Não sou pirata por ambição, sou um justiceiro, um vingador da minha família e do meu povo, nada mais. Agora, se acredita em mim e quiser me repelir, faça-o e eu vou embora para sempre deste lugar, para não amedrontá-la mais.

— Não, Sandokan, eu não o rejeito porque o amo demais, porque você é valente, poderoso, terrível como os furacões que agitam os oceanos.

— Ah! então você ainda me ama? Diga com os seus lábios, diga mais uma vez.

— Eu o amo, Sandokan, e hoje ainda mais que ontem.

O pirata puxou-a para si e apertou-a junto ao peito. Uma alegria infinita iluminava seu rosto viril e um sorriso de enorme felicidade pairava nos seus lábios.

— Minha! Você é minha! — exclamou ele, delirante, fora de si. — Agora fale, minha adorada, diga o que posso fazer por você, pois para mim tudo é possível.

Se quiser, vou derrubar um sultão para lhe dar um reino, se quiser ser imensamente rica, vou saquear os templos da Índia e da Birmânia para cobri-la de diamantes e de ouro; se quiser, me torno inglês; se quiser que eu renuncie para sempre à minha vingança e que o pirata desapareça, vou dispersar os meus filhotes, imobilizar os meus canhões onde eles não possam mais rugir e destruir o meu covil.

Fale, diga o que quer; peça o impossível e eu faço. Por você me sinto capaz de erguer o mundo e jogá-lo através do espaço.

A jovenzinha se inclinou para ele sorrindo, enlaçando com as mãozinhas delicadas o pescoço robusto:

— Não, meu bravo homem — disse —, só o que peço é a felicidade de estar ao seu lado. Leve-me para longe, para uma ilha qualquer, onde possamos nos casar sem perigos, sem apreensões.

— Claro que sim; se quiser, eu a levo para uma ilha distante, coberta de flores e de bosques, onde você nunca mais vai ouvir falar da sua Labuan, nem eu, da minha Mompracem, uma ilha encantada do grande Oceano, onde poderemos viver felizes como dois pombinhos apaixonados; o terrível pirata que deixou atrás de si um rastro de sangue e a gentil Pérola de Labuan. Você vem comigo, Marianna?

— Vou, Sandokan, vou sim. Agora me escute, há um perigo nos ameaçando, talvez esteja sendo preparada uma traição contra você neste momento.

— Sei disso! — exclamou Sandokan. — Percebo essa traição, mas não a temo.

— Você precisa me obedecer, Sandokan.

— O que devo fazer?

— Deve ir embora agora mesmo.

— Ir embora!... Ir embora!... Mas não estou com medo!

— Sandokan, fuja enquanto há tempo.Estou com um pressentimento horrível. Tenho medo de que aconteça uma calamidade. Meu tio não viajou a lazer; deve ter sido chamado pelo Baronete William Rosenthal, que talvez o tenha reconhecido. Ah!, Sandokan. Vá embora, volte agora à sua ilha e fique a salvo antes que a tempestade caia sobre a sua cabeça.

Em vez de obedecer, Sandokan agarrou a jovenzinha e a ergueu nos braços. Seu rosto, há pouco tão comovido, tinha outra expressão agora: seus olhos brilhavam, as têmporas batiam furiosamente e seus lábios estavam entreabertos, mostrando os dentes.

Um instante depois, a deixou e correu como uma fera pelo parque, atravessando riachos, fossas e a muralha, como se estivesse com medo ou quisesse fugir de alguma coisa.

Só parou quando chegou à praia, onde perambulou por muito tempo sem saber aonde ir, nem o que fazer. Quando decidiu voltar, a noite já tinha caído e a lua estava brilhando.

Assim que entrou na vila, perguntou se o Lorde chegara, mas foi informado de que ainda não.

Encaminhou-se para a sala de visitas e encontrou Lady Marianna ajoelhada diante de uma imagem e com o rosto inundado de lágrimas.

— Minha adorada Marianna! — exclamou ele, erguendo-a. — Você chora por minha causa? É por eu ser o Tigre da Malásia, o homem execrado por seus compatriotas?

— Não, Sandokan. Mas estou com medo, uma desgraça está prestes a acontecer, fuja, fuja daqui.

— Não tenho medo nenhum, o Tigre da Malásia nunca tremeu diante...

Parou de repente, estremecendo apesar de tudo. Um cavalo acabara de entrar no parque, parando diante do palacete.

— É o meu tio!...Fuja Sandokan! — exclamou a jovenzinha.

— Eu!... Eu!...

Naquele exato momento Lorde James entrava na sala. Não era mais o mesmo homem da véspera: tinha uma expressão grave, carrancuda, feroz, e usava a divisa de capitão da marinha.

Com um gesto desdenhoso repeliu a mão que o pirata lhe estendia com ousadia e disse friamente:

— Se eu fosse um homem da sua espécie, em vez de pedir hospitalidade a um inimigo acirrado, teria preferido ser morto pelos tigres da floresta. Afaste de mim essa mão que pertence a um pirata, a um assassino!

— Senhor! — exclamou Sandokan, que já compreendera ter sido descoberto e se preparava para vender caro a própria vida. — Não sou um pirata, sou um justiceiro!

— Nem mais uma palavra em minha casa, saia!

— Está bem — respondeu Sandokan e lançou um demorado olhar para a mulher amada, que caíra sobre o tapete quase sem sentidos. Fez menção de correr, mas afinal se deteve e, a passos lentos, com a mão direita na empunhadura do kriss, a cabeça erguida, o olhar indomável, saiu da sala e desceu os degraus, sufocando com um esforço prodigioso as batidas furiosas do coração e a profunda emoção que o invadia.

Mas quando chegou ao parque, se deteve e puxou o kriss, cuja lâmina cintilou sob os raios da lua.

A trezentos passos se estendia uma linha de soldados, com as carabinas apontadas, prontos para atirar contra ele.

 

 

 

— Nem mais uma palavra em minha casa, saia!

10. A caça ao pirata

Em outros tempos, Sandokan, mesmo desarmado e diante de um inimigo cinquenta vezes mais numeroso, não teria hesitado um só instante em se jogar nas pontas das baionetas para tentar abrir passagem a qualquer custo; mas agora que estava amando, agora que sabia que também era amado, agora que aquela divina criatura talvez estivesse acom-panhando-o com o olhar, não queria cometer semelhante

loucura, capaz de lhe custar a vida e quem sabe quantas lágrimas a ela.

Mesmo assim, precisava abrir caminho para chegar à floresta e, de lá, ao mar, sua única salvação.

— Agora tenho que voltar — disse. — Depois, veremos.

Subiu novamente a escada, sem ser seguido pelos soldados, e entrou na sala, com o kriss em punho.

O Lorde ainda estava lá, carrancudo, com os braços cruzados: a jovem Lady, por sua vez, desaparecera.

— Senhor — disse Sandokan, se aproximando. — Se eu o tivesse hospedado em minha casa, se o tivesse chamado de amigo e depois descobrisse que era um inimigo mortal, teria lhe indicado a porta, mas não teria cometido uma traição tão vil. Logo ali, na mesmíssima estrada que preciso percorrer, estão cinquenta, talvez cem homens, prontos para me fuzilar. Peça que se retirem e deixem livre a passagem.

— Então este Tigre invencível está com medo? — perguntou o Lorde, com fria ironia.

— Medo, eu? Na realidade, não, milorde, mas neste caso não se trata de combater e, sim, de assassinar um homem desarmado.

— Isso não me diz respeito.