Watson, informou-me do que a senhora lhe comunicou, e também do que escondeu em relação ao assunto.”

“Que foi que escondi?” perguntou ela desafiadoramente.

“A senhora lhe confessou que pediu a Sir Charles para estar no portão às dez horas. Sabemos que foram o lugar e a hora de sua morte. A senhora escondeu a relação existente entre esses dois eventos.”

“Não há relação nenhuma.”

“Nesse caso, tratou-se realmente de uma coincidência extraordinária. Mas acho que, afinal de contas, conseguiremos estabelecer uma relação. Desejo ser inteiramente franco com a senhora, Mrs. Lyons. A nosso ver, esse foi um caso de assassinato, e as evidências podem implicar não apenas seu amigo, Mr. Stapleton, mas a mulher dele também.”

A dama deu um pulo da cadeira. “A mulher dele!” exclamou.

“O fato não é mais um segredo. A pessoa que se passou por irmã dele é de fato sua mulher.”

Mrs. Lyons voltara a se sentar. Suas mãos agarravam os braços da cadeira e vi que as unhas rosadas haviam se tornado brancas com a pressão de seus dedos.

“A mulher dele!” repetiu ela. “A mulher dele! Ele não era um homem casado.”

Sherlock Holmes deu de ombros.

“Prove-me isso! Prove-me isso! E se conseguir…!” O brilho feroz de seus olhos diziam mais que quaisquer palavras.

“Vim preparado para isso”, disse Holmes, tirando vários papéis do bolso. “Aqui está uma fotografia do casal tirada em York há quatro anos. Atrás está escrito ‘Mr. e Mrs. Vandeleur’, mas a senhora não terá nenhuma dificuldade em reconhecê-lo, e tampouco a ela, se a conhece de vista. Aqui estão três descrições por escrito de testemunhas confiáveis que conheceram Mr. e Mrs. Vandeleur, que nessa época dirigiam o colégio particular St. Oliver. Leia-as e veja se pode duvidar da identidade dessas pessoas.”

Ela passou os olhos nos papéis e depois olhou para nós com o semblante resoluto, rígido, de uma mulher desesperada.

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“A dama deu um pulo da cadeira.”

[Sidney Paget, Strand Magazine, 1902]

“Mr. Holmes”, disse, “esse homem ofereceu-se para casar comigo com a condição de que eu me divorciasse de meu marido. Ele mentiu para mim, o canalha, de todas as maneiras concebíveis. Jamais me disse uma palavra verdadeira. E por quê… por quê? Imaginei que era tudo por amor a mim. Mas agora vejo que nunca passei de um instrumento em suas mãos. Por que eu deveria continuar fiel a ele, que nunca foi fiel a mim? Por que deveria tentar protegê-lo das consequências de suas próprias crueldades? Pergunte-me o que quiser, e não ocultarei nada. Uma coisa eu lhe juro, quando escrevi aquela carta, sequer sonhava em fazer algum mal ao velho cavalheiro que fora meu mais bondoso amigo.”

“Acredito inteiramente na senhora, madame”, disse Sherlock Holmes. A narrativa desses eventos lhe deve ser muito penosa, e talvez seja facilitada se eu lhe contar o que aconteceu; a senhora poderá me corrigir se eu cometer algum erro importante.