Os convidados se compunham apenas de homens: oficiais e alguns proprietários de terras dos arredores. Entre os proprietários de terra, o mais digno de nota era Pifagór Pifagóritch Tchertokútski, um dos mais importantes aristocratas do distrito de B..., que fizera mais barulho do que todos os outros nas eleições e costumava chegar ali em uma elegante carruagem. Havia servido em um dos regimentos de cavalaria, tendo sido um dos mais destacados e notáveis oficiais. Pelo menos, por onde passava o seu regimento, ele podia ser visto em todos os bailes e assembleias. A propósito, pode-se muito bem perguntar sobre isto às donzelas das províncias de Tambov e Simbirski. É bem provável que ele houvesse granjeado boa reputação também nas demais províncias, se não tivesse se demitido por causa de um acontecimento a que geralmente se referem como uma “história desagradável”: não me lembro bem se foi ele que deu um tabefe em alguém ou se foi ele que levou o tabefe, mas o fato é que pediram para ele se retirar. Apesar disso, ele não perdera nada-nada de sua dignidade: usava um fraque de cintura alta, à moda dos uniformes militares, botas com esporas e bigodes embaixo do nariz, de maneira que os nobres não pensassem que ele servira na infantaria a qual desprezara e que com desdém às vezes chamava de regimento de infantagem ou de regimento de infantice. Ele frequentava as feiras mais concorridas, para onde toda a província russa acorria com suas mãezinhas, filhos, filhas e os seus gorduchos proprietários de terra, que lá chegavam para se divertir nas britchkas, charretes, caleches e umas carruagens que não se podem ver nem mesmo em sonhos. Ele tinha bom faro para saber onde encontrar um regimento de cavalaria e para lá se dirigir com o intuito de conhecer os senhores oficiais. Muito ágil, saltava de sua leve carruagem ou de uma drojki e de modo extraordinário logo travava conhecimento com eles. Por ocasião das últimas eleições, ofereceu um grande banquete à nobreza, no qual anunciou que, se o elegessem dirigente, ganhariam as melhores posições. De modo geral, conduzia-se “à la grão-senhor”, como se diz nas províncias e distritos. Casara-se com uma jovenzinha bastante bonita, que lhe trouxera um dote de duzentas almas e alguns milhares de rublos de capital. O capital foi imediatamente empregado para a aquisição de seis cavalos realmente soberbos, fechaduras douradas para as portas, um macaco domesticado e um mordomo francês. As duzentas almas e mais umas duzentas de sua propriedade foram penhoradas para certos investimentos comerciais. Em uma palavra, era um proprietário de terras como se deve... um verdadeiro proprietário de terras.

Além dele, estiveram também presentes no almoço na casa do general outros proprietários de terra, mas deles não há nada que dizer. Os demais eram todos militares daquele mesmo regimento e dois oficiais do estado-maior: um coronel e um major bem gordo. O general era gordão e corpulento, mas um bom chefe, segundo os oficiais. Ele falava com voz muito expressiva de um baixo profundo. O almoço foi extraordinário: esturjão, beluga, esturjão seco, abetarda, aspargos, codornas, perdizes e cogumelos demonstravam que o cozinheiro desde a véspera ainda não tivera tempo de colocar nada na boca. Além disso, quatro soldados, facas em mãos, ajudavam a noite inteira na preparação de fricassês e geleias. Garrafas de montão: as compridas com Lafite, as mais bojudas com Madeira. Era um magnífico dia de verão, todas as janelas abertas, pratos com gelo nas mesas, o peitilho amarrotado por debaixo do fraque bem feito, a conversa cruzada dominada pela voz do general e regada a champanhe — enfim, tudo às mil maravilhas. Depois do almoço, todos se levantaram com um agradável peso no estômago, acenderam cachimbos de tubos longos, outros curtos e saíram para o terraço com uma xícara de café nas mãos.

— Bem, é chegado o momento de vê-la — disse o general. — Por favor, meu caro — ordenou, dirigindo-se ao seu ajudante, um jovem bem esperto e de boa aparência. — Peça que tragam aqui a égua baia! Os senhores verão com os próprios olhos. — Então o general sorveu o cachimbo e soltou a fumaça. — Ela ainda não está bem cuidada: nesta maldita cidade não há uma estrebaria que preste. É um cavalo, puf, puf, muito bom mesmo!

— E já faz tempo, Excelência, puf, puf, que o senhor a tem? — disse Tchertokútski.

Puf, puf, puf, bem...