Fui tomado por uma ira que me punha a cabeça a girar. Devo dizer que, como sempre, em meu espírito lutavam duas personalidades; a mais racional delas me dizia: "Imbecil! Por que acha que sua mulher trai você? Não precisaria interná-lo para ter essa oportunidade." A outra, a que certamente queria fumar, também me chamava de imbecil e gritava: "Ignora você a comodidade que advém da ausência do marido? E com o doutor, a quem você está pagando!"

Giovanna, sem parar de beber, falava:

— Esqueci de fechar a porta do segundo andar. Mas não quero subir e descer de novo dois andares. Seja como for, há gente lá embaixo e o senhor se daria mal se tentasse escapar.

— Nem pense nisso! — disse eu com o mínimo da hipocrisia necessária para enganar a pobre. Depois ingeri também uns goles de conhaque e declarei que, tendo bebida à vontade, já não fazia questão dos cigarros. A mulher acreditou imediatamente em mim e então contei que, na verdade, não queria afastar-me do fumo. Minha mulher, sim, é que o queria. Pois quando eu chegava a fumar uma dezena deles ficava insuportável. Qualquer mulher que estivesse ao meu alcance corria risco.

Giovanna pôs-se a rir ruidosamente, abandonando-se na poltrona:

— E a sua mulher é quem o impede de fumar os dez cigarros de que necessita?

— Ela mesma! Pelo menos costumava impedir.

Giovanna não era nada tola, mesmo com todo aquele conhaque no sangue. Foi tomada por um acesso de riso que quase a fez cair da poltrona; contudo, quando o fôlego permitiu, com palavras espaçadas pintou um magnífico esboço do que minha doença lhe sugeria:

— Dez cigarros... meia hora... põe-se o despertador... e depois...

Corrigi-a:

— Com dez cigarros preciso de cerca de uma hora. Depois, para chegar ao pleno efeito é necessário ainda meia hora, dez minutos a mais, dez minutos a menos.

Giovanna ficou subitamente séria e levantou-se sem grande esforço da poltrona. Disse que ia deitar-se, sentia um pouco de dor de cabeça. Convidei-a a levar a garrafa consigo, pois eu já havia bebido o suficiente. Para disfarçar, disse-lhe que no dia seguinte queria que me trouxesse um bom vinho. Ela, porém, não pensava em vinho. Antes de sair com a garrafa sob o braço lançou-me um olhar que me deixou aturdido.

A porta ficara aberta; passados alguns instantes caiu em meio ao quarto um pacote que logo apanhei: continha onze cigarros exatamente. Para estar segura, a pobre Giovanna mostrara-se pródiga. Cigarros ordinários, húngaros. Mas o primeiro que acendi revelou-se ótimo. Senti-me profundamente aliviado.

A princípio pensei que me regozijava por haver iludido aquela casa, excelente para encerrar crianças, não um homem como eu. Depois me ocorreu que tinha iludido igualmente a minha mulher, pagando-lhe na mesma moeda. Não fosse assim, por que então meu ciúme se havia transformado numa curiosidade tão suportável? Fiquei tranqüilo onde estava, fumando os cigarros nauseabundos.

Meia hora depois, recordei que precisava escapar daquela casa onde Giovanna estava à espera de sua recompensa. Tirei os sapatos e saí para o corredor. A porta do quarto de Giovanna mantinha-se entreaberta e, a julgar pela sua respiração regular e rumorosa, pareceu-me que dormia. Subi com toda cautela até o segundo andar e uma vez atravessada aquela porta que era o orgulho do Dr. Muli voltei a calçar os sapatos. Alcancei o patamar e me pus a descer as escadas, lentamente para não despertar suspeitas.