Agora é o momento dramático do destino, Watson, quando ouvimos na escada passos que vêm entrar em nossa vida, e não sabemos se para o bem ou para o mal. O que vem o dr. James Mortimer, o homem de ciência, pedir a Sherlock Holmes, o especialista em crime? Entre!”
A aparência do nosso visitante foi uma surpresa para mim, já que esperava um típico médico rural. Era um homem bem alto e magro; um nariz comprido e adunco projetava-se entre dois penetrantes olhos cinza, muito juntos, que brilhavam detrás de um par de óculos com aro de ouro. Vestia-se de maneira profissional, mas um tanto desmazelada, pois sua sobrecasaca estava encardida e as calças, puídas. Embora jovem, tinha as longas costas encurvadas e caminhava espichando a cabeça para a frente, com um ar geral de perscrutadora benevolência. Quando entrou, deu com os olhos na bengala na mão de Holmes e correu para ela com uma exclamação de alegria.
“Estou tão contente”, disse. “Não sabia ao certo se a deixara aqui ou na agência marítima. Não gostaria de perder essa bengala por nada neste mundo.”
“Um presente, pelo que vejo”, disse Holmes.

“Deu com os olhos na bengala na mão de Holmes.”
[Sidney Paget, Strand Magazine, 1901]
“Sim, senhor.”
“Do Charing Cross Hospital?”
“De um ou dois amigos de lá, por ocasião do meu casamento.”
“Ai, ai, isso é mau!” disse Holmes, sacudindo a cabeça.
O dr. Mortimer relanceou-o através de seus óculos, um tanto espantado.
“Mau por quê?”
“Apenas porque o senhor abalou nossas pequenas deduções. Disse seu casamento?”
“Sim, senhor. Casei-me, por isso deixei o hospital, e com ele todas as esperanças de um consultório. Tive de criar um lar para mim.”
“Bem, bem, não estamos assim tão errados, afinal de contas”, disse Holmes. “E agora, dr. James Mortimer…”
“Senhor, por favor, senhor… um humilde M.R.C.S.”
“E um homem de mente precisa, evidentemente.”
“Um diletante da ciência, Mr. Holmes, um catador de conchas nas praias do vasto e ignoto oceano. Presumo que é a Mr. Sherlock Holmes que estou me dirigindo, e não…”
“Não, esse é o meu amigo dr. Watson.”
“Prazer em conhecê-lo, senhor. Ouvi menção a seu nome em conexão com o de seu amigo. O senhor me interessa muito, Mr. Holmes. De fato eu não esperava um crânio tão dolicocéfalo ou um desenvolvimento supraorbital tão acentuado. Faria alguma objeção a que eu passe o dedo por sua fissura parietal? Um molde de seu crânio, até que o original fique disponível, seria um ornamento para qualquer museu antropológico. Sem querer bajulá-lo, eu cobiço o seu crânio.”
Sherlock Holmes apontou uma cadeira para nosso estranho visitante.
“Posso perceber que o senhor é um entusiasta em sua linha de pensamento, como eu na minha”, disse. “Observo por seu dedo indicador que faz seus próprios cigarros. Não hesite em acender um.”
O homem tirou papel e fumo e enrolou um no outro com surpreendente destreza. Tinha dedos longos, trêmulos, ágeis e inquietos como as antenas de um inseto.
Holmes mantinha-se em silêncio, mas suas olhadelas penetrantes mostravam-me o interesse que sentia por nosso curioso visitante.
“Presumo, senhor”, disse por fim, “que não foi apenas com o objetivo de examinar o meu crânio que me deu a honra de sua visita ontem à noite e novamente hoje?”
“Não, senhor, não; embora esteja feliz por ter a oportunidade de fazer isso também. Vim procurá-lo, Mr. Holmes, porque reconheço ser eu mesmo um homem inábil e porque me vejo subitamente confrontado com um problema extremamente grave e extraordinário.
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