Para constatar isso, basta discutir se os astros são habitados ou não. Por que temos que emporcalhar os céus como emporcalhamos a terra? Foi uma triste descoberta a de que o Dr. Kane era um maçom, bem como Sir John Franklin.f Mais cruéis ainda foram os indícios de que possivelmente foi por essa razão que ele partiu em busca deste último. Não há uma única revista popular neste país que ouse publicar as ideias de uma criança sobre um assunto importante sem comentá-las. Elas precisam passar pelo crivo dos Doutores Pios. Por mim, seria melhor que passassem pelo crivo dos pios dos passarinhos.g

Depois de assistir ao funeral da humanidade presenciamos um fenômeno natural. Um pequeno pensamento é o coveiro do mundo inteiro.

Conheço raros homens de intelecto que sejam tão aberta e genuinamente liberais a ponto de podermos pensar em voz alta em sua companhia. A maioria daqueles com que tentamos conversar começa logo a criticar alguma instituição na qual parece ter interesse — ou seja, sustenta um modo particular, não universal, de ver as coisas. Eles vão sempre interpor seu próprio teto baixo, com sua claraboia estreita, entre você e o céu, quando o que você quer ver é o firmamento desobstruído. Saiam da frente com suas teias de aranha, lavem suas vidraças, digo eu! Em alguns liceus onde vou palestrar me dizem que os assuntos religiosos devem ser excluí­dos. Mas como posso saber qual é a religião deles, e quando me encontro próximo ou distante dela? Já entrei numa arena desse tipo e fiz o que pude para expressar com franqueza minhas experiências religiosas, mas percebi que a plateia nem se deu conta do que eu estava falando. A palestra foi para eles tão inofensiva quanto um palavreado vazio. Ao passo que, se eu lhes tivesse lido a biografia dos maiores pilantras da história, talvez pensassem que eu tinha escrito a história dos diáconos de sua igreja. Em geral as perguntas são: de onde você vem?, ou: para onde você vai? Mais pertinente é a pergunta que escutei um de meus ouvintes fazer a seu vizinho: “A palestra dele é a favor de quê?”. Isso me fez tremer dentro dos sapatos.

Para falar com imparcialidade, os melhores homens que conheço não são puros, não são um mundo fechado em si. Em sua maioria, eles se conformam aos padrões, e simplesmente encantam e representam seu papel de modo mais sutil que os outros. Escolhemos o granito para calçar nossas casas e celeiros; construímos muros de pedra; mas nós próprios não nos escoramos em alicerces de verdade granítica, a mais humilde das rochas primitivas. Nossas soleiras estão podres. De que material é feito um homem que, em nosso pensamento, não é coerente com a verdade mais pura e sutil? Frequentemente critico em meus melhores conhecidos sua imensa frivolidade; pois, ao mesmo tempo em que nossas maneiras e comportamentos não combinam, não ensinamos uns aos outros as lições de honestidade e sinceridade que os animais ensinam, nem a firmeza e solidez ensinada pelas rochas. A culpa é geralmente recíproca, porém, pois não temos o hábito de exigir mais uns dos outros.

Toda aquela empolgação em torno de Kossuth,h pensem como foi típica, mas superficial! — apenas outra modalidade de política ou de dança. Houve pessoas discursando em seu favor pelo país afora, mas cada uma expressava apenas o pensamento, ou a falta de pensamento, da multidão. Ninguém se baseou na verdade. Simplesmente se uniram em bando, como de costume, apoiando-se uns nos outros, mas apoiados todos sobre o nada; assim como os hindus faziam o mundo sustentar-se sobre um elefante, o elefante sobre uma tartaruga e a tartaruga sobre uma serpente, e sob esta não havia nada. Tudo o que nos sobrou daquela agitação toda foi o chapéu Kossuth.

Igualmente vazia e inconsequente, em sua maior parte, é a nossa conversação cotidiana. O superficial se encontra com o superficial. Quando nossa vida deixa de ser interior e privada, a conversa degenera para o mexerico. Raramente encontramos um homem que possa nos contar alguma novidade que ele não tenha lido no jornal, ou ouvido de um vizinho; e no mais das vezes a única diferença entre nós e nosso interlocutor é que ele folheou os jornais ou saiu para tomar chá, e nós não. Quanto mais a nossa vida interior vai mal, com mais frequência e ansiedade acorremos à agência de correio e venda de jornais. Podem estar certos de que o pobre sujeito que sai do correio com o maior número de cartas, orgulhoso de sua volumosa correspondência, não tem notícias de si mesmo há muito tempo.

Não sei ao certo, mas me parece um excesso ler um jornal por semana. Tentei fazer isso recentemente e me senti como se, durante o tempo da leitura, não estivesse morando em minha região natal.