouvi-lo falar, enquanto Edith fingia estremecer ou sentir calafrios ao ouvir a mesma coisa. Em parte pelo prazer que tinha em ser persuadida a superar o seu desgosto em nome do profundo amor que sentia, e em parte porque qualquer coisa como uma vida de cigana ou uma vida aventureira era realmente detestável para ela. Por isso, mesmo que alguém viesse com uma bela casa, e uma bela propriedade, e um belo título além de tudo, Edith ainda assim teria se agarrado ao Capitão Lennox, enquanto durasse a atração. Quando esta terminasse, é possível que ela viesse a ter alguns escrúpulos de mal disfarçado arrependimento, pelo fato do Capitão Lennox não reunir em sua pessoa tudo o que era desejável. Nisto era bem a filha de sua mãe, a qual, depois de deliberadamente casar-se com o General Shaw sem nenhum sentimento mais forte do que o respeito pelo seu caráter e condição de vida, vivia a todo o momento, embora de forma discreta, expressando seu desgosto pela infelicidade que teve ao se unir a alguém a quem não podia amar.
– Não economizei despesas com o seu enxoval – foram as palavras seguintes que Margaret ouviu. – Dei a ela todos os belos xales e mantas indianas que o General me deu, mas que provavelmente não usarei mais.
– Ela é uma moça de sorte – respondeu outra voz.
Margaret identificou-a como a de Mrs. Gibson, uma senhora que tinha duplo interesse na conversação, pois uma de suas filhas havia se casado há poucas semanas.
– Helen se encantou com um xale indiano, mas na verdade, quando vi o preço extravagante que pediam por ele, fui obrigada a recusar-lhe. Ela vai ficar com inveja quando souber que Edith tem alguns xales indianos. De que tipos são? De Delhi, com aqueles adoráveis e delicados bordados?
Margaret ouviu de novo a voz da tia, mas desta vez era como se ela tivesse se levantado da sua posição meio reclinada e olhasse para a sala dos fundos, fracamente iluminada. “Edith! Edith!” ela chamou, e então afundou na cadeira, como se cansada do esforço. Margaret adiantou-se.
– Edith adormeceu, Tia Shaw. Há algo que eu possa fazer?
Todas as damas disseram “Ah! Pobrezinha!” ao ouvir esta angustiante notícia sobre Edith. O pequenino cãozinho de estimação nos braços de Mrs. Shaw começou a latir, como se ficasse perturbado com aquela explosão de piedade.
– Quieta, Tiny! Sua menina travessa! Vai acordar a sua dona. Era apenas para perguntar a Edith se ela poderia pedir a Newton para trazer os xales. Talvez você pudesse ir, Margaret querida?
Margaret foi até o antigo quarto das crianças no andar mais alto da casa, onde Newton estava ocupado arrumando algumas rendas que eram necessárias para o casamento. Enquanto Newton saía (não sem um resmungo inaudível) para pegar os xales, que naquele dia já haviam sido exibidos quatro ou cinco vezes, Margaret olhou à volta do quarto. Fora o primeiro cômodo com que se familiarizara, nove anos atrás, quando fora trazida do meio da floresta, ainda indomada, para partilhar a casa, os brinquedos e as lições com sua prima Edith.
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