Após ter cumprido várias missões com talento, Vandenesse fora recentemente designado adjunto de um dos ministros plenipotenciários enviados ao congresso de Laybach, e queria aproveitar sua viagem para conhecer a Itália. Essa festa era portanto uma espécie de adeus aos divertimentos de Paris, a essa vida rápida, a esse turbilhão de pensamentos e prazeres tão frequentemente caluniado, mas ao qual é tão doce entregar-se. Habituado há três anos a saudar as capitais europeias e a desertá-las segundo os caprichos de seu destino diplomático, Carlos de Vandenesse tinha pouco a lamentar, porém, em deixar Paris. As mulheres não produziam mais nenhuma impressão sobre ele, seja porque considerasse uma paixão verdadeira como algo absorvente demais na vida de um homem político, seja porque as mesquinhas ocupações de uma galanteria superficial parecessem-lhe demasiado vazias para uma alma forte. Todos temos grandes pretensões à força de espírito. Na França, nenhum homem, por medíocre que seja, admite ser tido simplesmente por espirituoso. Assim, Carlos, embora jovem (tinha apenas trinta anos), já havia filosoficamente se acostumado a ver ideias, resultados, meios, lá onde os homens de sua idade percebem sentimentos, prazeres e ilusões. Recalcava o calor e a exaltação natural dos jovens nas profundezas de sua alma que a natureza criara generosa. Procurava ser frio, calculista, empregar em boas maneiras, em formas amáveis, em artifícios de sedução, as riquezas morais que o acaso lhe dera; verdadeira tarefa de ambicioso; papel triste, empreendido com o objetivo de atingir o que hoje chamamos uma bela posição. Ele lançava um último olhar aos salões onde dançavam. Antes de deixar o baile, queria certamente reter-lhe a imagem, como um espectador que não deixa seu camarote no teatro sem olhar a cena final. Mas, por uma fantasia fácil de compreender, o sr. de Vandenesse também estudava a movimentação tipicamente francesa, o brilho e os rostos sorridentes dessa festa parisiense, aproximando-os em pensamento às fisionomias novas, às cenas pitorescas que o aguardavam em Nápoles, onde pretendia passar alguns dias antes de assumir seu cargo. Parecia comparar a França, tão mutável e tão cedo estudada, a um país cujos costumes e lugares eram-lhe conhecidos apenas por informações contraditórias, ou através dos livros, mal escritos em sua maior parte. Algumas reflexões bastante poéticas, hoje muito vulgares, passaram-lhe então pela cabeça e responderam, talvez sem que o soubesse, aos desejos secretos de seu coração, mais exigente que indiferente, mais desocupado que murcho.
“Aqui estão as mulheres mais elegantes”, dizia a si mesmo, “as mais ricas, as mais famosas de Paris. Aqui estão as celebridades do dia, celebridades de tribuna, aristocráticas e literárias: ali, artistas, acolá, homens de poder. No entanto, vejo só pequenas intrigas, amores natimortos, sorrisos que não dizem nada, desprezos sem causa, olhares sem chama, muito espírito, mas esbanjado em vão. Todos esses rostos brancos e rosados buscam menos o prazer que distrações. Nenhuma emoção é verdadeira. Se quisermos somente plumas bem colocadas, véus transparentes, belos vestidos, mulheres frágeis, se para nós a vida é apenas uma superfície a aflorar, eis o nosso mundo. Contentemo-nos com essas frases insignificantes, com esses deslumbrantes disfarces, e não exijamos um sentimento nos corações. Quanto a mim, tenho horror dessas intrigas vazias que acabarão em casamentos, na obtenção de cargos e de rendimentos, ou, quando se trata de amor, em arranjos secretos, tamanha a vergonha de mostrar uma paixão. Não vejo nenhum daqueles rostos eloquentes que nos anunciam uma alma entregue a uma ideia ou a um remorso. Aqui, a mágoa ou a infelicidade ocultam-se envergonhadas sob gracejos. Não percebo nenhuma daquelas mulheres com as quais gostaria de lutar e que nos arrastam para um abismo. Onde encontrar energia em Paris? Um punhal é uma curiosidade que se pendura a um prego dourado, que se enfeita com uma bela bainha. Mulheres, ideias, sentimentos, tudo se assemelha. Não há mais paixões, porque as individualidades desapareceram. As posições, os espíritos e as fortunas foram nivelados, e todos vestimos um traje negro como de luto pela França morta. Não amamos nossos iguais.
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