Como não tinham dinheiro, por conta da quantidade de leite que precisavam comprar para as crianças, essa tal babá era uma cadela toda orgulhosa, da raça terra-nova, chamada Nana, que não tinha casa até ser contratada pelos Darlings. No entanto, Nana já tinha experiência em zelar pelos pequenos mesmo antes disso. Ela conheceu os Darlings em Kensington Gardens, onde passava seu tempo livre xeretando carrinhos de bebê e fazendo inimizade com as babás desleixadas, já que as seguia até suas casas e as denunciava às patroas. Nana provou ser uma babá bastante valiosa. Era rigorosa na hora dos banhos e, à noite, ficava alerta ao menor ruído que seus protegidos fizessem. Obviamente sua casinha ficava no próprio quarto das crianças. Tinha um talento nato para saber quando uma tosse era algo sem importância ou quando exigia um cachecol no pescoço. Acreditava piamente na eficácia dos remédios antigos, como folha de ruibarbo. Bufava em desprezo quando ouvia modernices sobre germes e coisas do tipo. Vê-la acompanhando as crianças à escola era uma aula de etiqueta: caminhava placidamente ao lado delas quando andavam bem-comportadas e lhes dava cabeçadas até voltarem para a fila caso tentassem se desviar do caminho. Nos dias em que John tinha futebol, ela nunca esquecia de fazê-lo levar um agasalho. Nana geralmente carregava um guarda-chuva na boca, caso chovesse. Na escola da senhorita Fulsom havia um porão que servia como sala de espera para as babás. Lá, todas aguardavam sentadas em cadeiras escolares enquanto Nana ficava deitada no chão. Essa era a única diferença entre elas. As babás agiam como se Nana não estivesse lá, como se fossem de uma classe muito superior, e a cachorra, por sua vez, tinha horror às fofocas. Nana também não gostava nem um pouco das visitas que as amigas da senhora Darling faziam ao quarto das crianças. Ainda assim, quando isso acontecia, ela trocava o babador de Michael por um azul com bordados, ajeitava as roupas de Wendy e dava uma lambida rápida no cabelo de John.
Nenhum outro quarto de criança era cuidado de maneira mais correta. O senhor Darling sabia disso, embora às vezes se preocupasse com o que os vizinhos pudessem comentar.
Afinal, ele tinha uma reputação a zelar na sociedade.
Havia outra questão sobre Nana que também o inquietava. Ele às vezes tinha a impressão de que ela não o respeitava.
— Tenho certeza de que ela tem uma enorme admiração por você, George — a senhora Darling tentava acalmá-lo e então sinalizava às crianças para que fossem especialmente amorosas com o pai.
Logo começavam a dançar alegremente, ocasiões em que a única outra criada, Liza, às vezes era convidada a participar. Ela parecia uma anã com sua saia longa e a touca de empregada, grandes demais para ela, embora tivesse jurado quando foi contratada que seus tempos de criança tinham ficado para trás. Como eram alegres aquelas brincadeiras! Mais alegre ainda era a senhora Darling, rodopiando tão animadamente que a única coisa visível nela era o beijo. Nesses momentos, se alguém corresse até ela talvez conseguisse roubá-lo. Não havia no mundo família mais feliz. Isso durou até a chegada de Peter Pan.
A primeira vez que a senhora Darling ouviu falar sobre Peter Pan foi quando estava organizando os pensamentos de seus filhos. É costume de toda boa mãe, depois que as crianças vão dormir à noite, vistoriar as mentes delas e garantir que tudo esteja em ordem para a manhã seguinte, recolocando nos devidos lugares os muitos pensamentos que vagaram por lá durante o dia. Se você conseguisse ficar acordado durante a noite (coisa da qual obviamente não é capaz), poderia ver sua mãe fazendo o mesmo. Aposto que acharia muito interessante assisti-la. É como organizar gavetas. Você veria sua mãe ajoelhada, imagino, perdida em pensamentos divertidos sobre algo que ela encontrou lá dentro da sua cabeça, perguntando-se onde é que você foi descobrir aquelas coisas, fazendo deduções agradáveis e outras nem tanto.
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