O velho judeu era persistente. Ele parecia determinado a me levar para trás e, assim, eu consenti. Era curioso que eu não quisesse conhecê-la, não é?”

“Não, não acho”.

“Meu caro Harry, por quê?”

“Vou dizer-lhe em alguma outra ocasião. Agora, quero saber mais sobre a garota”.

“Sybil? Oh, ela estava tão tímida e foi tão gentil. Há algo de infantil nela. Seus olhos se abriram imensos em delicada surpresa quando lhe disse o que eu pensava de seu desempenho e ela parecia bem ignorante de seu poder. Acho que estávamos os dois bem nervosos. O velho judeu permaneceu rindo no corredor do camarim, fazendo elaborados discursos sobre nós dois, enquanto ficávamos nos olhando feito crianças. Ele insistia em me chamar de ‘Meu Lorde’, assim eu assegurei a Sybil que eu não era nada do tipo. Ela disse bem simplesmente para mim, “Você parece mais com um príncipe”.

“Dou-lhe a minha palavra, Dorian, a senhorita Sybil sabe como retribuir um elogio”.

“Você não a compreende, Harry. Ela me considerou apenas como uma pessoa em uma peça. Ela nada sabe da vida. Ela vive com a mãe, uma mulher desbotada e cansada que interpretou lady Capuleto, usando um tipo de roupão cor de magenta na primeira noite, mesmo aparentando ter já vivido dias melhores.”

“Conheço esta aparência. Sempre me deprime”.

“O judeu quis me contar a história dela, mas eu disse que não estava interessado”.

“Você estava muito certo. Sempre há algo de infinitamente medíocre nas tragédias das outras pessoas”.

“Sybil é a única coisa com que me importo. O que significa para mim o lugar de onde ela veio? Da sua pequena cabeça aos seus pequenos pés, ela é absoluta e inteiramente divina. Irei vê-la atuar todas as noites de minha vida e a cada noite ela estará mais maravilhosa”.

“Esta é a razão, suponho, pela qual você nunca jantará comigo. Pensei que você tinha algum romance curioso à sua disposição. Você tem; mas não é exatamente o que eu esperava”.

“Meu caro Harry, tanto almoçaremos quanto jantaremos juntos todos os dias, e eu tenho ido à Ópera com você várias vezes”.

“Você sempre chega terrivelmente atrasado”.

“Bem, não posso deixar de ver Sybil interpretar, mesmo que seja apenas por um ato. Fico faminto pela presença dela; e, quando penso na maravilhosa alma que se oculta dentro daquele pequeno corpo de marfim, fico tomado de terror”.

“Você pode jantar comigo esta noite, Dorian, não é?”

Ele balançou a cabeça. “Esta noite, ela é Imogênia”, ele respondeu, “e amanhã à noite, ela será Julieta”.

“Quando ela é Sybil Vane?”

“Nunca”.

“Eu o felicito”.

“Como você é horrível! Ela é todas as grandes heroínas do mundo em uma só pessoa. Ela é mais do que um indivíduo. Você ri, mas eu lhe digo que ela é talentosa. Eu a amo e deverei fazer com que ela me ame. Você, que conhece todos os segredos da vida, diga-me como encantar Sybil Vane para que ela me ame! Quero fazer Romeu ficar com ciúmes. Quero que os mortos enamorados do mundo ouçam risos e fiquem cada vez mais tristes. Quero que um hálito da nossa paixão levante o pó deles para dentro da consciência, para despertar a dor de suas cinzas. Meu Deus, Harry, como a cultuo!” Ele caminhava a esmo pela sala enquanto falava. Manchas frenéticas vermelhas ardiam em seu rosto. Ele estava terrivelmente excitado.

Lorde Henry o observava com uma sutil sensação de prazer.