Exigiam tratamento especial – e o obtinham – pelo suborno. Essa violação dos bons costumes irritou os outros turistas, que respeitavam os termos do contrato acertado com uma agência de viagens, o que incluía o serviço.

O grupo monopolizava a mesa de bilhar e garantia para si as melhores cadeiras. Eram sempre servidos primeiro em todas as refeições; pratos eram adiantados, e a água do banho era sempre morna.

Até mesmo o pároco considerava um esforço mostrar-se benevolente. Fazia o possível para tomar em consideração o vigor da mocidade, embora soubesse que muitos daquele grupo não podiam ser considerados juvenis.

Infelizmente, entre os chamados amigos de Iris havia duas pessoas que não honravam em nada a nação inglesa; e como era difícil distinguir entre uma e outra garota em trajes de banho, a sra. Barnes tinha a opinião de que todas estavam fazendo a mesma coisa: passando férias regadas a bebida e sexo.

Seu padrão de decência era ofendido pelos banhos de sol e suas noites, perturbadas pelo barulho. Por isso, estava particularmente satisfeita com a possibilidade de passar dois dias tranquilos, em meio a um cenário de esplendor e companhias agradáveis.

Aparentemente, no entanto, a turminha não tinha se mandado por completo; havia uma remanescente, essa garota – e talvez houvesse mais. A sra. Barnes se lembrava vagamente de Iris, por ela ser bonita e por ter sido perseguida por um banhista e sua matrona.

Como o homem era casado, Iris não podia se orgulhar muito de sua escolha. Mas ela parecia estar tão exausta que o gentil coração da sra. Barnes logo a reprimiu por sua falta de compaixão.

“Eles te deixaram sozinha?”, perguntou, com a voz luminosa.

Iris deu de ombros à inesperada tentativa de aproximação. Naquele momento, a última coisa que ela queria era responder ao interesse de uma pessoa madura, o que, por experiência, escondia a curiosidade.

“Sim”, respondeu.

“Ó, querida, que vergonha. Está se sentindo sozinha?”

“Não.”

“Mas você é muito jovem para viajar sem amigos. Nenhum familiar pôde vir com você?”

“Não tenho ninguém.”

“Não tem família?”

“Não, nem parentes. Sou uma sortuda, não sou?”

Iris não estava perto o suficiente para ouvir o suspiro apavorado das srtas. Flood-Porter; mas o silêncio da sra. Barnes dizia que o desdém de Iris continuava o mesmo. Para evitar outra inquisição, ela fez um esforço sobre-humano para se levantar, pois todas as suas juntas estavam rígidas, e conseguiu se arrastar para dentro do hotel e subir as escadas até o quarto.

A sra. Barnes tentou atenuar o incidente com uma risada.

“Acho que cometi outra gafe”, disse. “Com certeza ela ficou magoada comigo. Mas seria algo desumano ficar sentadas aqui como bonecas e não demonstrar nenhum interesse por ela.”

“Acha que ela está interessada em você?”, perguntou a srta. Rose. “Ou em nós? Moças como ela são egoístas. Ela não levantaria um dedo nem moveria uma palha para ajudar alguém.”

Só havia uma resposta para essa pergunta, uma resposta que a sra. Barnes era gentil demais para dar. Então preferiu ficar em silêncio, pois mentir é que não ia.

Nem ela, nem ninguém, poderia prever o curso das próximas vinte e quatro horas, nas quais essa moça, sozinha diante de uma multidão de testemunhas, sofreria uma angústia capaz de ameaçar sua sanidade em nome de uma pessoa estranha por quem ela não nutria nenhum sentimento pessoal.

Ou melhor: uma angústia por não saber se existia de fato uma srta. Froy.

C A P Í T U L O 4

Inglaterra chamando

Como ela tinha um quadrado na palma da mão, que, segundo uma quiromante, significava segurança, Iris acreditava que vivia numa área protegida. Embora tenha rido ao escutar a revelação, impressionou-se secretamente, pois sua vida tinha uma proteção especial.

Nessa conjuntura, as estrelas, como sempre, pareciam lutar por ela. As montanhas tinham enviado um alerta preliminar. Além disso, algumas pessoas tentaram se aproximar dela durante a noite, o que poderia tê-la libertado do isolamento mental.

No entanto, ela cortava propositalmente qualquer elo que a ligasse à segurança, como resultado da falsa lealdade aos amigos.

Iris sentiu falta deles assim que entrou na sala de estar, silenciosa e deserta. Ao caminhar pelo corredor, passou por vários quartos vazios, com as camas desfeitas e o chão sujo.