Ela se sentou, olhou e escutou, e então sentiu a própria respiração se acalmar. Pela primeira vez desde que chegou a New England, Cassie se sentiu pertencendo a este lugar. Era parte da vastidão do céu, do mar e da terra; uma parte mínima de toda a imensidão, mas uma parte exatamente igual às outras.

E aos poucos lhe ocorreu que sua parte podia não ser tão pequena. Ela estava imersa no ritmo da terra, mas agora quase lhe parecia que controlava esse ritmo. Como se os elementos, junto com ela, fossem um só, e estivessem sob seu comando. Sentia a pulsação de vida no planeta, em si mesma, forte, profunda e vibrante. A batida lentamente ganhava tensão e expectativa, como se esperasse por... alguma coisa.

Pelo quê?

Olhando o mar, Cassie sentiu as palavras chegarem. Só uma pequena rima, como algo que se ensina a uma criança, mas ainda assim um poema:

Céu e mar, não deixem o mal de mim se aproximar.

O estranho era que não parecia uma coisa que ela tivesse inventado. Parecia mais como algo que tinha lido — ou ouvido — havia muito tempo. Cassie teve um lampejo de uma imagem: ela nos braços de alguém, olhando o mar. Sendo erguida para o alto e ouvindo palavras.

Céu e mar, não deixem o mal de mim se aproximar. Fogo e terra, tragam...

Não.

Toda a pele de Cassie formigava. Podia sentir como nunca a imensidão do céu, a solidez de granito da terra e a extensão quase infinita do mar, onda após onda, até o horizonte e além dele. E era como se todos a estivessem esperando, observando, ouvindo.

Não termine, pensou ela. Não diga mais nada. Uma convicção repentina e irracional tomou conta de Cassie. Desde que não descobrisse os últimos versos do poema, ficaria segura. Tudo ficaria como sempre foi; ela voltaria para casa e levaria sua vida tranquila e comum em paz. Desde que não dissesse as palavras, ficaria bem.

Mas o poema corria por sua mente, como o tinir distante da música de um vendedor de sorvete, e as últimas palavras encaixaram-se em seu lugar. Ela não podia impedi-las:

Céu e mar, não deixem o mal de mim se aproximar. Fogo e terra, tragam... o que meu desejo espera.

Sim.

Ah, o que foi que eu fiz?

Era como uma corda se arrebentando. Cassie se viu de pé, olhando loucamente o mar. Algo havia acontecido; ela sentira, e agora também podia sentir os elementos recuando, a conexão entre eles rompida.

Já não se sentia livre e leve, mas nervosa e sem harmonia, cheia de eletricidade estática. De repente o mar lhe parecia mais vasto do que nunca e não necessariamente amistoso. Virando-se de repente, voltou para a praia.

Idiota, pensou ela ao se aproximar outra vez da areia branca, e a sensação de medo se afastou. Estava com medo de quê? De que o céu e o mar de fato a estivessem ouvindo? De que aquelas palavras realmente provocassem alguma coisa?

Ela quase podia rir disso agora, e estava envergonhada e irritada consigo mesma. Mas isso é que é imaginação fértil. Ainda estava em segurança, e o mundo ainda era comum.