Tinha medo de que ele a puxasse para perto de si, mas Jordan só torceu seu pulso.
Ela não pretendia chorar, mas não conseguiu evitar. Em parte por dor, em parte por uma reação a algo que viu em seus olhos, algo fanático e cruel, quente como o fogo. Ela se viu ofegando, com mais medo do que se lembrava de sentir desde que era criança.
— Sim, eu tenho certeza — disse ela sem fôlego, olhando aquela crueldade sem se permitir virar o rosto. — Ele foi por ali e contornou o pontal.
— Vamos, Jordan, deixe a garota em paz! — gritou Logan. — É só uma criança. Vamos!
Jordan hesitou. Ele sabe que estou mentindo, pensou Cassie com um fascínio curioso. Ele sabe, mas tem medo de confiar no que sabe porque não sabe como sabe.
Acredite em mim, pensou ela, olhando-o bem nos olhos, desejando que ele acreditasse. Acredite em mim e vá embora. Acredite em mim. Acredite em mim.
Ele soltou seu pulso.
— Desculpe — murmurou ele sem nenhuma delicadeza, virando-se e correndo com os outros.
— Tudo bem — sussurrou Cassie, imóvel.
Tremendo, ela os viu correndo pela areia molhada, no vai e vem dos cotovelos e joelhos, o agasalho de Jordan batendo frouxo às costas. A fraqueza se espalhou do estômago para as pernas, e os joelhos de Cassie de repente pareciam massa de modelar.
Num estalo, ela voltou a ter consciência do som do mar. Um som reconfortante que parecia envolvê-la. Quando as quatro figuras que corriam viraram num canto e desapareceram de vista, ela se virou para o píer, pretendendo dizer ao ruivo que agora ele podia sair.
Ele já fizera isso.
Devagar, ela guiou suas pernas moles como gelatina a levarem ao píer. Ele estava parado ali e a feição em seu rosto provocou uma estranha sensação em Cassie.
— É melhor dar o fora daqui... Ou se esconder de novo — disse ela, hesitante. — Eles podem voltar logo...
— Acho que não.
— Bom... — Cassie se interrompeu, olhando-o, quase com medo. — Seu cachorro foi muito bom — disse ela por fim, insegura. — Quero dizer, não latiu nem nada.
— Ele sabe se comportar.
— Ah... — Cassie olhou a praia, pensando em algo mais para dizer. A voz dele era gentil, não tinha aspereza, mas aquele olhar penetrante que não deixava seus olhos e sua boca tinha um ar meio sinistro. — Acho que eles agora sumiram mesmo — disse ela.
— Graças a você. — Ele se virou para ela e seus olhos se encontraram. — Não sei como te agradecer — acrescentou ele — por enfrentar isso por mim. Você nem me conhece.
Cassie sentiu-se ainda mais esquisita. Olhar o garoto a deixava quase tonta, mas não conseguia tirar os olhos dele. Não havia mais aquele brilho neles agora; eram de um tom como aço azul-acinzentado. Irresistíveis, hipnóticos. Atraindo-a para mais perto, atraindo-a para eles.
Mas eu conheço você, pensou ela.
1 comment