O chefe ficou satisfeito com a linda criança que aparecera em sua casa. Mais do que tudo, gostava de seu temperamento selvagem, dizendo que ela seria capaz de lutar nas mais terríveis batalhas e enfrentar os piores perigos sem piscar um olho.

A úmida neblina de outono cobriu o pântano. Os pardais assumiram os ninhos das cegonhas. Mas aonde elas teriam ido? Agora estavam no Egito, onde o Sol no inverno é tão brilhante e quente quanto nos mais belos dias de verão da Dinamarca.

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As cegonhas descansavam depois de sua longa jornada. Dentro do palácio, o clima era ruim. O rei egípcio estava deitado, rodeado por seus parentes e servos. Ele estava muito doente. A flor do pântano, que poderia salvar sua vida (se fosse colhida pela pessoa que mais o amasse), nunca chegaria. Sua jovem e linda filha jamais voltaria.

– Ela morreu! – avisaram as duas princesas que haviam viajado com ela. E inventaram que a princesa fora morta por um caçador. Mas papai cegonha, que ouvira tudo, grasnou furioso!

– Vou roubar os mantos emplumados dessas princesas malvadas! – disse ele. – Não queremos essas moças de novo no pântano. Vou para a Dinamarca guardar os mantos no meu ninho.

Mas vamos saber primeiro o que o papai cegonha ouvira no ano anterior, depois que o rei ficara doente. Os sábios e eruditos se reuniram para discutir como o rei poderia ser curado e concluíram que a ajuda deveria vir da princesa que amava seu pai com todo o coração. Num sonho, a princesa descobrira que deveria trazer uma flor de lótus de um pântano na Dinamarca. Por isso ela voou para lá disfarçada num manto de plumas. O rei do pântano a tinha levado para baixo, nas águas lamacentas, e agora sua família acreditava que a princesa estava morta.

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Enquanto isso, na casa dos vikings, a garotinha recebia o nome de Helga. Os anos se passavam rapidamente, ela ficava mais bonita a cada dia, ao mesmo tempo que se tornava mais brutal e selvagem. Só havia uma coisa que conseguia amansar Helga: o crepúsculo. Quando o Sol desaparecia, ela se sentava em silêncio num canto, com uma expressão melancólica em seu feio rosto de sapo.

No décimo sexto aniversário de Helga, os vikings voltaram para casa trazendo tesouros saqueados e prisioneiros. Entre eles havia um jovem sacerdote cristão, daqueles que se opunham ao culto aos deuses pagãos dinamarqueses. Essa nova fé já estava se disseminando, e Helga já ouvira falar sobre Cristo, que morrera por amor à humanidade. O jovem prisioneiro foi amarrado e carregado para o porão que havia embaixo da casa do chefe. Ele seria sacrificado aos deuses, pois os tinha negado e ofendido.

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Naquela noite, a mãe adotiva de Helga conversou com o sapo, usando palavras cheias de amor e aflição:

– Grande é o meu amor por você, mas nem uma vez esse amor penetrou na sua alma. Seu coração é como um pântano frio e lamacento!

Lágrimas rolaram dos olhos do sapo. Então, levando uma tocha consigo, ele desceu ao porão, acordou o prisioneiro e, cortando as cordas que o prendiam, fez sinal para que o acompanhasse. O sacerdote seguiu o sapo e, montados num cavalo, foram embora.

Enquanto cavalgavam, o sacerdote rezava e cantava. O sapo, à sua frente, começou a tremer. Seria o poder das preces ou a manhã que se aproximava? Ele tentou pular do cavalo, mas o cristão o segurou e continuou a cantar, ainda mais alto.

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Ao amanhecer, o sacerdote se viu com uma linda jovem em seus braços. Desconcertado, ele desceu do cavalo, e Helga o seguiu e atacou com uma faca.