Não nos é indiferente o caminho que tomamos. Existe uma trilha certa; mas somos propensos, por descuido e estupidez, a escolher a errada. Tomaríamos com gosto o caminho jamais trilhado por nós neste mundo real, mas que é perfeitamente simbólico da senda que amamos percorrer no mundo interior e ideal. E às vezes, sem dúvida, achamos difícil escolher nossa direção porque ela ainda não existe com nitidez em nossa mente.
Quando saio de casa para uma caminhada, ainda indeciso quanto à direção dos meus passos, e submeto-me aos meus instintos para que decidam por mim, descubro, por mais estranho e extravagante que possa parecer, que inevitavelmente acabo me dirigindo para o sudoeste, rumo a algum bosque, prado, pastagem deserta ou colina naquela direção. A agulha de minha bússola demora a sossegar — oscila alguns graus, e nem sempre aponta exatamente para o sudoeste, é verdade, e tem bons motivos para essa oscilação, mas acaba sempre se estabilizando entre o oeste e o sul-sudoeste. O futuro, para mim, se estende naquela direção, e a terra parece menos exaurida e mais rica daquele lado. A linha que descrevesse minhas caminhadas não seria uma circunferência, mas uma parábola, ou antes uma daquelas órbitas de cometas que eram julgadas curvas sem retorno, neste caso abrindo em direção ao oeste, com minha casa ocupando o lugar do sol. Às vezes fico dando voltas, indeciso, por até um quarto de hora, até definir, pela milésima vez, que caminharei rumo ao sudoeste ou ao oeste. Para leste eu só vou por obrigação; mas para oeste eu avanço por livre vontade. Nenhuma ocupação me atrai para lá. Para mim, é difícil acreditar que encontrarei belas paisagens ou suficientemente selvagens atrás dos horizontes do leste. Não me empolgo com a perspectiva de uma caminhada naquela direção; mas creio que a floresta que vejo no horizonte ocidental estende-se ininterrupta até o sol poente, e que não há vilas ou cidades notáveis o bastante para me perturbar. Deixem-me viver onde eu quero, de um lado está a cidade, de outro a natureza bravia, e estou sempre me afastando cada vez mais da cidade, natureza adentro. Eu não enfatizaria tanto esse fato se não acreditasse que algo desse tipo é a tendência predominante de meus compatriotas. Preciso andar em direção ao Oregon, e não à Europa. E é nesse sentido que a nação se move, e devo dizer que a humanidade progride do leste para o oeste. Em poucos anos testemunhamos o fenômeno de uma migração rumo ao sudeste, na colonização da Austrália; mas isso nos parece um movimento retrógrado e, a julgar pelo caráter moral e físico da primeira geração de australianos, ainda não se mostrou um experimento bem-sucedido. Os tártaros do Leste julgam que não há nada a oeste do Tibete. “O mundo termina ali”, dizem eles, “mais além não há nada, exceto um mar sem margens.” Onde eles vivem é um Leste absoluto.
Vamos para o Leste para compreender a história e estudar as obras de arte e literatura, rastreando os passos da raça; vamos para o Oeste como quem penetra no futuro, com um espírito de empreendimento e aventura. O Atlântico é um Letesd cuja travessia nos dá a oportunidade de esquecer o Velho Mundo e suas instituições. Se não conseguirmos desta vez, pode ser que reste mais uma chance para a raça antes que ela chegue às margens do Estige; e ela reside no Letes do Pacífico, que é três vezes mais largo.
Não sei o quanto é significativo, ou o quanto evidencia sua singularidade, o fato de um indivíduo aderir com sua pequena caminhada ao movimento geral da raça; mas sei que afeta tanto as nações quanto os indivíduos, seja perenemente ou de tempos em tempos, algo similar ao instinto migratório das aves e dos quadrúpedes — que, como é sabido, atingiu em alguns casos a espécie dos esquilos, impelindo-os a um deslocamento geral e misterioso, no qual eles foram vistos, segundo dizem alguns, atravessando os mais largos dos rios, cada um no seu pedaço de tronco, com a cauda levantada como se fosse uma vela, e usando seus próprios mortos como pontes para cruzar os córregos menores —, algo semelhante ao furor que atinge o gado doméstico na primavera, atribuído a um verme em seu rabo. Não passa uma revoada de gansos selvagens grasnando sobre nossa cidade sem que isso perturbe em alguma medida os valores dos imóveis aqui, e eu, se fosse um corretor, levaria em conta essa perturbação.
Então deseja o povo sair em peregrinação,
E os peregrinos buscam paragens estrangeiras.e
Cada crepúsculo que eu testemunho me inspira o desejo de ir para um Oeste tão distante e belo como este em que o sol se põe. O sol parece migrar para o oeste diariamente, e nos incita a segui-lo. É o Grande Pioneiro do Oeste que a nação segue. Sonhamos a noite toda com aquelas cristas de montanhas no horizonte, embora talvez não passem de miragens douradas pelos últimos raios solares. A ilha de Atlântida e as ilhas e jardins das Hespérides,f uma espécie de paraíso terrestre, parecem ter sido o Grande Oeste dos antigos, envolvido em mistério e poesia. Quem, contemplando o céu do crepúsculo, não viu em imaginação os jardins das Hespérides, e a base de todas aquelas fábulas?
Colombo sentiu a atração para o oeste com mais força do que qualquer um antes dele. Obedeceu-a, e encontrou um Novo Mundo para Castela e Leão. Naqueles dias o rebanho humano farejava de longe as novas pastagens.
E agora o sol se estendera sobre todas as montanhas,
E agora mergulhava na baía ocidental;
Finalmente ele se ergueu, e repuxou seu manto azul;
Amanhã, novos bosques e pastos virgens.g
Em que lugar do globo se pode achar uma área de extensão comparável à ocupada por nossos Estados Unidos, tão fértil, rica e variada em suas produções, e ao mesmo tempo tão habitável pelos europeus como esta? Michaux, que só conhecia uma parte destas terras, diz que “as espécies de grandes árvores são muito mais numerosas na América do Norte do que na Europa; nos Estados Unidos há mais de 140 espécies que ultrapassam os dez metros de altura; na França não passam de trinta as que chegam a esse tamanho”. Botânicos posteriores confirmam com ênfase as observações de Michaux.
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