Nem era parecido com ninguém que ela tenha conhecido.
— Foi mal. Isso não é bem uma explicação, eu sei — disse ele. — Ainda mais depois do que você fez. Você me ajudou e não vou me esquecer disso — olhou para si mesmo e deu uma risada rápida. — É claro que não parece que há muito que eu possa fazer por você, há? Não aqui. Se bem que... — ele se interrompeu. — Espera um pouco.
Ele pôs a mão no bolso, os dedos tateando em busca de alguma coisa. A um só tempo a vertigem de Cassie a dominou e seu sangue correu para o rosto. Ele procurava dinheiro? Será que pensava que podia pagar-lhe por ajudá-lo? Ela ficou humilhada e mais abalada do que quando Jordan a segurou pelo pulso, e não conseguiu impedir que as lágrimas tomassem seus olhos.
Mas o que ele tirou do bolso foi uma pedra, uma rocha parecida com a que se pode pegar no leito do mar. Pelo menos era o que parecia, no início. Um lado era áspero e cinza, incrustado de espirais pretas, minúsculas como conchinhas. Mas ele a virou, e o outro lado era cinza com um redemoinho azul-claro, cristalizado, cintilando ao sol como se fosse recoberto com açúcar cristalizado. Era linda.
Ele a colocou na palma da mão de Cassie, fechando seus dedos em volta dela. Ao tocá-la, ela sentiu um choque elétrico que correu por sua mão e subiu ao braço. A pedra parecia viva de uma forma que ela não conseguia explicar. Pelo latejar nos ouvidos, ela o escutou falar, rapidamente e baixinho:
— Isto é calcedônia. É uma... pedra da sorte. Se um dia estiver com problemas, em perigo ou qualquer coisa assim, se numa hora você se sentir totalmente sozinha e ninguém puder ajudá-la, segure-a com força... com força — os dedos dele apertaram os dela — e pense em mim.
Ela o encarou, hipnotizada. Mal respirava e seu peito parecia cheio demais. Ele estava tão perto; podia ver seus olhos, da cor do cristal, e sentia seu hálito na pele e o calor de seu corpo refletindo o calor do sol. Seu cabelo não era só ruivo, tinha todas as cores, algumas mechas tão escuras que eram quase roxas, outras como a cor de um vinho da Borgonha, outras douradas.
Diferente, Cassie pensou de novo; ele era diferente de qualquer cara que tenha conhecido. Uma corrente quente e doce percorria seu corpo, uma sensação de rebeldia e possibilidade. Ela tremia e sentia o coração batendo nos dedos, mas não sabia se era o dela ou o dele. Ele parecera ouvir seus pensamentos antes; agora era quase como se estivesse em sua mente. Estava tão perto e a olhava de cima...
— E o que vai acontecer depois? — sussurrou ela.
— Depois... Talvez sua sorte vá mudar. — De repente ele recuou, como se tivesse acabado de se lembrar de alguma coisa, e seu tom se alterou.
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