Grice, o camareiro, até o próprio Ridley. Poucos minutos depois Rachel passou pelo salão de fumar e encontrou Helen movendo poltronas. Estava absorta em seus arranjos e vendo Rachel, comentou confidencialmente:

– Se se pode dar aos homens um quarto só deles, tudo é lucro. Poltronas são as coisas importantes... – ela começou a empurrá-las por ali. – Agora isso ainda parece um bar numa estação ferroviária?

Ela arrancou uma toalha de veludo de cima de uma mesa. A aparência do local melhorou incrivelmente.

Mais uma vez, a chegada dos estranhos tornou evidente para Rachel, quando se aproximava a hora do jantar,que precisava trocar de vestido, e o toque do sino grande a encontrou sentada à beira de sua cama numa posição em que o pequeno espelho sobre a pia refletia sua cabeça e seus ombros. No espelho ela tinha uma expressão de melancolia tensa, pois chegara à conclusão deprimente,desde a chegada dos Dalloway, de que seu rosto não era o que queria, e muito provavelmente jamais seria.

Porém a pontualidade lhe fora bem ensinada e, não importava o rosto que possuísse, tinha de ir ao jantar.

Willoughby usara aqueles poucos minutos descrevendo para os Dalloway pessoas que iriam encontrar, e contando-as nos dedos.

– Há o meu cunhado, Ambrose, o intelectual (suponho que ouviram falar nele), sua esposa, meu velho amigo Pepper, um homem muito quieto, mas que sabe tudo, segundo dizem. E é só. Somos um grupo muito pequeno.Vou deixá-los na costa.

Mrs. Dalloway, com a cabeça um pouco inclinada, fez

o possível para lembrar-se de Ambrose – isso era sobrenome? – mas não conseguiu. Ficara um pouco insegura com o que tinha ouvido. Sabia que intelectuais se casavam com qualquer uma – moças que encontravam em fazendas em grupos de leitura, ou mulherezinhas suburbanas que diziam com jeito desagradável: “Claro que sei que é meu marido que a senhora deseja; não a mim”.

Mas Helen entrou nesse momento e Mrs. Dallowayviu com alívio que embora de aparência levemente excêntrica ela não era relaxada, tinha boa postura e suavoz era contida, o que julgava ser característica de umadama. Mr. Pepper não se dera ao trabalho de trocar seufeio terno.

“Mas afinal”, pensou Clarissa enquanto seguia Vinrace para o jantar, “todo mundo é interessante de verdade”.

À mesa, ela precisou reassegurar-se um pouco mais disso, especialmente por causa de Ridley, que veio tarde,decididamente desalinhado, e tomava sua sopa num ar profundamente sombrio.

Um sinal imperceptível passou entre marido e mulher,significando que entendiam a situação e ficariam juntos comlealdade mútua. Quase sem intervalo, Mrs. Dalloway virouse para Willoughby e começou:

– O que acho tão cansativo no mar é que não há flores.Imagine campos de malvas-rosa e de violetas no meio do oceano! Que divino!

– Mas um tanto perigoso para a navegação – trovejou Richard, grave, como o fagote para o floreado violino da esposa. – Ora, sargaços podem ser muito prejudiciais, não podem, Vinrace? Recordo-me de uma travessia no Mauretania certa vez e de dizer ao capitão... Richards...você o conheceu... ? “Agora me diga que perigos realmente mais teme para o seu navio, capitão Richards?” esperando que ele dissesse icebergs, ou restos de naufrágios,ou nevoeiro, ou coisa assim. Nada disso. Sempre lembro a resposta dele. Sedgius aquatici, disse ele, o que imagino que seja uma espécie de alga marinha.Mr. Pepper ergueu os olhos bruscamente, estava por fazer uma pergunta quando Willoughby continuou:

– Eles passaram por maus bocados... esses capitães! Três mil almas a bordo!

– Sim,é verdade – disse Clarissa.Virou-se para Helencom ar de quem diz algo profundo – Estou convencidade que as pessoas estão erradas quando dizem que é otrabalho que acaba com a gente; é a responsabilidade. É por isso que se paga mais à cozinheira do que à copeira,eu acho.

– Nesse sentido, deveria se pagar dobrado a uma babá;mas não se paga – disse Helen.

– Não, mas imagine que alegria lidar com bebês em vez de panelas! – disse Mrs. Dalloway, olhando com mais interesse para Helen, uma provável mãe.– Eu preferiria ser cozinheira a babá – disse Helen. – Nada me faria cuidar de crianças.

– Mães sempre exageram – disse Ridley. – Uma criança bem criada não é responsabilidade.