Coloque ao lado deles a sonhadora e tímida Cassie e o grupo está formado. Talvez eles não fossem descolados, mas se divertiam e estavam juntos desde o ensino fundamental. Como se arranjaria sem eles até o próximo verão?
Mas a voz da mãe foi tão meiga e distraída, e os olhos percorreram o quarto de um jeito tão vago e preocupado que Cassie não teve coragem de dar o ataque de birra que teria preferido.
Na realidade, por um instante Cassie queria ir até a mãe, abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem. Mas não conseguiu. O carvão pequeno e quente de ressentimento que ardia em seu peito não permitiu. No entanto, por mais preocupada que a mãe estivesse, não tinha de enfrentar a perspectiva de ir para uma escola nova e estranha num estado a 5 mil quilômetros do lugar ao qual pertencia.
Mas Cassie tinha. Corredores novos, armários novos, salas de aula novas, carteiras novas, pensou ela. Caras novas em vez dos amigos que conhecia desde o fundamental. Ah, isso não podia ser verdade.
Cassie não gritou com a mãe, mas também não a abraçou. Ficou apenas sentada em silêncio, virada para a janela, e ali permaneceu, enquanto a luz sumia aos poucos e o céu primeiro adquiria um tom rosa-salmão, depois violeta, em seguida preto.
Passou-se muito tempo até ela ir dormir. E só então percebeu que tinha se esquecido completamente da pedra da sorte de calcedônia. Cassie estendeu a mão e a pegou na mesa de cabeceira, colocando-a embaixo do travesseiro.
* * *
Enquanto Cassie e a mãe colocavam a bagagem no carro alugado, Portia parou para falar com elas.
— Vão para casa? — começou.
Cassie deu um último apertão na bolsa de viagem na mala do carro. Tinha acabado de perceber que não queria que Portia descobrisse que ficaria em New England. Não suportaria que Portia soubesse de sua infelicidade; seria dar a Portia um triunfo sobre ela.
Quando levantou a cabeça, teve de se esforçar ao máximo para abrir um sorriso simpático.
— Vamos — disse ela, e lançou um rápido olhar para onde a mãe se curvava, à porta do motorista, arrumando as coisas no banco de trás.
— Pensei que iam ficar até o fim da semana que vem.
— Mudamos de ideia. — Ela olhou nos olhos castanhos de Portia e ficou assustada com a frieza que viu ali. — Não que eu não tenha me divertido. Foi legal — acrescentou Cassie, apressada e de forma tola.
Portia tirou os cabelos loiros cor de palha da testa.
— Talvez seja melhor ficar longe do Oeste de agora em diante — disse ela. — Por aqui, não gostamos de mentirosos.
Cassie abriu a boca e a fechou, com o rosto em brasa. Então eles sabiam sobre sua fraude na praia. Agora era a hora certa de dizer a Portia uma daquelas frases espirituosas arrasadoras em que pensava à noite — e, é claro, ela não conseguiu invocar uma palavra que fosse. Cassie cerrou os lábios.
— Boa viagem — concluiu Portia e, com um último olhar gélido, partiu.
— Portia! — O estômago de Cassie tinha um nó de tensão, constrangimento e raiva, mas ela não podia deixar essa chance escapar. — Antes de eu ir embora, pode me dizer uma coisa?
— O que é?
— Agora não faz nenhuma diferença... E eu só queria saber... Só estava me perguntando... se você sabe o nome dele.
— O nome de quem?
Cassie sentiu uma nova onda de sangue esquentar seu rosto, mas continuou obstinadamente.
— O nome dele. Do cara ruivo. Aquele da praia.
Os olhos castanhos nem oscilaram. Continuaram encarando os de Cassie, as pupilas contraídas formando pontinhos cruéis. Olhando naqueles olhos, Cassie sabia que não havia esperanças.
E tinha razão.
— O cara ruivo da praia? — repetiu Portia distinta e inexpressivamente, depois se virou de novo e foi embora. Desta vez, Cassie a deixou ir.
Verde.
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