A Pequena Sereia Read Online
A Pequena Sereia (Contos de Andersen)
CONTOS DE
ANDERSEN
A PEQUENA SEREIA
Longe, bem longe, nas profundezas do mar, a água é de um azul intenso, mas muito clara e transparente. No local mais profundo ficava o palácio do Rei do Mar. Ele era viúvo havia muitos anos, e sua velha mãezinha cuidava de tudo na casa.
O rei tinha seis filhas, as princesinhas do mar, uma mais linda que a outra. Contudo, a mais nova era a mais bela. Sua voz suave e afinada encantava a todos que a ouviam. Seu corpo, assim como o de suas irmãs, terminava num rabo de peixe.
Durante todo o dia as princesas brincavam no palácio, onde flores cresciam nas paredes. As grandes janelas ficavam abertas para que os peixes pudessem entrar e sair. Eles nadavam até as princesinhas, comiam em suas mãos e deixavam-se acariciar.
A avó das princesas gostava de contar histórias, e as de maior sucesso eram as que falavam do mundo dos humanos.
A Pequena Sereia era a que mais gostava de ouvir histórias sobre o mundo dos humanos.
– No seu décimo quinto aniversário – prometeu a velha rainha – você poderá nadar até a superfície.
As irmãs da princesa subiam à superfície quando completavam quinze anos. Quando voltavam, contavam tudo o que viam. As luzes das cidades, as torres das igrejas, os pássaros voando em bando, as crianças nadando na praia, as casas rodeadas de árvores carregadas de frutos. O céu estrelado nas noites de lua, os golfinhos dando cambalhotas e as baleias esguichando água como chafarizes. No inverno, o céu ficava escuro e icebergs de todas as formas vagavam no mar sem fim.
Um dia, finalmente, a princesa mais jovem completou quinze anos. Chegara o momento de ver aquelas maravilhas!
A velha rainha, sua avó, colocou uma grinalda de lírios brancos em sua cabeça, e a sereiazinha acenou alegremente enquanto subia à superfície.
Chegando à superfície, a Pequena Sereia avistou um grande navio, onde se realizava uma festa. O convés estava tão bem iluminado que ela viu um jovem príncipe. E como ele era bonito! Inesperadamente, começou uma terrível tempestade! Relâmpagos rasgaram a noite, as águas encresparam, e o navio sacudiu de um lado para outro. Até que seu grande mastro se partiu e a embarcação começou a afundar. Nesse instante, a sereiazinha avistou o Príncipe sendo jogado entre as ondas sem conseguir nadar. Ela o alcançou e, erguendo a cabeça do rapaz acima da água, deixou que o mar o levasse para perto da praia.
Quando amanheceu, a Pequena Sereia nadou até a praia e deitou o Príncipe sobre a areia. De repente, sinos de uma igreja próxima repicaram e várias garotas correram para a praia. A sereiazinha se escondeu e viu quando uma delas encontrou o Príncipe na areia. Nesse momento, ele abriu os olhos e sorriu para ela. As jovens o levaram embora, e a sereiazinha voltou para o palácio.
A partir daquele dia, a sereiazinha se tornou triste e quieta. Às vezes nadava pelo mar até o local onde tinha deixado o Príncipe. Mas não o viu mais.
Certo dia, ela não aguentou o sofrimento e contou tudo a suas irmãs.
– Venha, irmãzinha! – disseram as princesas. Abraçadas, elas emergiram em frente ao castelo do Príncipe.
Depois que a sereiazinha ficou sabendo onde o Príncipe morava, voltava sempre ao castelo e conseguia vê-lo de longe. Estava feliz por ter salvado a vida dele, mas ao mesmo tempo estava triste, porque o Príncipe não sabia da sua existência.
A Pequena Sereia começou a gostar cada vez mais dos humanos. Decidiu, então, falar com sua avó, que lhe explicou que os humanos tinham uma alma imortal. Depois da morte, essa alma subia em direção às estrelas e seguia para lugares maravilhosos e desconhecidos, que o povo do mar nunca veria.
– Por que nós não temos uma alma eterna? – perguntou a Pequena Sereia. – Eu daria os meus trezentos anos de vida por apenas um dia entre os humanos e a chance de conhecer esse mundo celestial! O que eu posso fazer para ganhar uma alma eterna, vovó?
– Só existe um modo – respondeu a senhora. – Se um homem se apaixonar por você.
A princesinha sorriu, pensando em seu príncipe.
– No momento em que se casarem – continuou a avó – a alma dele fluirá para o seu corpo, e você ficará plena de felicidade.
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