A cada interrupção, as frases eram pronunciadas com uma voz mais profunda. As últimas palavras tiveram algo de terrível.
– Sem que eu soubesse, ele não deixou de me ver. Surpreender um de meus olhares, todo dia, ajuda-o a viver. Não sabes, Luísa? Ele está morrendo e pede para dizer-me adeus. Sabe que meu marido ausentou-se esta noite por vários dias e virá daqui a pouco. Oh! eu morrerei. Estou perdida. Escuta, fica comigo! Diante de duas mulheres, ele não ousará. Oh! fica comigo, tenho medo de mim!
– Mas meu marido sabe que jantei em tua casa, respondeu a sra. de Wimphen, e virá buscar-me.
– Pois bem, antes de partires eu o terei mandado embora! Serei o carrasco de nós dois. Ai de mim! Ele pensará que não o amo mais. E essa carta! Continha frases que pareciam escritas a fogo.
Uma carruagem estacionou à porta.
– Ah! exclamou a marquesa com certa alegria, ele vem publicamente e sem mistério.
– Lorde Grenville, anunciou o criado.
A marquesa permaneceu de pé, imóvel. Ao ver Arthur pálido, magro e abatido, nenhuma severidade era possível. Embora Lorde Grenville ficasse fortemente contrariado por não encontrar Júlia a sós, aparentou calma e frieza. Mas, para as duas mulheres iniciadas nos mistérios de seu amor, sua atitude, o som de sua voz, a expressão de seus olhares, tinham um pouco a força atribuída ao peixe-elétrico. A marquesa e a sra. de Wimphen ficaram como que paralisadas pela viva comunicação de uma dor horrível. O som da voz de Lorde Grenville fazia palpitar tão cruelmente a sra. d’Aiglemont que ela não ousava responder-lhe, temendo revelar a extensão do poder que ele exercia sobre ela. Lorde Grenville não ousava olhar para Júlia, de modo que a sra. de Wimphen encarregou-se quase sozinha de uma conversação sem interesse; lançando-lhe um olhar de comovido reconhecimento, Júlia agradeceu o auxílio que a amiga lhe prestava. Os dois enamorados impuseram silêncio a seus sentimentos e tiveram que se manter nos limites prescritos pelo dever e as conveniências. Mas logo foi anunciada a chegada do sr. de Wimphen; ao vê-lo entrar, as duas amigas trocaram um olhar e compreenderam, sem se falarem, as novas dificuldades da situação. Era impossível introduzir o sr. de Wimphen no segredo desse drama, e Luísa não tinha razões aceitáveis a dar ao marido, pedindo-lhe para ficar na casa da amiga. Quando a sra. de Wimphen pôs seu xale, Júlia levantou-se como para ajudar Luísa a ajeitá-lo e disse em voz baixa:
– Terei coragem. Se ele veio publicamente à minha casa, que posso temer? Mas sem ti, no primeiro momento, vendo-o tão mudado, eu teria caído a seus pés.
– Vejo então, Arthur, que não me obedeceu, disse a sra. d’Aiglemont com voz trêmula ao retomar seu lugar num sofá onde Lorde Grenville não ousou vir sentar-se.
– Não pude resistir por mais tempo ao prazer de ouvir sua voz, de estar a seu lado.
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