A Consciência de Zeno

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© dall'Oglio editore 1938

 

Título original: LA COSCIENZA DI ZENO

 

Direitos adquiridos para a língua portuguesa, no Brasil, pela

 

EDITORA NOVA FRONTEIRA S.A.

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Diagramação

Gustavo Meyer

 

Revisão

Jorge Uranga

 

Posfácio

Alfredo Bosi

 

 

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

 

 

S974

 

Svevo, Italo, 1861-1928

A consciência de Zeno / Italo Svevo, tradução de Ivo Barroso. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. (Grandes Romances)

 

Tradução de: La conscienza di Zeno.

 

ISBN 85.209.1237-0

 

1. Romance italiano. 1. Barroso, Ivo. II. Titulo. III. Série.

 

CDD 853

CDU 850-3

 

Sumário

Prefácio

Preâmbulo

O fumo

A morte de meu pai

A história de meu casamento

A mulher e a amante

História de uma sociedade comercial

Psicanálise

 

Posfácio — Uma cultura doente?

PREFÁCIO

 

Sou o médico de quem às vezes se fala neste romance com palavras pouco lisonjeiras. Quem entende de psicanálise sabe como interpretar a antipatia que o paciente me dedica.

Não me ocuparei de psicanálise porque já se fala dela o suficiente neste livro. Devo escusar-me por haver induzido meu paciente a escrever sua autobiografia; os estudiosos de psicanálise torcerão o nariz a tamanha novidade. Mas ele era velho, e eu supunha que com tal evocação o seu passado reflorisse e que a autobiografia se mostrasse um bom prelúdio ao tratamento. Até hoje a idéia me parece boa, pois forneceu-me resultados inesperados, os quais teriam sido ainda melhores se o paciente, no momento crítico, não se tivesse subtraído à cura, furtando-me assim os frutos da longa e paciente análise destas memórias.

Publico-as por vingança e espero que o autor se aborreça. Seja dito, porém, que estou pronto a dividir com ele os direitos autorais desta publicação, desde que ele reinicie o tratamento. Parecia tão curioso de si mesmo! Se soubesse quantas surpresas poderiam resultar do comentário de todas as verdades e mentiras que ele aqui acumulou!...

 

DOUTOR S.

PREÂMBULO

 

Rever a minha infância? Já lá se vão mais de dez lustros, mas minha vista cansada talvez pudesse ver a luz que dela ainda dimana, não fosse a interposição de obstáculos de toda espécie, verdadeiras montanhas: todos esses anos e algumas horas de minha vida.

O doutor recomendou-me que não me obstinasse em perscrutar longe demais. Os fatos recentes são igualmente preciosos, sobretudo as imagens e os sonhos da noite anterior. Mas é preciso estabelecer uma certa ordem para poder começar ab ovo. Mal deixei o consultório do médico, que deverá estar ausente de Trieste por algum tempo, corri a comprar um compêndio de psicanálise e li-o no intuito de facilitar-me a tarefa. Não o achei difícil de entender, embora bastante enfadonho.

Depois do almoço, comodamente esparramado numa poltrona de braços, eis-me de lápis e papel na mão. Tenho a fronte completamente descontraída, pois eliminei da mente todo e qualquer esforço. Meu pensamento parece dissociado de mim. Chego a vê-lo. Ergue-se, torna a baixar... e esta é sua única atividade. Para recordar-lhe que é meu pensamento e que tem por obrigação manifestar-se, empunho o lápis. Eis que minha fronte se enruga ao pensar nas palavras que são compostas de tantas letras.