Não, Sr.

TEIXEIRA - Ora, tu sabes! Ficaste corada.

JÚLIA - Foi porque Ernesto riu-se.

TEIXEIRA (a ERNESTO) - Falas ou não?

ERNESTO - Tenho a palavra aqui atravessada na garganta! Lá vai!

TEIXEIRA - Ainda bem! O que é?

ERNESTO - Escute, meu tio. Eéééé...

TEIXEIRA - É...

ERNESTO - Queêêêê....

TEIXEIRA - Já vejo que é preciso ajudar-te! É que...

ERNESTO - Euuu... (Júlia faz sinal que não...) Quero...

TEIXEIRA - Ah! Queres brincar? Pois não estou para te aturar. (Sobe.)

CENA XVII

Os mesmos, D. MARIANA, depois PEREIRA

D. MARIANA (entrando) - Então, por quem se espera? São quase dez horas.

TEIXEIRA - Vamos, D. Mariana.

ERNESTO (a JÚLIA, baixo) - Está tudo perdido.

PEREIRA - Permitam o ingresso. O Sr. Teixeira?

TEIXEIRA - Um seu criado. O que pretende o Sr.?

PEREIRA - Tomei a liberdade de oferecer a V.EX.a esta minha produção poética por ocasião do fausto motivo que enche hoje esta casa de júbilo.

TEIXEIRA - Não tenho excelência; nem o compreendo. Queira explicar-se.

PEREIRA - Com muito gosto. A minha veia poética inspirou-me este epitalâmio que ofereço ao doce himeneu, às núpcias venturosas, ao feliz consórcio da senhora sua filha com o senhor seu sobrinho. (Espanto geral).

JÚLIA (escondendo o rosto) - Ah!...

ERNESTO - Bravo!

D. MARIANA - Calúnias, Sr. Teixeira!

TEIXEIRA - O consórcio de minha filha com meu sobrinho!... O senhor está louco!

PEREIRA (a TEIXEIRA) - É verdade que alguns espíritos mesquinhos chamam os poetas de loucos, porque não os compreendem; mas V.Ex.a não está neste número.

TEIXEIRA - Entretanto, o senhor vem com um despropósito! Onde ouviu falar de casamento de minha filha?

PEREIRA - Há muito tempo sabia que o senhor seu sobrinho e a senhora sua filha se amam ternamente...

TEIXEIRA (olhando JÚLIA e ERNESTO, cabisbaixos) - Se amam ternamente!... (A PEREIRA) E que tem isto? Quando mesmo fosse verdade, é natural; são moços, são primos...

PEREIRA - Por isso, sendo hoje um sábado, e não tendo V.Ex.a ido à Praça, conjeturei que as bodas, a feliz união dos dois corações...

TEIXEIRA conjeturou mal; e para outra vez seja mais discreto em não intrometer-se nos negócios de família.

PEREIRA - E a poesia? V.Ex.a não a recebe?

TEIXEIRA - Leve a quem a encomendou; ele que lhe pague! (Voltando-lhe as costas.)

ERNESTO (baixo, a PEREIRA) - É justo que seja eu que aproveitei. O senhor não sabe o serviço que me prestou. (Dando-lhe um bilhete) Tome e safe-se quanto antes.

PEREIRA - Entendo!

ERNESTO (a JÚLIA e D. MARIANA) - Sublime raça que é esta dos poetas! Sem o tal Sr. Pereira ainda estava engasgado com a palavra, e ele achou uma porção de sinônimos: consórcio, feliz união, bodas, núpcias, himeneu e não sei que mais...

PEREIRA (a TEIXEIRA) - Peço a V.Ex.a queira desculpar.

TEIXEIRA - Está bom, Sr., não falemos mais nisto.

PEREIRA - Passar bem. (Sai.)

CENA XVIII

TEIXEIRA, ERNESTO, JÚLIA, MARIANA, depois CUSTÓDIO

TEIXEIRA acompanha PEREIRA que sai pelo fundo].

JÚLIA (a D. MARIANA) - Não tenho ânimo de olhar para meu pai!

D. MARIANA - Ele não foi moço? Não amou? [TEIXEIRA desce).

ERNESTO - Aí vem o temporal desfeito.

TEIXEIRA - Com que então ama-se nesta casa; a gente de fora sabe; e eu sou o último a quem se diz...

ERNESTO - Perdão, meu tio, não tive ânimo de confessar-lhe.

TEIXEIRA - E tu, Júlia, que dizes a isto?

D. MARIANA (a JÚLIA, baixo) - Fale! Não tenha medo!

JÚLIA - Papai!...

TEIXEIRA - Percebo... Queres casar com teu primo, não é? Pois está feito!

JÚLIA - Ah!

D. MARIANA - Muito bem!

TEIXEIRA (a ERNESTO) - Com uma condição, porém; não admito epitalâmios, nem versos de qualidade alguma.

ERNESTO - Sim, meu tio; tudo quanto o Sr. quiser! Hoje mesmo podia ser... É sábado...

TEIXEIRA - Alto lá, Sr. estudante! Vá se formar primeiro e volte.

(D. MARIANA sobe e encontra-se com CUSTÓDIO.)

ERNESTO -- Oito meses!...

D.