Quanto à

velocidade, que depende de tantos caracteres físicos, Eclipse era muito mais rápido, e um cavalo de carro é incomparavelmente mais forte que qualquer outro indivíduo pertencendo 38

ao mesmo género. Da mesma forma para as plantas, os grãos das diferentes qualidades de favas ou de milho diferem provavelmente mais, com relação ao tamanho, do que os grãos de espécies distintas de um género qualquer pertencendo às mesmas duas famílias. Esta nota aplica-se aos frutos das diferentes variedades de ameixieiras, mais ainda aos melões e a um grande número de outros casos análogos.

Resumamos em algumas palavras o que há de relativo à origem das nossas raças de animais domésticos e das nossas plantas cultivadas. As alterações nas condições de existência têm a mais alta importância como causa de variabilidade, e porque estas condições actuam directamente sobre o organismo, e porque actuando indirectamente afectam o sistema reprodutor. Não é provável que a variabilidade seja, em todas as circunstâncias, uma resultante inerente e necessária destas alterações. A força maior ou menor da hereditariedade e a da tendência à regressão determinam ou não a constância das variações. Muitas leis desconhecidas, de que a correlação de crescimento é provavelmente a mais importante, regulam a variabilidade. Pode atribuir-se uma certa influência à acção definida das condições de vida, mas não sabemos em que proporções esta influência se exerce. Pode considerar-se como causa, mesmo até como causa considerável, o aumento do uso ou não uso das partes.

O resultado final, se se consideram todas estas influências, torna-se infinitamente complexo. Em alguns casos, o cruzamento de espécies primitivas distintas parece ter desempenhado um papel muito importante do ponto de vista da origem das nossas raças. Desde que muitas raças foram formadas em qualquer região, o seu cruzamento acidental, com auxílio da selecção, tem sem dúvida contribuído poderosamente para a formação de novas variedades. Tem-se, todavia, exagerado consideravelmente a importância dos cruzamentos, tanto relativamente aos animais, como às plantas que se multiplicam por sementes. A importância do cruzamento é imensa, ao contrário para as plantas que se multiplicam temporariamente por estacas, por garfos etc., porque o cultivador pode, neste caso, desprezar a extrema variabilidade das híbridas e das mestiÇas e a esterilidade das híbridas; mas as plantas que se não multiplicam por sementes têm para nós pouca importância, a sua duração é apenas temporária. A acção acumuladora da selecção, quando seja metódica e rapidamente aplicada, ou o seja inconscientemente, lentamente, mas da forma mais eficaz, parece ter sido a maior potência que tem presidido a todas estas causas de alteração.

CAPITULO II

Variação no estado selvagem

Variabilidade. - Díferenças individuais. - Espécies duvidosas. - As espécies tendo um habitat muito extenso, as espécies muito espalhadas e as espécies comuns são as que mais variam.-Em cada país, as espécies pertencendo aos géneros que contêm mais espécies variam mais frequentemente que aquelas que pertencem aos géneros que contêm poucas espécies. -Muitas espécies pertencendo aos géneros que contêm um grande número de espécies assemelham-se às variedades, pois que estão aliadas muito de perto, mas desigualmente, entre si e porque têm um habitat restrito.

VARIABILIDADE

Antes de aplicar aos seres organizados vivendo no estado selvagem os princípios que expusemos no capítulo precedente, importa examinar rapidamente se estes últimos estão sujeitos a variações. Para tratar este assunto com a atenção que merece, seria necessário apresentar um longo e árido catálogo de factos; reservo-os, porém, para uma obra próxima. Nem tão-pouco discutirei aqui as diferentes definições dadas do termo espécie. Nenhuma destas definições tem satisfeito completamente todos os naturalistas, e, contudo, cada um deles sabe vagamente o que quer dizer quando fala de uma espécie. Ordinariamente o termo espécie implica o elemento desconhecido de um acto criador distinto. É igualmente difícil definir o termo variedade; todavia, este termo implica quase sempre uma comunidade de descendência, posto que possam raramente fornecer-se provas. Temos, igualmente, o que se designa sob o nome de monstruosidades;

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porém estas confundem-se com as variedades. Quando se emprega o termo monstruosidade, quer-se exprimir, penso eu, um desvio considerável de conformação, ordinariamente nocivo ou pelo menos pouco útil à espécie. Alguns autores empregam o termo variação, no sentido técnico, isto é, como fazendo supor uma modificação que deriva directamente das condições físicas da vida; ora neste sentido as variações não são susceptíveis de ser transmitidas por hereditariedade.