Rachel e outras para mim. Tínhamos uma transação, antes de ele nos deixar, na qual ele me tomou emprestado um novelo de barbante, uma faca de quatro gumes, e a quantia de sete libras e seis pence em dinheiro — deste último item não vi a cor, e não espero vê-la novamente. Suas cartas para mim tratavam essencialmente de pedir mais empréstimos. No entanto, eu soube por minha senhora como ele se portava no estrangeiro, à medida que crescia em anos e em estatura. Depois de saber que as instituições da Alemanha podiam instruí-lo, deu em seguida uma chance aos franceses, e depois disso deu uma chance aos italianos. Eles contribuíram para fazer do Sr. Franklin uma espécie de gênio universal, até onde pude compreender. Ele escrevia um pouco, pintava um pouco, cantava, tocava e compunha um pouco — tomando emprestado, suspeito, em todos esses casos, exatamente como havia tomado emprestado a mim. A fortuna de sua mãe (setecentas libras por ano) lhe foi dada quando atingiu a maioridade, e passou por ele como através de uma peneira. Quanto mais dinheiro tinha, mais queria: havia um buraco no bolso do Sr. Franklin que nada era capaz de costurar. Onde quer que fosse, seu jeito alegre e dócil o fazia bem-vindo. Vivia aqui, acolá, por toda parte; seu endereço (como ele próprio costumava dizer) era Agência dos Correios, Europa — a ser conservado até a coleta. Por duas vezes decidiu voltar à Inglaterra e visitar-nos; e por duas vezes (com sua licença) alguma indizível mulher colocou-se em seu caminho e o impediu. Sua terceira tentativa foi bem sucedida, como os senhores já sabem pelo que minha senhora me disse. Na quinta-feira, dia 25 de maio, veríamos pela primeira vez em que homem havia se transformado nosso bom menino. Vinha de uma boa família, tinha grande coragem e 25 anos de idade, pelas minhas contas. O senhor sabe agora tanto a respeito do Sr. Franklin Blake quanto eu — antes que o Sr. Franklin Blake chegasse a nossa casa.
Fazia naquela quinta-feira um dia de verão belo como poucos, e minha senhora e Srta. Rachel (que não esperavam o Sr. Franklin até a hora do jantar) saíram para almoçar com alguns amigos da vizinhança.
Depois que partiram, fui dar uma olhada no quarto que havia sido preparado para o nosso convidado, e vi que tudo estava direito. Então, sendo eu o mordomo na casa de minha senhora, bem como seu intendente (segundo minha própria solicitação particular, diga-se, e porque me incomodava o fato de qualquer pessoa a não ser eu ter a chave da adega do falecido Sir John) — então, dizia eu, peguei uma garrafa do famoso Bordeaux Latour e coloquei-a ao ar livre para que se aquecesse antes do jantar. Pretendendo em seguida colocar-me ao ar livre — já que o que é bom para um vinho velho é igualmente bom para os velhos peguei uma cadeira de vime para dirigir-me ao pátio dos fundos, quando fui impedido por um som semelhante ao rufar suave de um tambor no terraço em frente à residência de minha senhora.
Indo até o terraço, encontrei três indianos cor de mogno, vestidos com túnicas e calças brancas, olhando para a casa.
Os indianos, como pude ver chegando mais perto, seguravam pequenos tambores à frente do corpo. Atrás deles havia um menino inglês de cabelos claros e feições delicadas, carregando uma bolsa. Tomei os três homens por prestidigitadores itinerantes, e o menino com a bolsa por ajudante, carregando as ferramentas de seu ofício. Um dos três, que falava inglês e possuía, devo admitir, maneiras muito requintadas, informou-me que meu julgamento estava correto. Pediu permissão para mostrar seus truques diante da dona da casa.
Agora, não sou um velho ranzinza. Em geral sou inclinado à diversão e sou a última pessoa no mundo que desconfiaria de outra apenas por sua pele alguns tons mais escura que a minha. Mas até os melhores de nós têm suas fraquezas —, e a minha, quando sei que a mesa está posta, é lembrar-me imediatamente disso ao avistar um estranho de passagem, cujas maneiras são superiores às minhas.
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