Não posso parar, ou meu irmão daria pela minha falta. Queria lhe dizer o quanto lamento o erro estúpido que cometi pensando que fosse Sir Henry. Por favor esqueça as palavras que eu disse, que não se aplicam de maneira alguma ao senhor.”
“Mas não posso esquecê-las, Miss Stapleton”, respondi. “Sou amigo de Sir Henry, e o bem-estar dele me interessa profundamente. Diga-me por que estava tão ansiosa para que Sir Henry voltasse para Londres.”
“Um capricho de mulher, dr. Watson. Quando me conhecer melhor, compreenderá que nem sempre posso dar razões para o que digo ou faço.”
“Não, não. Lembro-me da emoção na sua voz. Lembro-me do seu olhar. Por favor, por favor, seja franca comigo, Miss Stapleton, porque desde que cheguei aqui tenho consciência de sombras à minha volta. A vida tornou-se como aquele grande charco de Grimpen, com pequenas manchas verdes em que podemos cair por toda parte e sem nenhum guia para apontar a trilha. Diga-me, então, o que tinha em mente, e prometo transmitir seu aviso a Sir Henry.”
Uma expressão de indecisão passou por um instante por seu semblante, mas seus olhos haviam endurecido de novo quando me respondeu.
“Está dando demasiada importância a isso, dr. Watson”, disse. “Meu irmão e eu ficamos extremamente chocados com a morte de Sir Charles. Nós o conhecíamos intimamente, pois sua caminhada favorita era pela charneca até a nossa casa. Ele era deveras impressionado pela maldição que pairava sobre sua família, e quando essa tragédia aconteceu senti naturalmente que devia haver algum fundamento para os temores que ele expressava. Fiquei aflita, portanto, quando outro membro da família veio morar aqui, e achei que ele devia ser advertido do perigo que estará correndo. Foi só isso que pretendi transmitir.”
“Mas qual é o perigo?”
“Conhece a história do cão?”
“Não acredito nessa tolice.”
“Mas eu acredito. Se o senhor tiver alguma influência junto a Sir Henry, leve-o embora de um lugar que foi sempre fatal para sua família. O mundo é grande. Por que desejaria ele viver no lugar perigoso?”
“Porque é o lugar perigoso. Essa é a natureza de Sir Henry. Temo que, a menos que possa me dar alguma informação mais precisa que esta, vá ser impossível convencê-lo a se mudar.”

“Conhece a história do cão?”
[Sidney Paget, Strand Magazine, 1901]
“Não posso dizer nada de preciso, porque não sei nada de preciso.”
“Eu lhe faria mais uma pergunta, Miss Stapleton. Se não queria dizer nada além disso quando me falou pela primeira vez, por que não quis que seu irmão a ouvisse? Não é nada a que ele, ou qualquer outra pessoa, poderia objetar.”
“Meu irmão está muito ansioso para ver o Solar habitado, pois pensa que isso é bom para os pobres da charneca. Ficaria zangado se soubesse que eu havia dito alguma coisa capaz de induzir Sir Henry a ir embora. Mas já cumpri o meu dever, e não direi mais nada. Tenho de voltar, ou ele dará pela minha falta e desconfiará que estive com o senhor. Adeus!”
Ela se virou e em poucos minutos havia desaparecido entre os penedos dispersos, enquanto eu, a alma cheia de temores vagos, segui caminho para o Solar Baskerville.
VIII. PRIMEIRO RELATÓRIO DO DR. WATSON
DESTE PONTO EM DIANTE acompanharei os fatos transcrevendo minhas próprias cartas para Mr.
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