“Um passo em falso ali significa a morte para o homem ou o animal. Ontem mesmo vi um dos pôneis da charneca se aventurar ali. Nunca mais saiu. Durante muito tempo vi sua cabeça se esticando para fora do lodaçal, mas este acabou por tragá-lo. Se nas estações secas já é um perigo atravessá-lo, depois destas chuvas de outono é um lugar medonho. No entanto, consigo penetrar até o coração dele e voltar vivo. Meu Deus, lá está mais um desses infelizes pôneis!”

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“‘Esse é o grande charco de Grimpen.’”

[Sidney Paget, Strand Magazine, 1901]

Alguma coisa marrom se revolvia e sacudia entre os carriços verdes. Depois um pescoço comprido projetou-se para cima, retorcendo-se, e um relincho pavoroso ecoou pela charneca. Fiquei gelado de horror, mas os nervos de meu companheiro pareciam mais fortes que os meus.

“Desapareceu!” disse ele. “O charco o tragou. Foram dois em dois dias, e muitos mais, talvez, pois eles se habituam a ir ali no tempo seco e não reconhecem a diferença até caírem nas garras do charco. É um lugar ruim, o grande charco de Grimpen.”

“E disse que consegue penetrar nele?”

“Sim, há um ou dois atalhos pelos quais um homem muito vigoroso pode enveredar. Eu descobri os dois.”

“Mas por que desejaria entrar num lugar tão horrível?”

“Bem, vê aqueles morros ao longe? Eles são na verdade ilhas isoladas por todos os lados pelo charco intransponível, que se espalhou em torno deles no curso dos anos. É ali que as plantas e as borboletas raras se encontram, se você tiver argúcia para alcançá-las.”

“Tentarei a sorte qualquer dia desses.”

Ele me encarou com surpresa. “Pelo amor de Deus, esqueça essa ideia”, disse. “Seu sangue cairia sobre a minha cabeça. Garanto-lhe que não teria a mínima chance de voltar vivo. Só consigo me lembrando de certos pontos de referência complexos.”

“Mas o que é isso?” exclamei.

Um gemido baixo e longo, indescritivelmente triste, tomou conta da charneca. Encheu todo o ar, mas apesar disso era impossível saber de onde vinha. De um murmúrio surdo avolumou-se num rugido intenso e depois esmoreceu novamente num murmúrio melancólico, palpitante. Stapleton me fitou com uma expressão curiosa.

“Lugar estranho, o charco!” disse.

“Mas o que é isso?”

“Dizem os camponeses que é o Cão dos Baskerville chamando sua presa. Ouvi isso uma ou duas vezes antes, mas nunca tão alto.”

Com um calafrio de medo, contemplei a planície enorme e ondulada à minha volta, malhada de manchas verdes de juncos. Nada se mexia na vasta extensão, exceto um par de corvos que grasnava alto num pico rochoso atrás de nós.

“O senhor é um homem instruído. Não acredita em tamanha tolice, não é?” perguntei. “Qual lhe parece ser a causa de um som tão estranho?”

“Charcos fazem barulhos esquisitos às vezes. É a lama se acomodando, ou a água subindo, alguma coisa assim.”

“Não, não, era uma voz viva.”

“Bem, talvez fosse. Já ouviu uma galinhola-real gritando?”

“Não, nunca.”

“É uma ave muito rara — praticamente extinta — na Inglaterra agora, mas tudo é possível na charneca. Sim, eu não ficaria surpreso ao saber que o que ouvimos é o grito da última das galinholas-reais.”

“É a coisa mais esquisita, mais invulgar que já ouvi na minha vida.”

“Sim, pensando bem, é um lugar misterioso. O homem pré-histórico povoou densamente a charneca, e como ninguém em particular viveu ali desde então, encontramos seus pequenos arranjos exatamente como eles os deixaram. Ali estão suas cabanas, sem os telhados.