Fazia três dias que não dirigia a palavra à cunhada, mas também tinha parado com todas aquelas irritantes reclamações, o que já era um alívio e tanto.
Heathcliff não tinha o hábito de fazer um único gesto desnecessário de cortesia para com a srta. Linton, eu sabia. Dessa vez, assim que a avistou, sua primeira precaução foi dar uma olhada na direção da frente da casa. Eu estava de pé junto à janela da cozinha, mas me escondi. Ele então atravessou o pátio e foi até onde ela estava, dizendo-lhe alguma coisa. Isabella pareceu encabulada, querendo sair dali, o que ele impediu, segurando-lhe o braço. Ela desviou o rosto: aparentemente, ele fizera alguma pergunta à qual ela não queria responder. Mais uma olhadela na direção da casa e, supondo que ninguém o estava vendo, o canalha teve o descaramento de abraçá-la.
– Judas! Traidor! – exclamei. – Como é hipócrita! Um mentiroso.
– Quem, Nelly? – indagou a voz de Catherine atrás de mim; eu prestara atenção demasiada ao casal lá fora e não notara sua chegada.
– O imprestável do seu amigo! – respondi, indignada. – O patife dissimulado lá fora. Ah, ele já nos viu. Está entrando! Será que vai conseguir encontrar uma desculpa plausível para estar cortejando a srta. Isabella, depois de ter dito à senhora que a detestava?
A sra. Linton viu Isabella se soltar e correr para o jardim. No instante seguinte, Heathcliff abriu a porta.
Não pude ocultar minha indignação, mas Catherine insistiu, zangada, que eu me calasse e ameaçou me expulsar da cozinha, caso eu fosse insolente a ponto de soltar a língua.
– A julgar pelo modo como fala, as pessoas achariam que é a dona da casa! – exclamou ela. – Está precisando que a coloquem no seu lugar! Heathcliff, o que é que você pretende, causando esta comoção toda? Disse-lhe para deixar Isabella em paz! Imploro-lhe que faça isso, a menos que esteja farto de vir aqui e queira que Linton tranque as portas para não o deixar entrar!
– Que Deus o impeça de tentar! – retrucou o canalha. Nesse momento, eu o detestei. – Que Deus o conserve manso e paciente! A cada dia que passa, tenho mais vontade de mandá-lo para o céu!
– Pssst! – disse Catherine, fechando a porta interna. – Não me aborreça. Esqueceu meu pedido? Ela se pôs no seu caminho de propósito?
– O que é que você tem a ver com isso? – rosnou ele. – Tenho o direito de beijá-la, se ela quiser, e você não tem o direito de se opor. Não sou seu marido, não precisa ter ciúme de mim!
– Não tenho ciúme de você – replicou a patroa. – É somente zelo. Desanuvie essa cara, não consinto que me venha com sobrancelhas franzidas! Se gosta de Isabella, case-se com ela. Mas gosta mesmo? Diga a verdade, Heathcliff! Está vendo? Não responde. Tenho certeza de que não gosta!
– E o sr. Linton aprovaria o casamento da irmã com esse homem? – indaguei.
– O sr. Linton aprovaria – respondeu a patroa, decidida.
– Ele talvez não tenha que se dar ao trabalho – argumentou Heathcliff. – Posso muito bem fazer isso sem sua aprovação. E quanto a você, Catherine, quero lhe dizer algumas palavras, aproveitando a ocasião.
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