Portanto, informei ao indiano que a dona da casa havia saído e pedi a ele e a seus companheiros que saíssem da propriedade. Ele por sua vez me fez uma linda reverência, e ele e seu grupo saíram da propriedade. Então, voltei a minha cadeira de vime e instalei-me no lado ensolarado do pátio, caindo (para dizer a verdade) não exatamente no sono, mas em um estado bastante semelhante.
Fui acordado por minha filha Penélope correndo em minha direção como se a casa estivesse pegando fogo. O que os senhores acham que ela queria? Queria que eu mandasse prender os três prestidigitadores indianos imediatamente; a razão para tal era que eles sabiam quem estava vindo de Londres para visitar-nos e tencionavam fazer mal ao Sr. Franklin Blake.
O nome do Sr. Franklin me despertou. Abri os olhos e fiz com que minha menina se explicasse.
Revelou-se que Penélope havia acabado de sair de nossos aposentos, onde estava entretida em um mexerico com a filha do zelador. As duas garotas tinham visto os indianos passarem seguidos pelo menino, depois que eu os havia mandado embora. Achando que o menino era maltratado pelos estrangeiros — por uma razão que não pude descobrir, a não ser por ele ser bonito e ter feições delicadas —, as duas garotas tinham se esgueirado pelo lado de dentro da cerca que fica entre a casa e a estrada, e observado o comportamento dos estrangeiros do lado de fora. Esse comportamento teve como resultado o extraordinário truque que se segue.
Primeiro eles olharam para os dois lados da estrada e certificaram-se de que estavam sozinhos. Então os três puseram-se lado a lado e olharam fixamente em direção à casa. Tagarelaram, discutiram em sua língua e olharam-se como homens indecisos. A seguir, os três se viraram para o menino inglês, como se esperassem que ele os ajudasse. E então o indiano chefe, que falava inglês, disse ao menino:
— Estenda a mão.
Ao ouvir essas palavras horríveis, minha filha Penélope disse não saber o que impediu seu coração de sair direto pela boca. Pensei cá comigo que poderia ter sido seu espartilho. Tudo o que disse no entanto foi Você está me dando arrepios. (Nota bene: As mulheres gostam desses pequenos elogios.)
Bom, quando o indiano disse “Estenda a mão”, o menino se encolheu, balançou a cabeça e disse que não gostava daquilo. O indiano, então, perguntou-lhe (de maneira nada rude) se ele gostaria de ser mandado de volta para Londres e deixado onde eles o haviam encontrado, dormindo em uma cesta vazia em um mercado — um menininho faminto, maltrapilho e abandonado. Isso, ao que parece, acabou com as dificuldades. O pequeno estendeu a mão sem vontade. Então o indiano tirou uma garrafa de dentro da roupa e derramou um pouco de líquido preto como tinta na palma da mão do menino. O indiano — tocando primeiro a cabeça do menino e fazendo sinais no ar acima dela — então disse:
— Olhe.
O menino se empertigou e ficou qual uma estátua, olhando para a tinta na palma de sua mão.
(Até ali, tudo aquilo me parecia parte da prestidigitação, além de um tolo desperdício de tinta. Eu estava começando a ficar sonolento novamente, quando as palavras seguintes de Penélope me despertaram.)
Os indianos olharam mais uma vez para os dois lados da estrada — e então o indiano chefe disse estas palavras ao menino:
— Veja o senhor inglês do estrangeiro.
O menino disse:
— Estou vendo.
O indiano disse:
— É pela estrada para esta casa, e por nenhuma outra, que o cavalheiro inglês vai passar hoje?
O menino disse:
— É pela estrada para esta casa, e por nenhuma outra, que o cavalheiro inglês vai passar hoje.
O indiano fez uma segunda pergunta — não sem antes esperar um pouco. Ele disse:
— O cavalheiro inglês está com Ele?
O menino respondeu — não sem antes esperar um pouco também:
— Sim.
O indiano fez uma terceira e última pergunta:
— O cavalheiro inglês chegará aqui ao final do dia, como prometeu fazer?
O menino disse:
— Não sei dizer.
O indiano perguntou por quê. O menino disse:
— Estou cansado. A bruma se espalha pela minha cabeça e me confunde. Não posso ver mais nada hoje.
Com isso, a missa terminava. O indiano chefe disse algo em sua própria língua para os outros dois, apontando para o menino e apontando em direção à cidade, onde (como descobrimos mais tarde) eles estavam hospedados. Então, depois de fazer mais gestos acima da cabeça do menino, soprou em sua testa, despertando-o subitamente. Depois disso, todos seguiram seu caminho em direção à cidade, e as garotas não os viram mais.
A maioria das coisas que se dizem tem uma moral, basta procurar.
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