Os baderneiros, que preferiam o espetáculo à feira, procuravam, no entanto, conciliar os prazeres. Temendo que a louca fosse capturada em sua ausência, corriam a dar uma volta rápida no carrossel. Outros mais sabidos, instalados nos galhos das tílias, como que para observar a parada de Vincennes, contentavam-se em acender bombas e fogos de bengala.
Pode-se imaginar a angústia do casal Maréchaud, encerrado em casa em meio a todos esses ruídos e clarões.
O conselheiro municipal casado com a dama caridosa, trepado no pequeno muro gradeado, improvisava um discurso sobre a covardia dos proprietários. Foi aplaudido.
Pensando ser a ela que aplaudiam, a louca fez uma saudação, com um monte de telhas sob cada braço, pois ela remetia uma a cada vez que divisava um capacete. Com sua voz inumana, agradecia terem-na enfim compreendido. Fez-me pensar numa pirata, sozinha no barco que afunda.
A multidão se dispersava, um tanto cansada. Quis ficar com meu pai, enquanto minha mãe, para satisfazer essa necessidade de movimento que têm as crianças, conduzia meus irmãos do carrossel à montanha-russa. Por certo, eu sentia essa estranha precisão mais vivamente que meus irmãos. Adorava que meu coração batesse rápido, irregular. Mas aquele espetáculo, de uma poesia profunda, me satisfazia mais. "Como você está pálido", havia dito minha mãe. Achei o pretexto nos fogos de bengala. Eles me davam uma coloração esverdeada, disse eu. — Mesmo assim, receio que isso o impressione muito — disse ela a meu pai.
— Ora — respondeu ele —, ninguém é mais insensível. Ele pode ver qualquer coisa, menos um coelho sendo esfolado.
Meu pai dizia isso para que eu ficasse. Mas ele sabia que o espetáculo me transtornava. Eu sentia que o perturbava também. Pedi-lhe que me colocasse nos ombros para ver melhor. Na verdade, estava a ponto de desmaiar, minhas pernas já não me sustentavam.
Agora havia apenas umas vinte pessoas. Ouvimos os clarins anunciando a retirada com archotes.
Cem tochas iluminaram de súbito a louca, como, depois da luz suave da ribalta, o magnésio explode, fotografando uma nova estrela. Então, agitando as mãos em sinal de adeus, e crendo ser o fim do mundo, ou simplesmente que iam prendê-la, ela se jogou do telhado, quebrou a marquise na queda com um barulho terrível, e se espatifou nos degraus de pedra. Até então eu procurava suportar tudo, embora meus ouvidos tinissem e o coração me falhasse. Mas quando ouvi gritarem: "Está viva ainda!", caí dos ombros do meu pai, sem sentidos.
De volta a mim, ele me levou para a margem do Marne. Lá permanecemos até tarde, em silêncio, estendidos na grama.
Na volta, acreditei ver por trás da cerca uma silhueta branca, o fantasma da criada! Era o velho Maréchaud em gorro de dormir, contemplando os estragos, sua marquise, suas telhas, sua relva, sua sebe, seus degraus cobertos de sangue, seu prestígio arruinado. Se insisto em tal episódio, é porque ele faz compreender melhor que qualquer outro o estranho período da guerra, e como, mais que o pitoresco, impressionava-me a poesia das coisas.
Ouvíamos o som do canhão. Havia luta perto de Meaux. Contava-se que alguns ulanos haviam sido capturados perto de Lagny, a quinze quilômetros de nós. Enquanto minha tia falava de uma amiga que fugira logo nos primeiros dias, depois de enterrar relógios e latas de sardinha no jardim, eu perguntava a meu pai como transportar nossos velhos livros. Era o que mais me custava perder.
Enfim, no momento em que nos aprontávamos para a fuga, os jornais nos informaram que era inútil.
Minhas irmãs, agora, iam a J... levar cestos de peras para os feridos.
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