Vamos erguer uma tenda e viver aqui. Vítor, ela gritou, venha, venha depressa!

O sr. d’Aiglemont respondeu, mais abaixo, com um grito de caçador, mas sem apressar a marcha; olhava para a esposa somente de tempo em tempo, quando as sinuosidades do caminho lhe permitiam. Júlia aspirou o ar com prazer, erguendo a cabeça e lançando a Arthur um daqueles olhares finos pelos quais uma mulher de espírito exprime todo o seu pensamento.

– Oh!, ela prosseguiu, queria ficar aqui para sempre. Pode alguém cansar-se de admirar esse belo vale? Sabe o nome desse rio encantador, milorde?

– É o Cise.

– O Cise, ela repetiu. E lá adiante, o que é aquilo?

– São as colinas do Cher, disse ele.

– E à direita? Ah! é Tours. Veja a bela imagem que produzem ao longe os campanários da catedral.

Calou-se e deixou cair sobre a mão de Arthur a mão que havia estendido em direção à cidade. Os dois admiraram em silêncio a paisagem e as belezas daquela natureza harmoniosa. O murmúrio das águas, a pureza do ar e do céu, tudo combinava com os pensamentos que afluíram em quantidade a seus corações amantes e jovens.

– Oh! meu Deus, como gosto deste lugar, repetiu Júlia com um entusiasmo crescente e ingênuo. Morou aqui por muito tempo?, ela perguntou após uma pausa.

A essas palavras, Lorde Grenville estremeceu.

– Foi ali, ele respondeu com melancolia mostrando um bosque de nogueiras junto à estrada, foi ali que, prisioneiro, eu a vi pela primeira vez...

– Sim, mas então eu estava bem triste; essa natureza pareceu-me selvagem; no entanto agora...

Deteve-se, Lorde Grenville não ousou olhá-la.

– É a você, disse enfim Júlia após um longo silêncio, que devo esse prazer. Não é preciso estar viva para sentir as alegrias da vida? E não estava eu morta para tudo até agora? Você me deu mais do que a saúde, ensinou-me a sentir todo o valor dela...

As mulheres têm um inimitável talento para exprimir seus sentimentos sem empregar palavras demasiado vivas; sua eloquência está sobretudo no acento, no gesto, na atitude e nos olhares. Lorde Grenville ocultou a cabeça entre as mãos, porque lágrimas lhe brotavam dos olhos. Esse agradecimento era o primeiro que Júlia lhe fazia desde a partida de Paris. Durante um ano inteiro, havia cuidado da marquesa com a mais completa dedicação. Acompanhado de d’Aiglemont, tinha-a conduzido às águas de Aix, depois às praias de mar em La Rochelle. Observando a todo momento as mudanças que suas prescrições simples e sábias produziam sobre a constituição deteriorada de Júlia, cultivara-a como o faria um horticultor apaixonado com uma flor rara. Até então a marquesa recebera seus cuidados inteligentes com o egoísmo de uma parisiense habituada às homenagens, ou com a indiferença de uma cortesã que não sabe nem o custo das coisas nem o valor dos homens, e os preza conforme lhe são úteis. A influência que os lugares exercem sobre a alma é uma coisa digna de nota. Se a melancolia infalivelmente nos domina quando estamos à beira d’água, uma outra lei de nossa natureza impressionável faz que, nas montanhas, nossos sentimentos se depurem: ali a paixão ganha em profundidade o que ela parece perder em vivacidade. O aspecto do amplo vale do Loire, a elevação da bela colina onde os dois enamorados estavam sentados, produziam talvez a calma deliciosa na qual eles saborearam pela primeira vez a felicidade que sentimos ao adivinhar a extensão de uma paixão oculta sob palavras aparentemente insignificantes. No momento em que Júlia terminava a frase que havia comovido tanto Lorde Grenville, uma brisa acariciante agitou a copa das árvores, espalhou o frescor das águas pelo ar; algumas nuvens cobriram o sol e sombras leves deixaram ver todos os encantos daquele belo lugar. Júlia desviou a cabeça para ocultar ao jovem lorde a visão das lágrimas que ela conseguiu reter e secar, pois a ternura de Arthur apoderara-se prontamente dela. Não ousou erguer os olhos para ele, com receio de mostrar a imensa alegria nesse olhar. Seu instinto de mulher fazia-lhe sentir que nessa hora perigosa devia sepultar seu amor no fundo do coração. Entretanto, o silêncio podia ser igualmente temível. Percebendo que Lorde Grenville estava sem condições de dizer qualquer palavra, Júlia retomou com voz suave:

“O senhor ficou tocado com o que eu lhe disse, milorde. Talvez essa viva efusão seja a maneira adotada por uma alma boa e delicada como a sua para corrigir um falso julgamento. Talvez tenha me considerado ingrata por mostrar-me fria e reservada, ou zombeteira e insensível, durante esta viagem que em breve irá terminar. Eu não teria sido digna de receber seus cuidados se não soubesse apreciá-los. Nada esqueci, milorde.