— O que vão fazer comigo, me bater? Sou uma testemunha inocente — disse ela.

— Mas...

— Ah, por favor. Não discuta. Vá!

Ele a olhou por um último momento, depois se virou, batendo na coxa para chamar o cachorro.

— Vamos, garoto! — disse e correu para o píer, saltando com facilidade no barco a motor e desaparecendo ao se meter na cabine. O cachorro o seguiu numa disparada potente e latiu.

Shhh!, pensou Cassie. Agora os dois estavam escondidos no barco, mas se alguém subisse o píer, eles ficariam totalmente visíveis. Ela prendeu a alça da corda puída na última pilastra, fechando o píer.

Depois lançou um olhar frenético em volta e foi para o mar, espalhando água. Curvando-se, pegou um punhado de areia e conchas. Deixou que a água lavasse a areia da gaiola frouxa de seus dedos e segurou as duas ou três conchinhas que ficaram. Estendeu a mão para pegar outro punhado.

Ela ouviu gritos vindo das dunas.

Estou catando conchas, só estou catando conchas, pensou ela. Não preciso nem olhar ainda. Não estou preocupada.

— Ei!

Cassie levantou a cabeça.

Havia quatro deles, e os dois da frente eram os irmãos de Portia. Jordan era o da equipe de debates e Logan o do Clube de Tiro. Ou era o contrário?

— Ei, você viu um cara correndo por aqui? — perguntou Jordan. Eles olhavam para todos os lados, tensos como cães seguindo um rastro, e de repente outro verso de poesia veio a Cassie. Quatro sabujos magros se agacharam e sorriram. Só que esses sujeitos não eram magros; eram fortes e estavam suados. E sem fôlego, percebeu Cassie, um tanto desdenhosa.

— É a amiga de Portia... Cathy — disse Logan. — Ei, Cathy, um cara passou correndo por aqui?

Ela andou até Logan lentamente, com as mãos cheias de conchas. Seu coração batia nas costelas com tanta força que Cassie tinha certeza de que eles podiam ver. A língua estava paralisada.

— Não dá para falar? O que está fazendo aqui?

Muda, Cassie estendeu as mãos, abrindo-as.

Eles trocaram olhares e bufos, e Cassie percebeu como ela devia aparentar para esses caras universitários — uma menina frágil, de cabelo castanho comum, e olhos azuis normais. Só uma idiotinha do ensino médio da Califórnia cuja ideia de diversão era catar conchas sem valor.

— Viu alguém passar por aqui? — disse Jordan, impaciente, mas devagar, como se ela tivesse dificuldade de ouvir.

De boca seca, Cassie assentiu e olhou a praia na direção do pontal. Jordan estava com um agasalho aberto sobre a camiseta, que ficava estranho num clima quente como aquele. Mais estranho ainda era o volume por baixo, mas ao se virar, Cassie viu o brilho de metal.

Uma arma?

Jordan deve ser o do Clube de Tiro, pensou ela sem dar muita importância.

Agora que viu um motivo para realmente ter medo, reencontrou a voz e disse num tom rouco:

— Um garoto e um cachorro foram por ali há alguns minutos.

— Vamos pegá-lo! Ele vai ficar preso nas pedras! — disse Logan. Ele e os dois caras que Cassie não conhecia partiram pela praia, mas Jordan se virou para Cassie.

— Tem certeza?

Assustada, ela o olhou. Por que ele perguntava? Ela arregalou os olhos de propósito e tentou parecer o mais imatura e idiota possível.

— Tenho...

— Porque isso é importante. — E de repente ele estava segurando seu pulso. Cassie olhou para baixo, pasma, as conchas se espalhando, surpresa demais ao ser agarrada para dizer alguma coisa. — É muito importante — disse Jordan, e ela sentia a tensão correndo pelo corpo dele, sentia o cheiro azedo de seu suor. Foi tomada por uma onda de repulsa e se esforçou para se manter inexpressiva, de olhos arregalados.