Essa carruagem ligeira era conduzida por um homem de aspecto preocupado e doentio; cabelos grisalhos mal cobriam-lhe o crânio amarelo e envelheciam-no precocemente; ele lançou as rédeas ao lacaio que seguia o veículo e desceu para tomar nos braços uma jovem cuja delicada beleza chamou a atenção dos ociosos que passeavam na esplanada. A mocinha deixou-se complacentemente agarrar pela cintura ao ficar de pé no estribo da carruagem, e passou os braços em volta do pescoço de seu guia, que a pôs na calçada sem amarrotar a armação de seu vestido de repes verde. Um amante não teria tido tanto cuidado. O desconhecido devia ser o pai dessa mocinha que, sem agradecer, tomou-lhe familiarmente o braço e arrastou-o bruscamente pelo jardim. O velho pai observou os olhares maravilhados de alguns rapazes, e a tristeza estampada em seu rosto apagou-se por um momento. Embora já estivesse muito distante da idade em que os homens devem contentar-se com os prazeres enganosos que a vaidade produz, ele sorriu.

“Pensam que és minha mulher”, disse ao ouvido da jovem, endireitando-se e andando com uma lentidão que a desesperou.

Parecia gostar de ser notado por causa da filha, e comprazia-se talvez mais que ela com os olhares que os curiosos lançavam a seus pezinhos calçados de borzeguins castanho-avermelhados, a um corpo delicioso desenhado por um vestido de cabeção e ao tenro pescoço que uma gola bordada não ocultava inteiramente. Os movimentos do andar erguiam por instantes o vestido da jovem, deixando ver, acima dos borzeguins, o contorno de uma perna finamente modelada por uma meia de seda rendada. Assim, mais de um passeante ultrapassou o casal para admirar ou para rever o rosto jovem em torno do qual se agitavam cachos de cabelos castanhos, e cujo branco vivo da carne era realçado tanto pelos reflexos do cetim rosa que forrava um elegante chapéu, quanto pelo desejo e a impaciência que crepitavam em todos os traços dessa linda criatura. Uma doce malícia animava seus belos olhos negros, em forma de amêndoa, debaixo de sobrancelhas bem arqueadas, orlados de longos cílios e banhados num fluido puro. A vida e a juventude exibiam seus tesouros nesse rosto esperto e num busto ainda gracioso apesar da cintura então colocada sob o seio. Insensível às homenagens, a jovem olhava com uma espécie de ansiedade o castelo das Tulherias, certamente o objetivo de seu impetuoso passeio. Faltavam quinze minutos para o meio-dia. Apesar dessa hora matinal, várias mulheres, todas querendo mostrar-se bem-vestidas, retornavam do castelo, não sem virarem a cabeça com ar aborrecido, como arrependidas de terem chegado tarde a um espetáculo desejado. Algumas palavras escapadas ao mau humor dessas elegantes mulheres desapontadas e colhidas no ar pela bela desconhecida haviam-na inquietado singularmente. O velho espiava com um olhar mais curioso que zombeteiro os sinais de impaciência e temor que se agitavam no rosto encantador de sua companheira, e a observava talvez com excessivo cuidado para não guardar alguma preocupação paterna.

Esse domingo era o décimo terceiro do ano de 1813. Dois dias depois, Napoleão partia para aquela fatal campanha durante a qual ia perder sucessivamente seus generais Bessières e Duroc, ganhar as memoráveis batalhas de Lutzen e de Bautzen, ver-se traído pela Áustria, pela Saxônia, pela Baviera, por Bernadotte, e disputar a terrível batalha de Leipzig. O magnífico desfile ordenado pelo imperador haveria de ser o último daqueles que por muito tempo exaltaram a admiração dos parisienses e dos estrangeiros. A velha guarda ia executar pela última vez as engenhosas manobras cuja pompa e precisão chegaram a espantar às vezes o próprio gigante, que se preparava então para seu duelo com a Europa. Um sentimento triste levava às Tulherias uma brilhante e curiosa população. Todos pareciam adivinhar o futuro, e talvez pressentiam que a imaginação mais uma vez teria de refazer o quadro dessa cena, quando esses tempos heroicos da França adquirissem, como hoje, cores quase fabulosas.

– Vamos mais depressa, meu pai, dizia a jovem com impaciência arrastando o velho. Ouço os tambores.

– São as tropas que entram nas Tulherias, ele respondeu.

– Ou que desfilam, todos estão indo para lá! ela replicou com uma aflição infantil que fez sorrir o velho.

– O desfile só começa ao meio-dia e trinta, – disse o pai, que caminhava quase atrás da impetuosa filha.

Vendo o movimento que imprimia a seu braço direito, alguém diria que ela o utilizava para correr. Sua mãozinha, enluvada, esfregava impacientemente um lenço e assemelhava-se ao remo de um barco que fende as ondas. O velho sorria por instantes; mas às vezes expressões preocupadas entristeciam momentaneamente seu rosto descarnado. Seu amor por essa bela criatura fazia-o tanto admirar o presente quanto temer o futuro. Parecia dizer a si mesmo: “Hoje ela é feliz, ela o será sempre?”. Pois os velhos são muito propensos a dotar suas mágoas ao futuro dos jovens. Quando pai e filha chegaram ao peristilo do pavilhão no alto do qual tremulava a bandeira tricolor, e por onde os passeantes vão e vêm do jardim das Tulherias ao arco do Carrossel, as sentinelas disseram-lhes em voz grave: “Ninguém passa mais!”.

A mocinha ergueu-se na ponta dos pés e pôde entrever a multidão de mulheres enfeitadas que ocupava os dois lados da velha arcada de mármore por onde o imperador devia sair.

– Está vendo, meu pai, viemos muito tarde!

Seu beicinho de mágoa traía a importância que ela pusera em comparecer a esse desfile.

– Então vamos embora, Júlia, não estás querendo ser pisada!

– Fiquemos, meu pai. Daqui ainda posso avistar o imperador; se ele morresse durante a campanha, jamais o teria visto.

O pai estremeceu ao ouvir essas palavras egoístas. A filha tinha a voz embargada de choro; ele a olhou e julgou perceber sob suas pálpebras abaixadas algumas lágrimas causadas menos pelo despeito que por uma dessas primeiras tristezas cujo segredo é fácil de adivinhar a um velho pai. De repente Júlia corou, e lançou uma exclamação cujo sentido não foi compreendido nem pelas sentinelas nem pelo velho.