Na véspera da viagem de férias, ele propôs um pacto.

“Sim”, disse ele, olhando para o garoto adormecido no berço. “Ele é lindo. Mas... é privilégio meu ler os Mandamentos para os outros. Às vezes, me pergunto...”

“Eu entendo o que quer dizer”, interrompeu a esposa. “Idolatria.”

Ele assentiu.

“Sou tão culpado quanto você”, admitiu ele. “Então estou disposto a me disciplinar. Na nossa posição, nós temos a oportunidade especial de influenciar os outros. Devemos buscar um equilíbrio, desenvolver todo potencial da nossa natureza. Se quisermos que essas férias nos façam realmente bem, elas deverão ser uma completa renovação mental... Minha querida, acho que concordamos em não falar exclusivamente do Gabriel enquanto estivermos fora, não é?”

A sra. Barnes concordou. Mas a promessa não a impedia de pensar nele continuamente. Embora eles o tivessem deixado aos cuidados de uma avó competente, ela estava ingenuamente apreensiva em relação à saúde dele.

Enquanto ela contava as horas restantes para reencontrar o filho, e a srta. Flood-Porter sorria antecipando a vista de seu jardim, a srta. Rose seguia o fio dos próprios pensamentos – percorria sempre um único sulco, até chegar ao fim.

“Não consigo entender como as pessoas podem mentir”, disse ela. “A não ser, é claro, um pobre coitado em vias de ser demitido. Mas... pessoas como nós? A gente conhece uma mulher rica que se vangloria de dar declarações falsas na alfândega. Pura desonestidade.”

Enquanto falava, Iris surgiu no portão do jardim do hotel. Fez o melhor que podia para evitar o grupo sentado à mesa, mas não pôde deixar de ouvir o que era dito.

“Talvez eu não devesse julgar os outros”, observou a sra. Barnes com a voz nítida e carregada de uma ex-professora. “Nunca tive a menor vontade de contar uma mentira”.

“Mentirosa”, pensou Iris automaticamente.

Ela estava extremamente cansada, beirando o colapso. Foi somente pela força de vontade de todos os seus átomos que conseguiu chegar ao hotel. O martírio havia estirado seus nervos quase ao ponto de ruptura. Embora desejasse a quietude de seu quarto, sabia que não conseguiria subir as escadas sem um curto descanso. Todos os seus músculos doíam quando se jogou numa cadeira de ferro e fechou os olhos.

“Se alguém falar comigo, eu vou gritar”, pensou.

As srtas. Flood-Porter trocaram olhares e contorceram os cantos da boca. Até mesmo nos olhos doces e castanhos da sra. Barnes não havia sinal de boas-vindas, pois ela tinha sido uma vítima especial do egoísmo e da falta de educação daquela turma.

Eles se comportavam como se tivessem comprado o hotel, e os outros hóspedes fossem intrusos.