Que provocação! Mas acho que é melhor sentarmos imóveis, pois se pode tropeçar tanto em uma multidão como essa! Como está minha cabeça, querida? Alguém me deu um empurrão que temo ter desarrumado meu penteado”.

“Não, na verdade, está muito bem. Mas, querida senhora Allen, você está segura de que não há ninguém que a senhora conheça em toda essa multidão de pessoas? Acho que você deve conhecer alguém”.

“Não, juro. Gostaria de conhecer. Sinceramente, queria ter muitos conhecidos aqui, e então eu lhe arranjaria um parceiro. Eu ficaria tão feliz por você dançar. Lá vai uma mulher esquisita! Que vestido estranho ela está usando! Como é antiquado! Olhe para as costas”.

Depois de algum tempo, foi-lhes oferecido chá por algum de seus vizinhos, o qual foi polidamente aceito, e isso levou a uma leve conversa com o cavalheiro que fez a oferta, sendo esta a única vez em que alguém falou com elas durante a noite, até que foram descobertas pelo senhor Allen, que se juntou às duas quando as danças se encerraram.

“Bem, senhorita Morland”, ele disse, diretamente, “espero que tenha tido um baile agradável”.

“Muito agradável, de fato”, ela replicou, tentando em vão esconder um grande bocejo.

“Queria que ela tivesse dançado”, disse sua esposa; “queria que tivéssemos arrumado um parceiro para ela. Eu estava dizendo que ficaria muito feliz se os Skinners estivessem aqui neste inverno ao invés do último. Ou se os Parrys tivessem vindo, como falaram uma vez. Ela poderia ter dançado com George Parry. Estou tão triste por ela não ter tido um parceiro!”

“Faremos melhor em outra noite, espero” consolou o senhor Allen.

O grupo começou a se dispersar quando as danças terminaram, sendo o suficiente para deixar espaço para que o restante pudesse caminhar com algum conforto. Agora era a hora para uma heroína que não tinha ainda interpretado um papel mais distinto nos eventos da noite ser descoberta e admirada. A cada cinco minutos, ao desmanchar da multidão, abriam-se mais oportunidades para seus encantos. Ela era agora observada por muitos jovens que não tinham se aproximado dela antes. Nenhum, porém, começou a contemplá-la com arrebatado assombro. Nenhum sussurro de ansiosa curiosidade começou a circular pela sala. Nem ela foi chamada de divindade por alguém alguma vez. Contudo, estava bonita e, tivessem aquelas pessoas visto Catherine três anos antes, agora eles a teriam achado demasiadamente encantadora.

Ela era observada, entretanto, e com alguma admiração, pois, como ela mesma ouviu, dois cavalheiros disseram que ela era uma garota bonita. Tais palavras tiveram seu devido efeito. Ela pensou imediatamente que a noite fora mais agradável do que ela achara até então. Sua humilde vaidade estava saciada. E ela se sentia mais grata aos dois jovens por esse simples elogio do que uma heroína de genuína qualidade teria estado por quinze sonetos celebrando seus encantos, e rumou à sua cadeira de bom humor com todos, perfeitamente satisfeita com o que recebeu de atenção pública.

CAPÍTULO 3

Toda manhã trazia agora seus deveres normais: lojas que deveriam ser visitadas; alguma nova parte da cidade que deveria ser observada; a casa de bombas[1], onde caminhavam para cima e para baixo por uma hora, olhando para todo mundo e não falando com ninguém. O desejo das numerosas amizades em Bath era ainda forte na senhora Allen, e ela o sentia a cada nova prova trazida pela manhã, pois lá ela não conhecia ninguém.

As duas fizeram sua aparição nos Salões Baixos e, aqui, o destino foi mais favorável à nossa heroína. O mestre de cerimônias a apresentou a um jovem muito cavalheiro para parceiro. Seu nome era Tilney. Ele parecia ter 24, 25 anos, era bem alto, tinha feições agradáveis, olhos muito inteligentes e lívidos e, se não era muito bonito, estava perto disso. Sua abordagem era boa, e Catherine se sentiu com muita sorte. Havia pouco tempo livre para falar enquanto dançavam, mas quando se sentaram para o chá, ela o descobriu tão agradável quanto acreditava que ele fosse. Ele conversava com fluência e espírito, e havia uma malícia e uma graça em seus modos que chamavam atenção, embora dificilmente fossem compreendidas por ela. Depois de conversar por algum tempo sobre aqueles assuntos que surgiram naturalmente dos objetos ao redor deles, ele subitamente se dirigiu a ela com – “Até então fui muito negligente, madame, quanto às atenções apropriadas a um parceiro; ainda não lhe perguntei há quanto tempo está em Bath; se já esteve aqui antes; se já foi aos Salões Superiores, ao teatro e ao concerto; e se gostou do lugar. Fui muito negligente – mas, está disposta a me satisfazer com tais detalhes? Se estiver, começarei imediatamente”.

“Não precisa se dar ao trabalho, senhor”.

“Nenhum trabalho, eu lhe asseguro, madame”.