Por insistência do pai, fez uma sincera tentativa de brincar com os outros meninos e várias vezes participava dos jogos mais leves – o futebol o sacudia demais, e ele temia que no caso de uma fratura os seus ossos vetustos recusassem conserto.
Quando fez cinco anos, foi mandado ao jardim de infância, onde o iniciaram na arte de colar papel verde em papel laranja, elaborar mapas coloridos e fabricar infinitos colares de cartolina. Benjamin tinha uma propensão de pegar no sono no meio dessas tarefas, um hábito que tanto irritava quanto assustava sua jovem professora. Para alívio do aluno, a professora se queixou aos pais, e ele foi retirado da escola. Os Roger Button disseram aos amigos que ainda o consideravam pequeno demais.
Na época em que Benjamin chegou aos doze anos, os pais já tinham se acostumado com ele. Na verdade, tão poderosa é a força do hábito que os dois já não sentiam que ele fosse diferente de qualquer outra criança – exceto quando alguma anomalia curiosa os fazia lembrar o fato. Mas certo dia, poucas semanas após seu décimo segundo aniversário, enquanto olhava-se no espelho, Benjamin fez, ou pensou ter feito, uma descoberta espantosa. Será que os seus olhos queriam enganá-lo? Ou seus cabelos haviam mesmo, nos seus doze anos de vida, passado do branco para um cinza-chumbo sob a tintura dissimuladora? O emaranhado de rugas no rosto estava se tornando menos pronunciado? Sua pele estava ficando mais saudável e mais firme, inclusive com um rosado toque invernal? Não tinha certeza. Sabia que suas costas já não eram curvadas e que suas condições físicas haviam melhorado desde os primeiros dias de sua vida.
“Será possível...?”, Benjamin pensou consigo mesmo, ou melhor, mal se atreveu a pensar.
Foi falar com o pai.
– Estou crescido – anunciou com determinação. – Quero colocar calças compridas.
O pai hesitou.
– Bem – ele disse afinal. – Eu não sei. Catorze anos é a idade para colocar calças compridas... e você só tem doze.
– Mas o senhor tem de admitir – protestou Benjamin – que sou grande para a minha idade.
O pai olhou para ele com ilusória especulação.
– Ah, não estou tão certo disso – ele disse. – Eu era tão grande como você aos doze anos.
Isso não era verdade – era tudo parte do silencioso acordo de Roger Button consigo mesmo para acreditar na normalidade do filho.
Por fim os dois chegaram a uma conciliação. Benjamin deveria continuar pintando seu cabelo. Deveria demonstrar mais afinco em suas tentativas de brincar com os meninos de sua própria idade. Não deveria usar seus óculos ou portar uma bengala na rua. Em retribuição por essas concessões, lhe foi permitido o primeiro traje de calças compridas...
IV
Sobre a vida de Benjamin Button entre o décimo segundo e o vigésimo primeiro ano, pretendo dizer pouco. Basta registrar que foram anos de decrescimento normal. Quando Benjamin chegou aos dezoito, estava ereto como um homem de cinquenta; tinha mais cabelo, numa tonalidade de cinza-escuro; tinha passo firme, a voz perdera o tremular rachado e descera para um saudável barítono. De modo que seu pai enviou-o a Connecticut para fazer os exames de admissão na Yale College. Benjamin passou no exame, tornando-se um membro da turma de calouros.
No terceiro dia depois de sua matrícula, recebeu uma notificação do sr. Hart, o responsável pelos registros na faculdade, para comparecer ao seu escritório e programar os horários das aulas. Benjamin, olhando-se de relance no espelho, decidiu que o seu cabelo precisava de uma nova aplicação da tintura castanha, mas uma inspeção ansiosa na gaveta da escrivaninha revelou que o frasco de tintura não estava ali. Então ele se lembrou – esvaziara o frasco na véspera e o jogara fora.
Benjamin estava num dilema. Tinha de se apresentar ao registrador em cinco minutos. Parecia não haver salvação – ele precisaria ir como estava. Ele foi.
– Bom dia – disse o registrador, de maneira polida. – O senhor veio perguntar sobre o seu filho.
– Bem, na verdade o meu nome é Button... – começou Benjamin, mas o sr. Hart o interrompeu.
– Fico muito contente por conhecê-lo, sr.
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