A tribo dos esquilos tentou a mesma coisa e deu certo. A espécie humana está interessada nessas experiências, mesmo que algumas velhas incapacitadas para isso, ou as viúvas que herdaram um terço dos moinhos, possam se sentir alarmadas.
Meus acessórios domésticos, sendo que uma parte da mobília eu mesmo fiz e o restante não me custou nada de que eu não tenha prestado contas, consistiam em uma cama, uma mesa, uma escrivaninha, três cadeiras, um espelho com 7,5 centímetros de diâmetro, um par de tenazes e suporte de lenha para a lareira, um tacho, uma caçarola e uma frigideira, uma caneca, uma bacia, duas facas e dois garfos, três pratos, uma xícara, uma colher, uma jarra para óleo, uma jarra para melado e uma lâmpada esmaltada. Ninguém é tão pobre que precise sentar numa abóbora. Isso é incapacidade. Existem montes de cadeiras das que eu mais gosto nos sótãos da cidade, que basta pegar e levar. Mobília! Graças a Deus, posso sentar e ficar de pé sem a ajuda de uma loja de mobílias. Que homem, a não ser um filósofo, não se envergonharia de ver sua mobília amontoada numa carroça e andando exposta à luz dos céus e aos olhos dos homens, uma miserável apresentação de caixas vazias? Aquela é a mobília do Spaulding. Eu jamais saberia dizer, olhando uma carga dessas, se ela pertencia a um homem dito rico ou pobre; o dono sempre parecia afundado na pobreza. De fato, quanto mais você tem dessas coisas, mais pobre você é. Cada carga parece o conteúdo de doze barracos; se um barraco é pobre, ela é doze vezes pobre. Ora por favor, para que a gente se muda, se não for para se livrar da mobília, das exuviae; e finalmente passar deste para outro mundo com mobília nova, deixando esta aqui para ser queimada? É como se todos esses pertences estivessem presos ao cinto de um homem, e ele não conseguisse andar pelo campo acidentado onde lançamos nossas linhas sem arrastar junto essa sua armadilha. Teve sorte a raposa que deixou o rabo na armadilha. O rato almiscarado roerá a terceira pata para se libertar. Não admira que o homem tenha perdido sua elasticidade. Quantas vezes ele fica entalado! “Senhor, desculpe-me perguntar, o que o senhor quer dizer com entalado?” Se você é observador, sempre que encontrar um homem você verá que tudo o que ele tem, coitado, e muito do que finge não ter, vai se arrastando atrás dele, até seus utensílios de cozinha e todos os trastes que ele guarda e não queimará, e o sujeito vai parecer atrelado àquilo, avançando a duras penas. Digo que o homem fica entalado quando ele passa por uma fresta ou por um portão, e a carga com a mobília não consegue passar. Não consigo deixar de sentir dó quando ouço algum homem de ar asseado e composto, aparentemente livre, todo lépido e animado, falando de sua “mobília” como se estivesse ou não estivesse no seguro. “Mas o que vou fazer com minha mobília?” E eis aí minha alegre borboleta emaranhada numa teia de aranha. Mesmo aqueles que faz tempo que parecem não ter nenhum móvel, se você indagar um pouco mais, vai descobrir que têm alguma coisa guardada no celeiro de alguém. Vejo a Inglaterra de hoje como um velho cavalheiro viajando com uma montanha de bagagens, quinquilharias que acumulou em muitos anos de casa e não tem coragem de queimar; mala grande, mala pequena, chapeleira, pacote. Jogue fora pelo menos os três primeiros. Hoje em dia, ultrapassaria as forças de um homem sadio levantar a cama e sair andando, e com certeza aconselho ao doente que deixe a cama e saia correndo. Quando encontrei um imigrante cambaleando sob uma trouxa que trazia tudo o que tinha – parecendo um cisto que lhe havia crescido na nuca –, fiquei com pena dele, não porque era tudo o que tinha, mas porque tinha tudo aquilo para carregar. Se eu tiver de arrastar a armadilha de meus pertences, vou cuidar que seja leve e não me belisque numa parte vital. Mas talvez seja mais sábio nunca pôr a pata nela.
Aliás, eu comentaria que não gasto nada com cortinas, pois não tenho quem me espreite de fora a não ser o sol e a lua, e estes muito me agrada que espreitem dentro de casa. A lua não vai azedar meu leite nem estragar minha carne, o sol não vai manchar minha mobília nem desbotar meu tapete, e se às vezes ele é um amigo caloroso demais, ainda acho melhor providência me refugiar atrás de alguma cortina oferecida pela natureza do que acrescentar um item que seja aos detalhes domésticos. Certa vez uma senhora me ofereceu um capacho, mas como eu não tinha espaço sobrando dentro de casa, nem tempo sobrando dentro ou fora de casa para abaná-lo, declinei, preferindo limpar os pés na grama na frente da porta. É melhor evitar o mal desde o começo.
Não muito tempo depois, assisti ao leilão dos efetivos de um pároco, pois efetiva não deixara de ser sua vida:
“O mal que os homens fazem sobrevive a eles.”
Como de costume, uma grande parte eram quinquilharias que tinham começado a se acumular desde a época do pai dele. Entre os restos havia uma lombriga seca. E agora, depois de passar meio século no sótão e outros desvãos cheios de pó, essas coisas não foram queimadas; em vez de um bom fogo, ou a destruição purificadora delas, houve uma hasta ou o aumento delas.
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