puf, não muito tempo. Eu a trouxe há uns dois anos.

— E foi Vossa Excelência que a adestrou aqui, ou ela já veio adestrada?

Puf, puf, pu, pu, pu... u... u... f aqui. — Ao dizer isto o general desapareceu em meio à fumaça.

Enquanto isso, um soldado saltou da estrebaria, ouviu-se o ruído de cascos e apareceu um outro soldado vestido de casacão branco, com enormes bigodes pretos, conduzindo pelas rédeas um cavalo trêmulo e assustado, que, de súbito, ergueu a cabeça e por pouco não arremessou aos ares o soldado junto com seus bigodes.

— Eia! Eia! Agrafiena Ivánovna! — disse ele, conduzindo o cavalo sob o terraço.

A égua se chamava Agrafiena Ivánovna: robusta e arisca como uma beldade do sul. Ela bateu com força os cascos no terraço de madeira e de repente parou.

O general colocou de lado o cachimbo e passou a observar Agrafiena Ivánovna com ar satisfeito. O coronel em pessoa desceu do terraço e a conduziu pelo focinho. O major deu então umas palmadas nas pernas de Agrafiena Ivánovna e os demais estalaram a língua.

Tchertokútski desceu do terraço e se aproximou dela por detrás. O soldado, sem deixar de manter as rédeas bem seguras, encarou os visitantes como se quisesse enfrentá-los.

— Excelente, excelente mesmo! — disse Tchertokútski —, é um belo cavalo! Permite-me, Excelência, ver como ela anda?

— Ela tem um passo muito bom, mas agora só o diabo sabe que pílulas aquele idiota do doutor lhe deu, pois já faz dois dias que ela não para de espirrar.

— Muito bom, cavalo muito bom! Certamente Vossa Excelência possui uma carruagem à altura.

— Uma carruagem?... Mas trata-se de um cavalo de montar!

— Eu sei disso, mas perguntei apenas para saber se Vossa Excelência possui carruagens adequadas para os outros cavalos.

— Bem, não tenho mesmo carruagens suficientes. Para ser franco, há muito tempo gostaria de ter uma carruagem como as atuais. Escrevi a propósito ao meu irmão, que agora está em Petersburgo, mas na verdade não sei se ele vai me enviar ou não.

— Para mim, Excelência — observou o coronel —, não existem melhores carruagens do que as de Viena.

— O senhor tem razão, puf, puf, puf.

— Tenho, Excelência, uma carruagem magnífica de genuína fabricação vienense.

— Qual? Aquela com a qual chegou?

— Ah, não! Esta é própria apenas para minhas viagenzinhas, mas a outra... é um espetáculo, leve como uma pena, e quando a gente se senta nela, então, Excelência, se me permite, é como se uma aia o embalasse em um berço!

— Então é bem confortável?

— Muito, muito confortável; as almofadas, as molas... tudo parece uma pintura.

— Que beleza!

— E as acomodações, então? Eu nunca vi coisa igual, Excelência. Quando eu ainda estava em serviço, cabiam no seu maleiro dez garrafas de rum e umas vinte libras de tabaco, sem contar, Excelência, que ainda levava comigo uns seis uniformes, roupa-branca, dois cachimbos dos mais compridos, e nos bolsos ainda dava para colocar um boi inteiro.

— Que beleza!

— Paguei por ela quatro mil rublos, Excelência.

— A julgar pelo preço, deve ser boa mesmo. E foi o senhor mesmo que a comprou?

— Não, Excelência, a consegui, assim, de ocasião. Meu amigo a comprou, pessoa muito rara, amigo meu de infância, com o qual o senhor se daria muito bem. O que era de um era do outro, tanto fazia. Ganhei-a dele no jogo de cartas. Se Vossa Excelência me der a honra de vir almoçar comigo amanhã, então poderá vê-la também.

— Não sei bem o que lhe dizer. Eu assim sozinho, não sei bem... A não ser que o senhor me permita ir acompanhado por dois oficiais.

— Claro, por favor, os senhores oficiais também. Senhores, será para mim uma grande honra ter o prazer de recebê-los em minha casa!

O coronel, o major e os demais oficiais agradeceram com cortesia e fizeram uma reverência.

— Eu mesmo, Excelência, também penso que, quando compramos alguma coisa, tem que ser boa, caso contrário, é melhor não comprar nada. Amanhã, em minha casa, por exemplo, quando me derem a honra de me visitar, lhes mostrarei algumas aquisições minhas de uso doméstico.

O general observou-o e deixou a fumaça escapar da boca.

Tchertokútski ficou muito satisfeito de ter convidado os senhores oficiais, e mentalmente começou desde logo a encomendar os patês e molhos, olhando alegremente para os senhores oficiais, que, de sua parte, também pareciam agora redobrar a simpatia para com ele, o que podia ser notado pelos seus olhos e pelos pequenos movimentos do corpo na forma de ligeiras saudações.

Tchertokútski passou a se conduzir de modo mais desenvolto, a voz tornou-se então mais relaxada, com uma entonação plena de contentamento.

— Vossa Excelência conhecerá também a dona da casa.

— Com muito prazer — disse o general, acariciando o bigode.

Depois disso, Tchertokútski quis voltar para casa imediatamente a fim de preparar com antecedência a recepção para o almoço do dia seguinte. Ele já segurava o chapéu, mas ocorreu qualquer coisa estranha, e ele se demorou ainda mais alguns instantes. Enquanto isso, as mesas de jogo já estavam postas e logo todos se dividiram em grupos de quatro para jogar whist, instalando-se em diferentes cantos da casa do general.

Trouxeram as velas. Tchertokútski hesitou um bom tempo se ficaria ou não para o whist. Mas como os senhores oficiais insistiam, pareceu-lhe que recusar o convite estaria muito em desacordo com as regras da vida em sociedade. Sentou-se.